Meu nome é...

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  Acordei e ainda era madrugada. Era 05:50 da madrugada quando eu levantei debaixo de uma árvore. Fazia frio mas aquilo não me incomodava, ao contrário eu gostava de sentir o frio bater em mim. Olhei para o chão e peguei minha mochila velha que eu usei como travesseiro e logo comecei a andar. Eu estava em um parque localizado no estado de São Paulo, passei por um lago e encarei nele. Minha imagem nele estava clara e calma. Eu podia ver uma garota de dezoito anos e olhos negros como a noite, uma meia franja que quase cobria os olhos e cabelos brancos(albina), que batiam nos ombros. Uma pele pálida e lábios claros. Usa uma calça jeans preta, e uma blusa de frio com zíper azul e dentro da blusa de frio uma blusa sem estampa branca, por fim all star com estampa da bandeira da Inglaterra.
- Sorria... Você fica mais bonita sorrindo... - Dizia para mim mesma tentando forçar um sorriso - Não tem como sorrir morando na rua.
  As palavras daquele garoto... Daquele dia... Elas martelavam minha cabeça.
-" Sorria... Você fica mais bonita sorrindo..." - A imagem dele ficava presa na minha cabeça.
  Comecei a andar em direção a Padaria que ficava alí perto. Felizmente ontem eu tinha conseguido roubar uma carteira que tinha bastante dinheiro até, hoje eu ia conseguir comer algo descente no café da manhã. O caminho era longe até, mas aquele era o lugar mais seguro do parque e agora que eu tinha conseguido um "trabalho" precisava acordar cedo. Tinha fé que logo sairia da rua.
  Andando peguei da minha mochila um caderno. Sim, eu tinha roubado também. Mas o que importa é que nele eu fazia meus desenhos e tinham meus melhores pensamentos com "ele".
  Dei um leve sorriso abrindo o caderno e vendo o desenho de um garoto com o corpo inteiro. Ele tinha cabelos negros e longos que tampavam metade dos olhos, seus olhos eram roxos e pareciam que brilhavam a noite, sua pele era branca, igual a minha. Ele não sorria, olhava o horizonte enquanto o vento balançava sua jaqueta, ele usava um cachecol branco envolta do pescoço e dentro da jaqueta tinha uma blusa branca, usava uma calça preta e all star azul. Acima da sua cabeça tinham as palavras: "Sorria... Você fica mais bonita sorrindo..."
  Era o garoto dos meus sonhos e aquele foi o primeiro desenho que eu tinha feito dele. Me lembrava daquele incrível feriado que eu fui feliz. Que alguem pode me fazer feliz e ignorar o fato que eu era moradora de rua. Ele tinha quatorze anos quando eu o conheci, mas ele já era do tamanho e falava como um homem não como uma criança.
- Nathanael... - Dei um sorriso acariciando o desenho e segurei algumas lágrimas.
  Fui passando as folhas do caderno passando de diferentes desenhos dele até o mais recente. Um desenho que mostrava apenas seus rosto. Agora ele tinha cabelo um pouco mais longo e usava uma franja que tampava o olho direito. Eu não sabia o por que mas do cabelo saia um pequeno brilho vermelho representando que ele tinha agora um olho vermelho. Seu olho roxo era mais gritante e chamativo, parecia brilhar mais ainda e agora sua pele era mais branca. Ele continuava com uma expressão seria mas seus dentes estavam a mostra. Mostravam presas grandes e afiadas. Parecia... Um pequeno vampiro.
  Sorri com o desenho que eu tinha feito e logo fechei o caderno o guardando de novo. Aquele era meu pequeno mundo. Meu pequeno mundo onde nada dava errado e eu era feliz com ele. Era feliz com o Nathanael.
  Deu 06:00hrs quando eu me senti fraca e quase cai sentindo fraqueza até meu corpo se normalizar e eu me levantar do chão. Isso sempre acontecia e por isso antigamente eu dormia de dia e roubava a noite, então hoje eu tive que fazer diferente. Seria difícil me acostumar com isso.
  Enfim, finalmente cheguei na padaria e me sentei em cadeira que ficava alí ficando na frente do balcão. Mesmo estando um pouco suja (eu tinha tomado banho em um abrigo recentemente), uma pessoa veio me atender e eu pedi um pedaço de bolo trufado de chocolate e um cappuccino de chocolate. Nunca comi algo tão bom e também não me senti bem assim faz tempos. Parecia que tudo estava começando a dar certo finalmente. Minha vida estava mudando e logo eu não precisaria mais roubar para sobreviver. Nada estava dando errado.
- Quanto ficou? - Dei um leve sorriso olhando para o atendente quando ele veio até mim.
- Ficou doze reais... - Ele disse seco e com sono. Diferente dele eu estava de bom humor.
  Peguei a carteira dentro da minha mochila e dei uma nota de dez e dois reais para ele, mesmo sendo dinheiro roubado eu me senti bem de finalmente poder pagar alguma compra. Eu me sentia bem comigo mesmo.

[...]

  Era 20:00hrs, eu estava voltando para a praça, para aquele mesmo lugar que eu dormia sempre quando eu vi aquele mesmo homem do outro dia. Não Nathanael, dessa vez era um homem mesmo. Tinha uns trinta anos e mês passado pensou que eu era uma prostituta e tentou me contratar para fazer sexo com ele. Apenas o ignorei, mas ultimamente eu tenho visto ele seguir. Ele me assustava mas eu sabia como me cuidar.
  Continuei a andar. Infelizmente eu tinha que passar pelo caminho que ele estava até chegar ao ponto do parque que eu sempre durmo. Mas eu tinha que despistar ele. Só eu sabia onde ficava aquele lugar e não podia deixar ele me seguir. Passei do lado dele sem sequer olhar para ele foi quando eu senti ele pegar minha mochila e puxar ela conseguindo tirar ela de mim e me derrubando no chão.
- Então... Não quer fazer programa, mas quer meu dinheiro, né? - Ele dizia irritado quando viu que minha mochila tinha rasgado.
  Eu não contei mas eu também resolvi seguir ele para saber onde morava e para me vingar. Ele me dava nojo e me tratava como uma prostituta sempre tentando alguma coisa comigo me seguindo, então a carteira que eu tinha roubado foi dele... E agora parece que ele descobriu.
- Não vai dizer nada sua vagabunda?
  Ele me xingava enquanto vasculhava feito um animal minha mochila rasgada. Eu não conseguia dizer nada, eu podia bater nele mas o medo e o desespero era mais forte. Ele pegou o caderno de desenhos onde eu desenhava com perfeição o rosto do Nathanael.
- Quem é esse? É seu namoradinho? Que pena que ele não está aqui para te proteger agora... - Ele dizia em tom de deboche enquanto rasgava os desenhos um por um.
- Na... Nathan... - As palavras tentavam sair da minha boca que se controlava junto com meus olhos para não chorar.
- Agora a brincadeira acabou... Se não for por bem, vai ser por mal! - Ele soltou o caderno e a mochila e começou a abrir o cinto da calça dele enquanto se aproximava de mim.
- Não... - Eu sentia meus olhos e meu corpo brilharem - Não... - Eu sentia meu corpo ficar cada vez mais quente - Não... - Eu estava em posição fetal, sentada no chão com a cabeça nos joelhos com os olhos fechados e mãos segurando com força meu cabelo - Não... - Meu corpo estava pegando fogo.
- Mas oque diabos... - Ele dizia baixo mas eu não tive coragem de olhar para ele - Deus tenha misericórdia!
  Os segundos seguintes eram gritos de desespero e agonia, os piores gritos que eu já tinha ouvido. Ele parecia chorar enquanto gritava e eu simplesmente...
- NÃO! - Gritei com todas as minhas forças quando eu senti meu corpo explodir em fogo, mas não um fogo qualquer, era branco e parecia brilhar como uma estrela.
  Algum tempo depois sem ouvir nada eu abri meus olhos e olhei para os lados quando eu vi todo um cenário destruído, pegando fogo branco. Eu não via o corpo dele, apenas um vazio em forma de círculo ao meu redor que tinha o tamanho de cinquenta metros.

[...]

  Tinha se passado algumas horas e várias pessoas vieram até o local ver oque tinha acontecido. Diziam que uma enorme e brilhosa explosão destruiu todo aquele lugar e viam minha roupa um pouco chamuscada eu não sabia oque dizer quando varias pessoas tentavam me ajudar e eu só consegui responder uma pessoa.
- Qual seu nome garota? - Dizia uma velha que estava alí perto me oferecendo um copo da água.
- Meu nome é... Elenna Christa Oliver... 

O Filho de Nyx - A Maldição Do AnoitecerOnde histórias criam vida. Descubra agora