Anjo de dia (Livro2)

20 - Dar um tempo...

Regresso a casa do avô na mesma, sem qualquer perspetiva de futuro, estaciono a sua carrinha ao mesmo tempo que Kane chega, ele anda a passos largos na minha direcção...

— Entra no carro!

— O que foi que aconteceu?

— Tu sabes bem o que aconteceu Angel, entra na merda do carro.

Assim que entro no carro ele faz o mesmo, conduz como um doido e para na sua casa, sigo-o mas sem saber o que se passa, juro que estou mesmo sem entender. Eu sento-me e ele dirige-se a mesa da sala e pega num envelope que atira para as minhas mãos, abro e vejo que são fotos de Clarisse e Jason juntos, numa das fotos eles estão aos beijos...

— Eles são amantes?

— Por favor não te faças de desentendida. - Jason não me disse, porquê?

— Juro que não sabia de nada, quem te deu isto?

— Vais fazer-me crer que não foste tu? - Porque eu faria isso?

— Kane eu já disse que não sabia porra.

— Tu e o teu amigo podem parar com esse joguinho, eu e Clarisse continuamos juntos.

— Óptimo para vocês seu burro, vocês merecem estar juntos mesmo. - Atiro as fotos para cima dele, que raiva.

— Eu quero-te longe de mim e da minha noiva!

— Podes deixar eu farei isso com muito prazer, mas já agora até que entendo vocês os dois, ela anda com o Jason mas tu perdoas porque também andaste com a burra aqui! - ele chega perto e eu afasto-me - Como é que eu fui pensar que um dia nós dois podíamos ficar juntos, para quê me dei ao trabalho de pedir a Jason para te fazer ciúmes, eu digo o porquê... - Ele parecia não acreditar no que ouvia ou então estava a ver o quanto errou em me acusar -  porque eu sou estúpida ao ponto de te querer, te amar. Obrigado por me abrires os olhos antes que fosse tarde e já agora és um idiota e péssimo detetive porque não fui eu quem te enviou essas fotos!

Saí daquela casa o quanto antes, fui andando a pé para casa do avô, eram alguns quarenta minutos a pé, no meio da noite, com pouca luz e algum perigo mas eu não ia pedir ajuda a mais ninguém, acabou. Cheguei a casa e o avô dormia, fiz as minhas malas e esperei que Brandon chegasse mas isso não aconteceu e eram oito da manhã quando decidi ligar para ele...

— Brandon onde estás?

— Eu estou com a Alice!

— Eu volto hoje contigo para casa. - Vir até aqui foi um erro desde o primeiro dia.

— Tens a certeza é que o avô precisa de ti!

— E eu preciso da minha vida de volta.

— Ok vou já!

Falei com o avô e sem despedidas eu parti com o meu irmão, eu e ele sempre fomos os melhores amigos e por isso acabei por contar tudo o que se passou desde que conheci Kane, a viagem foi cansativa e decidi cair na cama sem jantar com a minha família, eu tinha enviado alguns currículos antes de ir ter com o avô por isso ao acordar decidi ver se haviam respostas e realmente uma em especial era muito interessante, três meses de estágio no Brasil com tudo pago para além de uma formação intensiva na área de gestão hoteleira, eu nem pensei duas vezes e aceitei, três horas depois eu tinha um email com a confirmação do meu estágio e o bilhete de avião para dois dias depois. O meu pai ficou satisfeito por finalmente eu demonstrar interesse em trabalhar mas a minha mãe não gostou da ideia de ficarmos tanto tempo longe. É o meu futuro...

Deixar todos para trás parece ser mais fácil quando são os outros porque quando é connosco não funciona assim, de manhã eu tinha formação, depois de almoço trabalhava até ser hora de jantar e de noite ia sempre passear com o resto dos estagiários, preencho o meu tempo para não recordar mas a cada vez que deito a cabeça na almofada é Kane que me vem à cabeça, também o meu carro e por consequência a minha família. Falo todos os dias coma Alice, Brandon comprou uma casa na vila e vai abrir o seu próprio gabinete de advocacia, na noite que eu briguei com Kane foi a noite em que o meu irmão levou Alice a conhecer a casa que um dia será dos dois, tenho certeza e também foi a noite que eles dormiram juntos, Alice está nas nuvens e eu sei que dará em casamento.

O avô tem andado muito próximo de Lis ao que parece são namorados e de Kane eu não sei nada. A primeira coisa que fiz quando cheguei ao Brasil foi mudar o meu estilo de descontraído para profissional, ótima escolha para quem quer perder peso porque andar neste calor e esta humidade de camisa e saia é equivalente a duas horas de ginásio. O país é lindo, as pessoas simpáticas apenas lamento o crise económica e política que se vive, muita corrupção, criminalidade e pobreza, isso traz confusão porque trabalho num hotel que esbanja luxo, que tem preconceitos quanto a raças, religiões, ... É desumano ver que centenas de pessoas trabalharam como animais para que o país recebesse o mundial de futebol e agora está tudo abandonado, dinheiro que mataria a fome de toda a população que passa necessidades, é muito egoísmo para seres humanos que passam o dia a sorrir e que se contentam com tão pouco.

Fiz muitos amigos, aprendi um pouco da língua e fiquei fã de brigadeiro. Amanhã é o meu regresso, eu vou um dia mais cedo que devia porque quero fazer uma surpresa ao meu irmão, ele vai dar uma festa de inauguração da casa e eu disse que o meu estágio foi prolongado mas na verdade eu vou lá ter, vou ter de correr para chegar antes de anoitecer mas, tentar não custa. Vim com uma mala mas vou com três porque para além de muita roupa e sapatos eu também tenho presentes para todos, e um trabalho de fim de curso que me vai dar muita dor de cabeça. Primeiro avião, depois autocarro e aqui estou, são seis da tarde e cheguei à rodoviária da vila, vou à casa de banho pública para me refrescar, mudar de roupa e dar um jeito na minha cara de cansada. Um vestido preto fica sempre bem, na rua oiço a buzina deve ser o táxi que eu pedi, quase sete da tarde e aqui estou eu em frente a casa de Brandon, com a ajuda do taxista levo as malas até à porta e toco à campainha.