XVI

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     - Acorda, preguiçosa! Acorda!
     Abri os olhos com o sol batendo diretamente neles. Na cabeça parecia que eu carregava uma pedra bem pesada.
     - Vá merda, Joana! Me deixe dormir!
     - É quase meio-dia. O dia está lindo. E tem uma piscina maravilhosa lá fora nos esperando.
     - Quero dormir.
     - Vai dormir coisa nenhuma. Acorda! Anda! - gritou ela puxando a coberta, tirando o travesseiro.
     Rendi-me aos apelos dela. Pulei da cama. Olhei pela janela e vi que o dia estava mesmo maravilhoso. Dali da janela eu via a piscina. Marisa brincava na água enquanto Piera se bronzeava, lendo uma revista.
     - Você vai para piscina?
     - Vou - respondi tirando o pijama e entrando num biquíni que eu nem sabia ao certo se era meu. Enfim, ele me serviu.
     Fui ao banheiro com a escova e pasta de dente, louca para me livrar da boca de ontem. Lá, enquanto me olhava no espelho, tentava me lembrar da noite passada. Tudo parecia tão distante, tão fantasioso. Jurei ali mesmo, diante do espelho, com a boca cheia de espuma, que nunca mais iria por uma gota de álcool na boca.
     Na cozinha um café da manhã improvisado estava sobre a mesa. Pão, presunto, manteiga e um café de gosto duvidoso meu estômago embrulhou, então sai dali rapidinho. Quando passava pela porta dei de cara com uma mulher clara, esguia, de seios fartos, nádegas caídas, metida num biquíni dois números menor. Ela sorriu para mim e me comprimentou. Eu apenas arreganhei os dentes, sem muita vontade de falar. Ela não me é estranha. Ainda tinha na cabeça a lembrança dos gemidos na sala. Só podia ser ela.
     Marco fazia batida no barzinho que ficava no canto da sala. Quando me viu, sorriu e me saudou. Fiquei com vontade de perguntar sobre a cena de amor durante a madrugada na sala. Imagina se eu teria coragem! Então fiquei ali olhando para ele que, distraidamente, fazia a mistura de suco de fruta com caninha. Olhei de volta tentando imaginar onde se passara tão tórrida da cena de amor. No sofá? No chão? Sobre a mesinha de centro? Sobre o bar?
     - Está procurando alguma coisa?
     - Não - respondi, levando um susto. Não imaginei que ele me olhava. - só estou pensando.
     Ele sorriu e voltou, como alquimista, a medir suas porções. Marco era assim mesmo, quando menos esperávamos, ele estava com seus olhos atentos sobre nós. Tinha 22 anos, aparentava mais, uns 25 talvez. Era tido como um bom menino obediente sério. Pelo menos, assim era o conceito dele com os pais. Mais, se eles tivessem presenciado e ouvido o que eu ouvi, o conceito dele cairia um pouco. Não era muito dado a brincadeiras. Talvez porque cursava direito numa das faculdades mais conceituadas do país.
     - Amor, você está aí? Vamos lá para piscina, a água está uma delícia.
     A Vênus deusa do Amor, como viemos a chamá-la mais tarde - entrou. Não sei se o que entrou primeiro foram os peitos ou as ancas. Bem isso depende do ponto de vista, ou do ponto de entrada. Sei que ela entrou e foi logo grudando no Marco. Saí de mansinho, indo para piscina.
     - Puxa vida! Pensei que você não viesse mais! - berrou Marisa, saindo da piscina - senta aqui do meu lado que eu quero te contar uma coisa.
     Sentei-me. Não foi difícil imaginar que seria uma fofoca. E a respeito de quem.
     - Você viu a Vênus que o meu irmão arrumou?
     - Não acho que seja uma Vênus - rebati, apenas para criar mais assunto e ele não morrer ali.
     - O que?! Olhe lá! Eles estão vindo para cá. Repare nela.
     Os dois vieram abraçados. Cada um com um copo de batida na mão. Passaram por nós. Até Joana baixou os óculos para ver. Só Piera, que estava ligada na revista, não deu bola. Parecia chateada. Os dois foram para o outro lado da piscina, conversavam animadamente.
     - Viu ? - continuou Marisa.
     - Viu o quê?
     - Ela já deu. Não é mais virgem.
     - E como você chegou a essa conclusão? - perguntei, pensando não ser a única que ouvira os gemidos dela durante a madrugada.
     - Mas você é tonta mesmo. Pelo andar.
     - Pelo andar?
     - Claro. Vai dizer que você não sabia? Quando a mulher perde a virgindade ela muda o jeito de andar.
     - Mas o que tem haver o andar com aquilo? - indaguei, querendo saber realmente se aquilo procedia.
     - Não sei ao certo. Você sabe que não sou filósofa. Mas que é verdade, é. Pode reparar no jeito dela andar e nos dê outra moça decente. É diferente.
     - Será mesmo ?
     - Quer fazer uma experiência ? Joana, dá uma andada por aí.
     - Pra que? - resmungou Joana.
     - Nada. Não precisa. O seu também já foi para o espaço. Mas presta atenção em mim - levantou e caminhou rebolando de forma discreta. Voltou e sentou-se novamente do meu lado. - notou a diferença?
     - O que você quer dizer é que você é virgem e seu andar é diferente?
     - Evidente. Claro. Reparou que eu tenho mais firmeza no andar?
     - Não seriam os de seus 16 anos?
     - 17.
     - Isso. Mas não seria isso? Quer dizer, você é mais nova que ela. Tem menos quilometragem, Entende ?
     - Não fale bobagem. Eu ando de um jeito, ela de outro. Simplesmente porque eu sou virgem e ela não.
     - Por enquanto - cortou Joana.
     - Isso mesmo. Por enquanto - concordou Marisa.
     - O quê?! Você está pensando em perder a virgindade?
     - Estou. No mês que vem.
     - Quero que você me conte tudinho. Em detalhes - falei empolgada.
     - Ah não! Primeiro ela vai contar para mim. Em primeira mão - protestou Joana.
     - Eu conto para as duas. Em primeira mão. Está bem assim? Não vamos brigar por causa disso.
     A conversa transcorreu dessa forma. De vez em quando eu entrava na água, voltava e tomava sol. Ficávamos as quatro de um lado e o casal de pombinhos do outro. Não tive coragem de contar sobre eles para as meninas. Isso porque eu sempre achei essas coisas de amor muito íntimas, e não se deve discutir com ninguém.

Os caminhos de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora