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Capítulo 8-*A força para mudar*

Quando ainda vivia na Terra, Sergian era obrigado a praticar exaustivos exercícios nas aulas de educação física, fato que nunca havia gostado. Mas de forma alguma aquele tempo se comparava ao primeiro dia de treinamento para ser escudeiro, ou até mesmo a primeira hora daquela sufocante manhã. Já não bastasse estar com as costelas doloridas por causa da vergonhosa batalha contra Sezin, ainda teve que subir e descer as longas escadarias três vezes, praticar movimentos de defesa com seu escudo por horas, aprender táticas de cavalaria e novamente, subir escadas. Pelo fato de ser o mais lento e sempre ficar em último por uma boa distância, já tinha até um apelido mesmo sendo muito cedo para se ter um. Pelo que tinha ouvido era chamado de algo como "cachorro morto", pois não tinha nenhum vigor físico e podia ser comparado a um animal em estado de decomposição. Porém para ele era melhor ter a aparência em estado de decomposição do que o cérebro. Mas não revelou esse pensamento, nunca revelava.

Como havia prometido, Guts estava sendo mais rígido com ele e Diego do que com os outros recrutas. Se falhassem em algum exercício tinham que fazer flexões a mais, se respondessem de forma malcriada, davam voltas na cidade, se fizessem corpo mole, poderiam ficar sem comer. Mas tudo isso só atrapalhava a Sergian, pois Diego tinha um condicionamento físico incomum que o destacava em todas as atividades. Quando corria era o primeiro, seguido de perto por Sezin que inutilmente se esforçava em tentar ultrapassá-lo. Ao praticar golpes com a espada, o fazia o dobro de vezes, mesmo não havendo muita técnica. Porém Sergian sabia que todo aquele esforço era apenas uma máscara. Pelo que podia sentir, o companheiro estava humilhado por ter perdido a batalha e aquela era a forma dele tentar esquecer. Mas isso era algo que não deveria pensar naquele momento, pois já eram quase oito horas da noite e estava por completar mais três cansativas voltas na cidade, que era uma punição por acharem que tinha feito corpo mole, quando na verdade estava somente tentando recuperar o fôlego.

Quando subia as escadas e chegava ao vão de treinamento, nota que as únicas pessoas que estavam presentes eram o general Guts, Dave, Ângela e Diego. Pelo visto tinha demorado tanto para realizar o percurso que todos os outros recrutas já tinham ido embora. Exausto e sentindo faltar o ar, o garoto logo se senta no chão dizendo ofegante:

____Desculpem a... demora. Eu... não aguento dar... mais nenhum passo. Por hoje... isso tem que bastar.

O general mexe na fina ponta do bigode insatisfeito e se aproxima o fitando de forma crítica:

____Me responda, moleque, como você conseguiu ser o mais lento em todos os exercícios? É difícil acreditar que exista alguém tão ruim assim! Porém devo ressaltar que nas questões táticas foi o melhor, fato que certamente não acontece a todo o momento. Mas isso não é suficiente para se tornar um guerreiro! Um cavaleiro deve ser bom em tudo, tanto no planejamento de seus ataques quanto na força física para executá-los. Por isso amanhã pegarei mais pesado no treinamento. No mínimo três vezes mais pesado!

O general se volta para Diego, que o encara de volta em desafio:

____Eu não sei de onde tiram tanta petulância, mas isso não vem ao caso agora. Amanhã quero vocês dois neste local duas horas mais cedo que todos os outros. Vou treiná-los separadamente de uma forma que vocês iriam preferir a morte!

Sergian questionaria aquela decisão se pudesse falar, até porque com o cansaço que estava a morte não parecia estar muito longe. Já Diego se mostra firme ao responder:

____Então amanhã às quatro horas estaremos aqui! Por isso vê se não se atrasa colocando essa lata toda, pode ser, velho?

O general torce a boca ao ouvir a insolência, mas logo sorri novamente, entendendo a infantil provocação: