Tudo começou com eu caindo da cama. Respirei fundo vendo que pela janela ainda era noite... Ou melhor, madrugada. Era 05:40 da manhã quando o despertador do celular tocou e me fez levantar do meu pesadelo diário de estar queimando enquanto me afogava.
- Nada melhor que começar o dia caindo da cama...
Respirei fundo levantando do chão e pegando o celular que estava do lado do travesseiro. Estranhamente quando eu acordava ainda naquele horário eu não sentia cansaço de acordar tão cedo, por isso me arrumava o mais rápido que podia para quando batesse 06:00hrs eu já estivesse pronto antes de quase cair de sono. Nunca entendi isso...
Corri até o banheiro já tirando a cueca que eu vestia para não dormir completamente sem roupa. Abri o chuveiro e cometi o tremendo engano de não ver em que temperatura estava. Bufei ao ver que estava quente e logo coloquei no modo desligado, fazendo a água sair naturalmente fria. Isso me acalmava.
Tomei um banho rápido de dez minutos e logo sai do box do banheiro pegando a toalha e me enxugando enquanto nem precisava passar a mão no espelho para tirar a parte embaçada dele, água fria não embaça nada. Dica minha. Observei meus olhos roxos pelo espelho quase sendo tapados pela franja do meu cabelo escuro, que descia até os olhos mas estava arrepiado o suficiente para não tampar os olhos completamente. Respirei pesadamente e logo sai do banheiro voltando a me enxugar.
Por falar nisso, eu tinha quinze anos e estava na primeira série do ensino médio. Eu odiava aquele lugar e ter que estar com aquelas pessoas o dia todo. Eu estudava em um colégio de quase tempo integral. Tipo, hoje que era sexta-feira eu ia ficar até as 17:30hrs no colégio. Já estava vestido com o uniforme do colégio (uma blusa branca com mangas azuis e o nome da escola na frente e o nome do curso que eu fazia atrás), uma calça preta, e um all star surrado de cor azul. Não podia usar all star no colégio, mas hoje era o último dia de aula antes das férias de Julho então nem liguei. Apenas vi que no relógio batia 06:00hrs quando me senti fraco e dei uma recaída ficando de joelhos próximo a cama. A luz do sol começou a invadir meu quarto que estava com a janela e cortinas abertas, aquilo doía minha visão. Me levantei com certo esforço voltando ao "normal". Eu me sentia mais fraco e cansado do que estava quando era noite. Não entendo muito bem isso, mas devia ser por que preferia a noite.
Fui para a cozinha com minha mochila nas costas enquanto segurava o moletom nas minhas mãos e logo joguei tudo no sofá e fui em direção a cozinha, onde tinha um professor de física que adorava estrelas e essas coisas. Deve ser dele por causa dele que eu gostava tanto de noite e essas coisas de astronomia, astrologia, sei lá. Ele estava pronto assim como eu, infelizmente ele era o professor da minha escola. Mas não tinha muito oque reclamar felizmente ele só dava aulas para os segundos e terceiros anos e ganhava muito bem.
Ele vestia uma blusa preta qualquer, calça jeans e o coturno que era obrigatório para aquele colégio. Ele estava com o jaleco de com barras azuis na cadeira enquanto deixava café para mim em uma caneca e pãos na mesa para eu me servir.
- Pelo jeito não vai tomar café da manhã comigo hoje... De novo. - Disse aquilo desanimado mas já acostumado como sempre.
- Eu estou atrasado, hoje é o último dia de aula para você, tenho que fazer varias coisas para passar essas férias com meu filho! - Ele sorriu enquanto dizia tudo aquilo e realmente me fez sorrir - Coma seu café. Eu te encontro no colégio e levo você e Giulia para almoçar hoje. Agora se apresse...
Ele me jogou uma maçã e eu peguei rapidamente no ar vendo ele pegar sua mochila e ir embora pela porta da cozinha da nossa casa. Respirei fundo e me sentei alí na cadeira começando a comer pão com maionese e café com leite.
Continuei a comer até ouvir a porta e logo olhar o relógio. Era 06:30 quando olhei para o relógio e em seguida vi Giulia entrando pela porta.
- Ainda ta comendo? Porra... Você só saber comer? - Disse ela enquanto sentava na minha frente deixando a mochila no chão - Vamos se apressa... Não tenho o dia todo...
Olhei para ele sem expressão alguma e logo dei um sorriso de lado. Ela era minha única e melhor amiga. Alguem que eu realmente podia confiar. Era pequena, tinha 1,60. Olhos castanhos claros e cabelo escuro, não tanto quanto o meu. Era muito bonita e chamava a atenção da maioria dos garotos, menos eu. Mas não vá pensando que eu era gay, apenas não me interessava por ter praticamente crescido com ela. Mas a gente já tinha ficado algumas vezes com ela, mas não significou nada.
- Um segundo... Se quiser pode ir sem mim... To querendo é ficar em casa... - Fui interrompido por ela me jogando uma caneta preta com ponta de pena ainda fechada - Ah sim... Meu dia de ficar com ela...
- Seu dia de ficar com ela! - Disse ela rindo e já perdendo o humor com o meu temperamento lerdo.
Deixa eu explicar eu e ela tinha uma estranha paixão por canetas e um dia quando estavamos passeando pelo centro da cidade achamos uma caneta de ponta de pena fechada no chão. Intacta. Consideramos sorte e logo pegamos ela, a gente decidiu que cada dia um ficaria com ela, isso nos mantinha mais unido e nos dava uma desculpa para falar com o outro no dia seguinte caso a gente brigasse.
- Está de bom humor? - Perguntei frio estranhando ela e logo termino de comer me levantando e colocando a caneca na pia - Vou escovar os dentes e já vamos...
- Eu sei! Você faz isso todo dia, porra... Não precisa me descrever o que vai fazer! E que merda de pergunta foi essa? Eu to normal... Você que ta estranho... Sempre ta estranho... - Ela revira os olhos e resmunga enquanto me segue ao banheiro.
Ao entrar no banheiro peguei minha escova de um copo e logo passei pasta dental nela. Comecei a escovar os dentes...
- Você ainda não me respondeu! Não me faz te fazer engolir essa porra! Seu filho da puta! - Ela me deu um soco no ombro que estava tão acostumado a isso que não doeu.
- Clama pouga! - Tentei falar com a escova na boca mas saiu estranho.
Ela continuou me xingando e eu respirei fundo. Fiz a higiene bocal e logo cuspi na pia enchendo o copo de água e levando a boca fazendo o gargarejo e logo cuspo novamente na pia deixando a escova dentro do copo encima da pia. Olhei para ele frio.
- Você ta diferente hoje... Ta feliz por algum motivo. Não gosto disso...
- Caralho, como alguem é capaz de não gostar da felicidade da melhor amiga? - Ela pergunta indignada me dando espaço para sair do banheiro.
- Não me irrita... Por favor. Hoje não...
- Você sempre está irritado...
Nossas conversas sempre tinham isso de algo mais a dizer mas não continuar. Respirei fundo e logo peguei meu moletom preto e o vesti. Arrumei o capuz o colocando na cabeça e puxei as mangas até as mãos. Verifiquei se não tinha nada nos bolsos cangurus e acabei achando minha bandana preta que eu sempre usava, levantei uma manga e com ajuda de Giulia a amarrei no braço. Ela pegou sua mochila e logo saímos em direção ao colégio que era cinco minutos dalí... Respirei fundo e me lembrei que tinha esquecido a caneta na mesa de casa. Se eu falasse aquilo agora ela ficaria com raiva de mim então fingi não ter esquecido.
- Espero que o dia acabe logo... - Falei enquanto andávamos e víamos outros estudantes passarem por nós.
- Todo mundo está esperando... Eu então... Amanhã vou finalmente viajar um pouco... Já estava ficando cansada dessa cidade... - Resmungou enquanto eu fingia que ligava para oque ela disse.
Na nossa frente o colégio começava a aparecer, mas tinha algo diferente nele hoje. Parecia mais... Sombrio... Dei um curto sorriso e continuei o caminho. Algumas garotas me cumprimentavam. Eu era até que bastante popular, mas eu não gostava disso. Respirei fundo e finalmente adentramos o portão da escola...
Já estava na hora do intervalo quando eu quase estava terminando de ler o livro que eu tinha pegado da biblioteca. Era meio que um milagre aquilo, minha dislexia e o T.D.A.H. (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), não deixava eu terminar quase nada que começava. Respirei fundo quando ouvi o sinal e deixei a última página marcada saindo para o intervalo. Giulia veio logo atrás de mim de outra sala e me deu um abraço para provocar um cara que ela gostava mas estavam fazendo drama. Revirei os olhos e andei até as escadas do auditório ficando ali sentado.
- Ei, você bem que podia me ajudar, né? - Disse ela parando bem na minha frente.
- Oque quer que eu faça? - Disse levantando uma sobrancelha e olhando o cara atrás dela logo me ameaçando - Oque posso te fazer é prometer que não vou bater muito nele...
Disse começando a levantar e vendo que ele estava vindo para minha direção junto com cinco amigos. Já sabia como essa história ia terminar.
- Seu moleque, vou te dar a chance de correr agora e eu não vou te bater muito... - Ele me disse tentando parecer machão para seus amigos.
Comecei a rir da cara dele baixo e logo balancei a cabeça. Giulia tentava pedir para ele sair e mandava alguem chamar meu Pai, até um ponto que o cara veio para minha direção empurrando ela... Aquilo me deixou meio nervoso e quando ele apontou o dedo no meu ombro o tocando, quando ele fez aquilo rapidamente peguei em seu braço e fiz um movimento rápido que não sei o por que quebrou seu pulso. Ele começou a gritar escandaloso e eu logo fiquei nervoso com aquilo, corri na sua direção, em dois passos cheguei nele e peguei altura pisando na sua coxa com a curvatura de seu joelho enquanto tinha pegado sua mão no caminho da subida. No topo puxei seu braço enquanto estava com os pés no seu ombro e logo cai com cuidado enroscando minhas pernas em seu pescoço e puxando seu braço, ele caiu e ficou com todo o dano da queda. Quebrei seu braço outra vez sem saber como e quando me deparei ele tinha desmaiado sufocado.
- Droga... - Respirei fundo vendo oque eu tinha feito. Era a primeira vez que aquilo tinha acontecido e nossa... Eu nunca me senti tão bem. Tirando noites de lua cheia.
Todos ficaram em silêncio boquiabertos me olhando e perguntando como fiz aquilo. Os amigos dele nem tentaram avançar pra cima de mim e saíram correndo, mas alguns garotos do terceiro ano que mais pareciam jovens de vinte e três anos do que adolescentes de dezoito ou dezenove anos vieram até mim e pediram para eu seguir eles que tudo ia ficar bem... Fiquei irritado e logo revirei os olhos começando a andar em direção a saída do colégio. Eu ia pular as grades mas não ia ficar naquele local... Um dos estudantes me seguiu e só naquele momento percebi que ele usava muletas. Me senti mal, pois ele tentou me ajudar e eu fui muito mal educado com ele o ignorando. Ele veio até mim na metade do caminho, pois não corri.
- Ei, cara... Se acalma... Eu posso te ajudar... - Disse ele com um sorriso no rosto tentando
- E como pensa em me ajudar? - Disse olhando a situação dele e logo vendo Giulia vindo atrás de mim segurando minhas coisas, ela já sabia que eu ia embora.
- Eu posso te tirar daqui e nesse momento ta parecendo que você precisa disso.
Ele disse e eu não aceitaria fugir dalí com um cara que usava muletas se eu não fosse tão impulsivo e gostasse de coisas que pareciam perigosas. Percebi que Giulia também estava com as coisas dela e logo o olhei.
- Certo. Eu aceito... E como vai fazer isso? - Disse ouvindo de longe que os professores sabiam de um tumulto e me esperavam.
- Do que estão falan... - Interrompi ela dizendo rapidamente.
- Preciso que você confie em mim e venha comigo... Eu não conseguiria fazer isso sem você! - Disse pegando minha mochila já fechada com tudo dentro e segurando sua mão.
- Tudo bem... Eu confio em você... Mas... - Interrompi ela denovo.
- É com você cara! - Disse o olhando esperando a resposta agora. Ele apenas sorriu e levantou a mão balançando umas chaves que pareciam ser de carro... Eu não sabia, mas ter feito aquela decisão mudou o resto da minha vida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Filho de Nyx - A Maldição Do Anoitecer
FantasyNathan Oliver é um garoto problemático que vivia uma vida normal em um colégio de tempo integral onde seu Pai um ex-astrônomo da aula de física. Após um incidente com um aluno onde ele acaba quebrando seu pulso e braço ele se ve obrigado a fugir com...