Capítulo 20-*Reclusão*

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Se passavam cinco dias desde que Sergian e Ângela haviam conseguido o cassino como abrigo. Não gostavam daquele local, pois existia ali um misto de sentimentos ruins que era quase palpável, mas não tinham alternativa a não ser ficar e cooperar com o estranho desejo do dono. Como estavam sendo perseguidos por toda cidade não podiam se arriscar a sair, e se o faziam era Ângela quem procurava por Diego e Dave. Sergian queria ajudar, mas seria encontrado facilmente por causa da cicatriz, e se a cobrisse pareceria mais suspeito ainda. Porém mesmo com a procura nada de expressivo acontecera naqueles cinco angustiantes dias; a falta de informação era sufocante.

Enquanto se hospedavam ali, ensinavam a Hangot técnicas de ladinagem. As lições que a garota dava deixavam Sergian boquiaberto, pois nunca tinha imaginado que ela poderia ser tão furtiva. Para as madrugadas de treinamento usavam a principal sala de jogos do cassino, que era mais espaçosa e tinha objetos para se esconder e afanar. Nas práticas Ângela fazia movimentos como rolar no chão sem fazer barulho ou até mesmo se mover silenciosamente entre as poucas sombras do local e Hangot logo copiava, aprendendo de fato muito rápido. Porém havia algo nele que o garoto não gostava, mas não conseguia ler suas motivações e por isso não sabia como agir.

No sexto dia Sergian toma mais um banho na luxuosa banheira do cassino e volta novamente para o depósito de máquinas velhas que improvisavam como quarto. Agora o lugar tinha dois colchões de ar muito confortáveis e uma pequena mesa de metal para que pudessem comer, algo que ele não fazia muita questão, mas que sua companheira tinha adorado. Vestindo a jaqueta branca, nota que Ângela não estava presente e ao olhar para o próprio colchonete vê um pequeno bilhete com a redonda letra da garota:

"Fui procurar por informações e volto em breve. Devo trazer comida."

Ele tinha percebido algo estranho e bom naqueles seis dias confinados. Por mais que Ângela fosse durona e mal encarada, tinha um lado muito sensível que se preocupava de verdade. Nos dias em que ficaram ali ela arrumava tudo como se estivesse tomando conta dele, sempre perguntando se tinha fome, sede ou até mesmo se estava com frio à noite; tinha que admitir, era maravilhoso uma mulher tão linda se importar com ele. Ao olhar para uma das máquinas à sua direita, vê seu reflexo no vidro quebrado. Seu cabelo estava um pouco maior e suas feições se tornaram brevemente mais maduras, mas ainda era difícil encarar aquela marca; assim que pudesse iria arranjar uma maneira de removê-la. Imerso em doloridas lembranças, não nota que a garota entrava com várias sacolas na mão:

____Voltei! Trouxe uns pães pretos que nem aqueles lá de Íkios e um pouco de refrigerante de uva. Com a grana que o anão deu pra gente, ficar os trinta dias aqui vai ser mole. Ah é, tá nevando na cidade, mas a neve não é gelada, não. Estranho, não é?

Despertando de uma vez, Sergian a observa por um breve momento, admirando a blusa preta de manga comprida que se encaixava perfeitamente ao seu belo corpo. Ela tinha o cabelo à frente do rosto de maneira a esconder sua identidade, mas de alguma forma aquele simples penteado estava especial. Notando seu olhar, a garota logo pergunta com estranheza:

____Quê que foi? Tem alguma coisa estranha em mim?

Em gaguejos, ele responde de imediato:

____Nã...não, tem nada não. Como foi a busca? Encontrou algum dos dois?

Cansada, Ângela se joga no colchão:

____Nem uma poeira! Uma merda esse lance de ficar escondido e não ter nada além do que passam na TV daqui, que eu já digo que tem uma programação horrível.

Aquilo o preocupava; onde estariam Dave e Diego? As imagens que eram divulgadas por toda a cidade era a de que todos os procurados estavam foragidos. Porém a informação que mais mostravam era a de que o Fantasma de Altarnia estava na cidade e que era muito importante não irritá-lo o evitando de todas as formas possíveis. Não sabia por que, mas sentia que apenas ouvir aquele título o deixava temeroso, inseguro. Pegando um dos pães na sacola e dando uma vigorosa mordida, pergunta:

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