Fiel- Segunda temporada

DEZOITO

Ana Julia

Jogada na rua. Sim, por dois anos eu estive na rua, na maioria das vezes sem ter o que comer, nos primeiros dias minhas roupas foram roubadas e agora minha vida é assim, jamais pensei em procurar Lorenzo, a escolha foi minha de ir embora e não tenho nem o direito de voltar. Sempre pensei que quem ficasse na rua era vagabundagem, porque não levantam e vão trabalhar? Agora eu entendo. Ninguém quer um morador de rua. "Ah, vai pra um abrigo", as vezes eu vou, mas não gosto muito de lá, é uma realidade cruel, realidade na qual eu faço parte, a algum tempo atrás eu tinha uma companheira, mas ela se afundou no mundo das drogas e eu decidi não seguir esse caminho, mesmo que pareça "mais fácil", agora eu só vivo por ai, andando, sozinha e pensando em como eu fui idiota de ter saído do morro, se eu tivesse ficado as coisas seriam diferentes.

(...)

Talvez eu tenha tomado a decisão mais certa da minha vida, a decisão que evitei durante 2 anos, voltar pra rocinha. Eu não tenho mais nada na vida, pra que evitar? Se ele me expulsar não vai ser diferente da minha vida nesses últimos anos.

XxXx- quem e tu?

-Ana Júlia- ele arregalou os olhos e foi falar alguma coisa no rádinho-.

XxXx- vem- me puxou-.

Por onde a gente passava o povo olhava, com dó, não com nojo como me acostumei a ser olhada. Eu ja tinha me desacostumado com tamanha humildade. Chegamos na boca e Lorenzo ja estava lá, me olhou com pena, e certa culpa.

Lorenzo- o que tu arrumou?

-Absolutamente nada.

Ele suspirou e me guiou ate a salinha.

Lorenzo- por que tu não voltou?

-Eu quis sair.

Lorenzo- tu viveu dois anos na sua, passando fome, por orgulho? Você é idiota? 

-pelo menos banho eu tomava.- ele bufou-.

Lorenzo-Não parece- o olhei- tem roupa tua la em casa ainda, tu vai comer, tomar banho e dar um jeito em si mesma, depois a gente ve o que faz- eu assenti-.

Chegamos lá e eu vi uma mulher, não sabia quem era e nem quis, só subi pra tomar banho antes que ela me visse. 

(...)

Toda a sujeira que saiu de mim parecia que eu tinha nascido no lixo, vestir roupas limpas e estar limpa novamente era a melhor coisa que existia. Desci e vi Lorenzo com um garotinho, muito lindo por sinal.

-oi- disse timida e lorenzo me olhou, sorrindo-.

XxXx- quem é essa, papai?

papai? Meu Deus, como assim? Lorenzo com filho?

Lorenzo- uma amiga do papai, filho, fala oi- o menino escondeu a cabeça- Marcelo, pode parar de falta de educação e fala oi.

Marcelo- oi- disse baixinho e timido e eu sorri-.

-Oi- ele soltou um sorrisinho-.

Lorenzo- tem comida na cozinha, espero que saiba cuidar de criança porque eu dispensei a Carol por hoje, vou voltar daqui uma hora- eu arregalei os olhos- respeita a Ana, ta filho?- Marcelo assentiu-.

Lorenzo saiu e eu olhei pro menininho que sorria pra mim. Era a cópia fiel do pai, mas o cabelo provavelmente vinha da mãe, ja que ele era loiro.

Marcelo- to com fome.

-eu tambem- sorri- vamos comer?- ele assentiu e segurou em minha mão-.

Mesmo com um contato tão bobo, eu sorri, fazia tempo que ninguém nem se aproximava de mim, e aquela mãozinha segurando a minha me fez perceber que eu não era um lixo, como eu mesma me chamava nesses dois anos.