VI

54 3 1
                                    

     Marco tinha saído. Acho que se cansara de ficar ali. Já começava a escurecer, porém o calor se mantinha firme e forte. Piera veio em nossa direção depois de se despedir de Marco. Passou por um rapaz que não deixou de falar uma gracinha no seu ouvido. Ela passou por ele sem lhe dar atenção. Ele parou e ficou olhando para ela que se afastava.

     - Fala, Piera: o que você achou daquele garoto te olhando? - Perguntou Joana
     - Já vi melhor. Já estive com melhores.
     - Não acredito! - exclamou  Marisa que não perdia a chance de se meter em conversas alheias. - Me fala uma coisa, você ainda é?
     - O quê? - perguntou Piera, séria.
     - Ah! Você sabe.
     - Ela quer saber se você é virgem, sua tonta! - resmungou Joana dando um empurrão nela.
     Estávamos ainda na praia, prontas para voltarmos para casa. O dia chegava ao fim.
     - Eu só tenho dezessete anos. Vocês não acham que sou muito nova...?
     Todas deram risadas. Inclusive eu. Achei engraçado o jeito que ela falou. Fez cara de anjo e tudo mais.
     - Não acredito que você seja virgem. Se lembra dos amassos no corredor escuro da escola com Jorginho? - provocou Marisa.
     - Como se eu fosse a única a freqüentar o corredor escuro da escola. A Joana vivia lá com seus vários namorados.
     - Eu não. Quem vivia passeando por lá era a Carla - defendeu-se ela.
     - Pode parar! - gritei. - Não me meta nos meio dessa história. Tchau! Estou fora!
     Afastei-me delas e me meti no meio das pedras. Não estava querendo conversa. Às vezes aquele tipo de conversa me irritava. E elas sabiam disso. Não que eu fosse moralista ou coisa parecida, mas não me sentia á vontade para falar de sexo.
     Tínhamos, as quatro, a mesma idade, os mesmo sonhos e os mesmos desejos; e mais, éramos todas virgens. Meninas burguesas, alegres, românticas; pelo menos eu imaginava isso.
     Sentei-me numa pedra e fiquei olhando as três, distantes, jogando água umas nas outras. Marisa era a mais alta. Joana era negra, de cabelo escorrido dando nos ombros, era meio gordinha, mas isso não parecia ser um problema para ela. Já Piera era filha de italianos. Cabelo loiro olhos verdes e Nariz adunco. Todas elas se contrapunham ao sol que ia indo deixando um rastro amarelo no mar. Naquele momento, minhas amigas pareciam parte da natureza daquela ilha.
     Olhei os barcos passando, silenciosos e tranqüilos como o vento. Alguns coloridos, de maneira, e outros brancos, de fibra e vidro, mostrando que o luxo não está só em terra. Todos se recolhiam depois de um dia de trabalho ou simplesmente, passeio. Ali , no mar, a noite era feita para descansar. Até os peixes dormiam...

Os caminhos de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora