VIII

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     - Quem vai tomar banho agora? - perguntou Joana.
     - Eu! - respondi, pegando minha toalha.
     O banheiro não era grande, mas tinha um espelho que tomava conta de toda uma parede. Tirei o biquíni e fiquei nua. Estranho se ver pelada diante do espelho. Ou ele é tão verdadeiro, mas tão verdadeiro, que chega a agredir nossos olhos, ou ele é falso, mentiroso, daí ficamos com vontade de agredi-lo. Foi assim que me senti diante dele. Meu cabelo negro estava espigado. Minha pele clara estava vermelha, típica de quem quase nunca tomava sol. Virei para um lado depois para o outro. Estava tudo do lugar. Mas eu não me via bonita; pior, eu não me sentia bonita.
     Vesti um vestido claro, curto, de alça fina e prendi o cabelo. Maquiagem no rosto e brinco na orelha. Depois de quase uma hora nos arrumando, saímos. A vila tinha lá seu movimento próprio de jovens garotos com cara de rebeldes. Uma rua, que ele eles chamavam de rua do meio, era a mais movimentada. Diziam que ainda era cedo, por isso a rua não estava completamente tomada. Alguns garotos circulavam por lá com seus copos de cerveja na mão. Marco tinha sumido. Havia prometido para os seus país, principalmente para os meus, que cuidaria da gente. Mentira. Desde que chegamos à ilha, ele simplesmente nos ignorou. Trocou alguns olhares e conversas mais íntimas com Piera. Nada mais. Achei ótimo. Não queria nenhum rapaz mais velho bancando a ama-seca comigo.
     Chegamos ao trapiche. O bar ainda estava vazio. As pessoas entravam e saíam sem ocupar mesas. Ocupamos uma mesa que ficava perto da rua, diante da sorveteria. Paulinho veio nos receber. Eu ainda não o conhecia. Só Marisa. Pareciam muito íntimos. Abraçaram-se; beijaram-se.
     Paulinho era um senhor de seus cinquenta anos, alto, corpo esguio e pele queimada. Cabelo curto, loiro e olhos verdes. Usava bermuda, sem camisa, e andava descalço. Sorria demostrando toda a sua simpatia e dentes brilhantes e perfeitos.
     - Paulinho, estas são minhas amigas: Piera, Joana e Carla.
     Ele fez questão de pegar na mão de cada uma. Uma mão grossa, viril. Além de trabalhar no trapiche, que era seu único patrimônio, ele gostava de sair para pescar no Dragão, um barco não muito grande, conhecido por ser o melhor barco de pesca da região. Isso ele mesmo fez questão de contar.
     - Cadê sua família? Seu pai, sua mãe, seu irmão? - Perguntou ele.
     - Não vieram. Só o Marco, que deve estar perdido por aí.
     - Daqui a pouco então ele aparece por aqui. O que vocês querem beber?
     - Adivinha? Perguntou Marisa, com olhar sem-vergonha.
     - Tem alguém maior de idade entre vocês?
     - Somos todas maiores... - respondeu Piera, sorrindo. - Maiores de um metro e sessenta.
     Todas rimos. Ele também.
     - Vou trazer cerveja para vocês, mas é melhor entrarem, não ficarem aí nas mesas de fora. É perigoso o juiz de menores passar por aqui. Daí vocês sabem o rolo que vai dar.
     Concordamos. Entramos e nos sentamos numa mesa logo perto do balcão. Era ruim porque não dava para ver o movimento da rua que começava a aumentar. Mas era o preço de ser menos e querer beber.
     O som foi ligado. Dentro e fora as caixas de som começavam a tocar músicas de embalo. A cerveja chegou. Confesso que não estava acostumada a beber. Mas o calor, o ambiente, tudo favorecia um gole, depois outro e outro. Aquilo me fazia mais gente, mais adulta, mais parte de tudo.

Os caminhos de CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora