7 - Lamento

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— Bom dia Alice!

— Vai ser o mesmo? - ela saí do balcão para me cumprimentar.

— Hoje fico só pelo café. - Estou naqueles dias em que a paciência está escassa.

— Que carinha é essa?

— Nada, apenas o meu ego que está magoado.

-— Resumindo é um homem acertei? - Reviro os olhos com a sua descoberta.

— Talvez! Como está o teu pai?

— Eu não sei, por vezes melhor outras vezes pior e eu não poso fazer nada!

— Lamento! - bebo o café, pago e saio porque a cafetaria está cheia e Alice não para, coitada.

Na rua coloco os óculos de sol, eles permitem- me disfarçar o meu olhar que recai sobre Kane que sai do carro, passo na farmácia para levantar a receita dos comprimidos para os diabetes do meu avô e vou para casa, passo o dia a ouvir música e a ler, até o meu avô veio perguntar se estava tudo bem. Quinta não saí de casa e na sexta o meu irmão viria para passar o fim de semana, saio de casa cedo com a carrinha do avô para buscar os pneus que encomendei, depois de os colocar na traseira da carrinha oiço a voz de problemas...

— Bom dia Angel.

— Bom dia George.

— Toma, aposta no melhor! - ele entrega-me um envelope cheio de notas.

— E depois?

— Depois passas pelo posto de gasolina e entregas o envelope com o meu lucro para a loira que está no balcão.

— Ok. - Guardo o envelope e viro costas.

— Só isso? - Ele esperava o quê? Um convite para jantar?

— Lamento mas eu sei escolher as minhas companhias e nelas não há espaço para polícias corruptos.

— Não voltes a repetir isso! - Ele encosta o meu corpo na carrinha apontando o dedo na minha cara em sinal de ameaça.

— Interrompo? - a voz de Kane vem de trás de George.

— Está tudo bem! - George afasta-se - Até depois lindinha.

— O que é que ele queria?

— Nada que te diga respeito! - entro na carrinha mas ele impede que eu feche a porta.

— George não é de confiança.

— Acredita Kane que eu sei disso!

Dou partida na carrinha e vou para casa onde arrumo os pneus na garagem, ajudei o avô com o almoço e comemos tranquilamente no exterior. O meu telemóvel toca...

— Tudo bem Alice?

— Angel... - Ela está a chorar.

— O que foi Alice?

— O meu pai ele foi para o Hospital e eu estou preocupada.

—  Diz-me onde estás. - Ela não para de chorar coitada.

— Na cafetaria, foi o meu irmão que me avisou; ele está lá com ele.

— Fecha tudo que eu vou passar aí para te levar até ao hospital.

— Obrigado Angel.

Foi só o tempo de avisar o avô e pegar no meu carro, Alice estava à minha espera com os olhos vermelhos de chorar. No caminho até ao hospital tentei fazer de tudo para acalmar mas nada funcionou, pelo que percebi o pai de Alice sempre bebeu demasiado e as consequências disso estavam a vista, deixei ela na porta e fui estacionar o carro, aproveitei também para avisar Brandon do que aconteceu. Quando cheguei à receção Alice estava à minha espera, ao que parece o seu irmão aproveitou a sua chegada para ir tratar de assuntos de trabalho. Já são sias da tarde, Alice só comeu uma sandwich, foi o máximo que consegui, o seu pai está num quarto ligado a várias máquinas e eu estou na cadeira do seu lado de mãos dadas com a minha amiga quando no meu telemóvel surge uma mensagem de Brandon a dizer que já tinha chegado. Com relutância consegui levá-la até lá fora, o meu irmão estava com um fato que lhe dá um ar de advogado durão, nas mãos tinha um ramo de flores, quando Alice o vê corre para o abraçar e chora nos seus braços, fiquei um pouco distante para lhes dar privacidade...

— Alice quem é esse? - Kane grita.

— Kane este é Brandon meu amigo! - mas que raio, porque Alice lhe deve satisfações?

— Sou Brandon amigo de Alice e irmão da Angel. - Parece que só agora ele dá pela minha presença.

— Irmão? - ele olha para nós e então decide por fim esticar a mão para cumprimentar Brandon - Sou Kane irmão da Alice.

— Irmão da Alice? - pergunto incrédula.

— Bom que tal irmos todos comer qualquer coisa? - Brandon sabe que Alice não comeu quase nada.

— Boa ideia, precisamos de apanhar ar! - Encorajo a minha amiga a sair daquele ambiente pesado.

Decidimos seguir Kane até um restaurante ali perto, Alice veio no meu carro e eles foram cada um no seu, acho que ainda estava a processar a informação, como dois irmãos pode ser tão diferentes, Brandon falou sobre o seu trabalho, a família e parece que Kane e ele estavam a entender-se bem...

— Tenho de ir! - tenho de me preparar para a corrida.

— Vais onde? - Brandon sabe que sair assim significa que vou correr. - Hoje não a Alice precisa de ti! - Brandon reclama sob o olhar atento dos dois irmãos.

— Alice prometo que volto rápido vou só tratar de um assunto. - Abraço ela vendo o meu irmão bufar.

— Angel volta aqui!

Vou até ao local das corridas e o ambiente já estava carregado de adrenalina, fiz as apostas com Michael e segui para a pista, eu adoro a Alice mas tenho George a pressionar-me, tiro o som do telemóvel para me concentrar depois de ver duas chamadas do meu irmão no ecrã do aparelho. Embora a cabeça esteja longe eu venço a corrida angariando uma boa quantia para George e uma parte para mim. Vou até à estação de gasolina e tal como combinado entreguei o envelope à loira que já tinha a informação da minha passagem e regresso ao hospital. Kane estava afastado da porta sentado no passeio a fitar o chão...

— Kane?

— A Alice, ela precisa de ti! - Como ele não olha para mim decido baixar-me à sua altura.

— Ele piorou? - Pouso a minha mão nas suas pernas.

— Ele morreu!

— Lamento tanto Kane! - Eu abraço-o e fico feliz por ele corresponder. - Brandon está com ela?

— Sim ele parece gostar dela.

— Anda comigo! - Ajudo-o a levanta-se.

— Onde? - envio uma mensagem para avisar Brandon que estou com Kane.

— Confia em mim!

Ele limpa as lágrimas e entra comigo no meu carro, sigo o caminho até um lugar bem tranquilo estaciono o carro perto do lago e faço sinal para que saia, a lua está linda...

— Não sei o que é passar pela dor de perder alguém tão importante assim mas...

— Eu e ele não tínhamos um bom relacionamento mas a Alice sim e dói muito vê-la sofrer. - ele é sincero.

— Nunca te imaginaria como irmão da doce Alice.

— E tu? Um irmão advogado certinho?

— Ele é o oposto de mim e é por isso que nos completamos. - Eu e o meu irmão somos inseparáveis.

— Uma rebelde? - ele sorri com a pergunta.

— Digamos que nunca sigo regras e ando sempre onde há perigo! - Dou alguns passos e volto-me para o encarar.

— Isso eu já percebi! - ele puxa a minha camisola para que fique colada a ele - Teria muito prazer em meter-te na linha! - ele ataca a minha boca.

— Acho que é melhor regressarmos porque a Alice precisa de nós!

Anjo de dia (Livro2)Onde histórias criam vida. Descubra agora