II

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- Vai, Carla, diga que sim. Diga que vai para a praia conosco.
- Não sei ainda, preciso falar com meus pais.
- Ah, eles deixam. Seu Antônio e dona Carmem são legais. Eu falo com eles se for o caso. Mais diz que vai.
- Tudo bem, se eles deixarem eu vou.
- Oba!

Marisa era assim mesmo. Compulsiva ao extremo. Tudo tinha de ser jeito dela. Quando invocava com uma coisa, não tirava da cabeça.
Invocou que eu tinha de passar as férias com ela na casa de praia da família. Era minha melhor amiga. Estudávamos juntas no mesmo colégio e na mesma sala.

Foi difícil convencer meus país. Eles gostavam de Marisa e confiavam nela; no entanto, era preciso mais que isso para que eles me deixassem ir. Eu, a única filha, nascida de um parto difícil que impossibilitou minha mãe de engravidar novamente. E que há pouco tempo usava Maria- Chiquinha no cabelo. E ia para a igreja todos os domingos com eles.
Os dois eram muito zelosos. Temiam o mundo lá fora e a reação desse mundo para comigo. Dava até a impressão que eu era uma genuína porcelana chinesa.
Foram dias de luta e choro. Eles não cediam. Diziam que eu era ainda muito jovem para ficar tanto tempo fora, uma praia numa ilha distante. Eu insistia com eles, dizia que já era bem crescida, apesar dos meus 1,60m e corpo de menina de doze. Mesmo assim eles resistiram. Lembrei a eles que já tinha dezessete, completados no mês passado. Nada.
Foi então que Marco entrou na história. Irmão mais velho de Marisa, ele foi em casa e jurou de pés juntos que cuidaria de mim. Assim foi mais fácil. Marco era uma espécie de braço direito, de papai que era diretor jurídico de uma grande empresa. Ele era estudante de direito, fazia o quarto ano. A pedido do pai dele, que era muito amigo de papai, Marco foo fazer estágio na empresa. Acabou conquistando a confiança do velho que o achava um menino exemplar...
Assim, depois de muita recomendação, arrumei minhas coisas e contei as horas para a viagem.
Era a primeira vez que saía de casa sozinha, sem meus pais. Isso me deu uma sensação de liberdade até então nunca experimentar.
Um dia antes da viagem, fui para casa de Marisa. Ia dormir lá. No dia seguinte sairíamos bem cedo. Lá encontrei Joana, que também estudava comigo e fazia parte da turma e Piera, uma garota alta, de olhos azuis e cabelos loros cacheados. Estudava na mesma escola, mas não na mesma sala e não e nao fazia parte da turma. Cheguei a vê-lá algumas vezes no pátio. Sempre sozinha e calada. Achava-a esquisita. Não entendi por que ela ia conosco. Enfim...
O carro ia a cento e vinte por hora e de vez em quando eu metia a cara fora da janela. Quase ficava sufocada, não sei se pelo vento que batia no meu rosto ou pela liberdade que parecia demasiada para mim. Dentro do carro, rolava o som do Tim Maia, que Marco parecia adorar. No bando da frente Marisa lhe fazia companhia. Comportava-se como uma verdadeira adulta. Quieta, serena, falando apenas quando perguntada. Não era a mesma que eu estava acostumada a ver na escola e nos shoppings.
Atrás, espremidas, eu estava de uma lado de uma porta, Joana do outro e Piera entre nós duas. Ela usava uma saia bem curta. Não pude deixar de reparar que ela era muito bonita. Marco que o diga. Notei que ele nao tirava os olhos do retrovisor interno que ia direto no rosto dela.

- Quer um cigarro? - perguntou-me Marco, notando que eu. percebera.

Ele tinha uma expressão séria. Não gostava de rir nem de fazer piadas.
Resolvi aceitar apesar de não gostar de fumar e me lembrar sempre dos discursos inflamados de papai sobre o triste hábito de ser tabagista. Mas, como Joana também aceitou, resolvi entrar no embala.
já no primeiro trago o meu estômago reagiu ponto comecei a enjoar e a ficar tonta. Pensei em jogar o cigarro fora . Olhei para as duas que fumavam tranquilamente. Comigo então não podia ser diferente. Fumei até o Fim jogamos juntas o resto do cigarro já perto do filtro. Parecia uma competição onde aparentemente houve um empate. Só que eu estava pedindo Água, completamente arrependida de ter ingerido toda aquela fumaça amarga.
Depois de uma breve parada, onde aproveitei para vomitar, seguimos viagem e o mar, surgindo na minha frente foi algo inesquecível. Faltava apenas ter um namorado ali, do meu lado para que eu pudesse ficar beijando enquanto os meu olhos se enchiam com aquela água brilhando diante de um sol espetacular. Fiquei com vontade de gritar e gritei.

Os caminhos de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora