Capítulo 4

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Com Deus não existem coincidências, eu sou o tipo de pessoa que anota tudo, tudo mesmo, para não me esquecer de nada no trabalho! No entanto, naquele dia lá estava eu tentando arrumar uma confusão ocasionada pela minha memória falha até mesmo para escrever em um post-it “Tulipas Amarelas”, justamente no dia que aceitei a sair com Anderson! O que isso tem a ver!? Vamos deixar as explicações para os próximos acontecimentos!

Anderson dirigia oscilando o olhar entre mim e o trânsito, como se estivesse pensando a mesma coisa que eu, Arthur não perdoaria minha falha!

- É o Timóteo, da floricultura Lírio dos Vales - me senti aliviada ao saber que não  era o Arthur -  Estou em frente a empresa, não tenho onde estacionar, você terá que vir até aqui na rua.

- Eu estou chegando, não vai embora!  - desliguei o celular sem ouvir a resposta. - Vamos! Ele já chegou!

Dezessete horas e quarenta e cinco minutos, tinha quinze minutos ainda, graças à Deus! Antes mesmo de Anderson estacionar em frente a empresa já havia visto o entregador. Ele estava encostado na própria moto com o buquê de tulipas amarelas, como se esperasse por sua namorada, ele ainda usava o capacete e quando desci do carro ele apenas levantou a viseira.

- Agatha!? - ele perguntou enquanto se afastava da moto e vinha ao meu encontro.

- Sim! - falei andando rápido e já estendendo as mãos para pegar o buquê - Graças à Deus, chegou!

- O cartão é cortesia. - ele entregou um envelope vermelho.

- Ah sim, beleza! - disse já virando as costas e caminhando para a recepção do edifício.

Antes de chegar às catracas algo me fez olhar pra trás e, surpreendentemente, o entregador me olhava ainda parado no mesmo lugar, como se estivesse tentando entender todo meu desespero. Quando entrei no elevador me dei conta que nem sequer o havia agradecido pela exceção no horário de entrega, deveria estar parecendo uma ingrata, com certeza. Depois teria que ir até à floricultura, agradecer os donos pela generosidade.

Cuidei de deixar o buquê com a tulipas amarelas e o cartão sobre a mesa de Arthur, depois fui até minha mesa pegar minhas coisas e corri para o hall do elevador. Quando o elevador parou Arthur saiu de dentro dele sorridente, mas parou de sorrir​ ao me encarar, o relógio marcava 17:55. Estava dentro do prazo.

- Já está indo embora!?

- Deixei as flores em sua mesa. - falei meio desesperada, não era para a frase ter saído daquela forma, mas lá estava eu dando bandeira!

- Vamos ver! - Arthur caminhou andar a dentro, o segui.  - Olha só .. Onde comprou!?

Eu estava parada na porta da sala sem saber o que responder, em segundos pensei em mentir mesmo sabendo que não era o certo! Pensei em dizer que havia sido na mesma floricultura de sempre, mas pelo o que havia percebido aquelas flores tinham algo diferente, algo que eu ainda não sabia o que era, mas que era visível para Arthur.

- Elas estão mais vivas… - Arthur a levou próximo ao seu nariz e me encarou, esperando uma resposta.

- Foi em uma floricultura próximo à minha casa… Por aqui não haviam mais das amarelas. - falei receosa, já esperava que Arthur dissesse que aquelas flores não eram as certas e as lançassem no cesto de lixo ao lado da mesa, mas ao invés disso sorriu e disse:

- São perfeitas! Me dê o endereço desse lugar amanhã! - ele pegou as flores e outras coisas para sair da sala - Ah, e o recibo, para que eu possa reembolsá-la! - ele completou ao passar por mim.

Quando o elevador apitou no andar eu ainda estava parada em frente a sala de Arthur feito uma boba, tentando entender o que havia acontecido. Eu havia conseguido! Sim, consegui ter um ponto positivo​ com o chefão, finalmente!!! Claro que graças à Deus, que colocou Marina no lugar certo no momento certo e preparou aquele entregador gentil que deveria me achar uma ingrata agora!

E até mesmo Anderson, que não hesitou em me ajudar levando-me de um lado ao outro, ele nem parecia ser  mais aquele rapaz vaidoso e cheio de segundas intenções que passava pelos corredores da empresa e que eu tanto julgava internamente.

Depois de um dia vencido - Com sucesso - Estava eu dividindo uma mesa em uma hamburgueria com ele, e para completar sorria feito doida, gargalhava na verdade. Neste momento eu já estava jogando em minha própria cara a frase que havia dito para Marina sobre “sair” com aquele rapaz  sentado em minha frente. Lembra-se da frase!? Sem problemas, eu refresco sua memória:

“Sabe o que penso sobre isso! E a resposta para ele sempre será negativa!”

“SEMPRE SERÁ NEGATIVA”, ok! Tinha que admitir, era Deus fazendo-me aprender que era bom tomar cuidado com as palavras.

Anderson estava sendo bem respeitoso, riamos de meu desespero de horas atrás.

- Você é melhor do que eu imaginava - ele disse ainda sorrindo - É muito divertida! - tinha uma pintada de galanteio ali, constatei isso após a piscadela com aqueles olhos castanhos atentos e a acariciada em minha mão que estava sobre a mesa.

- Olha, você é melhor do que eu imaginava também - disse tirando minha mão da dele - Mas, devo ser sincera.. . Essa sua fama de pegador é péssima! Nunca vão te levar à sério!

- Tenho mesmo essa fama!? - Anderson perguntou sem graça encarando o copo de refrigerante em sua frente.

- Você sabe que tem! - afirmei fitando-o, algo relampejou em seu olhar, uma tristeza, antes de me encarar. Quando seus olhos encontraram os meus vi algo muito além do que havia visto antes…. Como se eu tivesse outros olhos ali.

- Não é nada bom… - ele passou as mãos pelo cabelo e depois endireitou a postura. - Eu tento ser diferente…

- Quando te olho… parece que vejo o filho pródigo, perdido! Está na hora de voltar pra casa, Anderson.

- Como a história da Bíblia!?

- Sim! Você conhece!? - perguntei mexendo meu suco de laranja com o canudo. Anderson sorriu envergonhado e disse:

- É a minha história! - apenas ergui uma sobrancelha esperando que ele me contasse. - O filho pródigo achava que sabia de tudo… largou casa e família para usufruir de sua herança em prazeres momentâneos.. eu fiz o mesmo!

Anderson suspirou e depois me fitou por um breve momento.

- Eu nunca falei sobre isso com ninguém… deixei minha casa e os ensinamentos do meu pai! Ele me ensinou sobre o amor de Deus, mas eu sempre achei tudo muito… chato! Agora, sinto falta! Tenho tentado mudar, mas parece que é tarde, não consigo! - o rapaz em minha frente deixou os ombros caírem como se tivesse sido derrotado.

- O filho pródigo também achava que não tinha mais jeito! Tanto que pensou em voltar para casa como um empregado! - sorri tentando aliviar a tensão de Anderson - Mas, o pai não permitiu! Ele sempre esteve esperando pelo retorno do filho, e não para jogar qualquer coisa na cara dele, mas para enchê-lo de amor e dignidade outra vez!

- Tive um sonho outro dia… acho que era Deus! Você acredita em Deus, não é!?

- Claro, sou Cristã! - soltei sorrindo, como se fosse algo óbvio.

- Eu não via o rosto, apenas a forma de um homem em meio uma luz muito forte! - Anderson ficou ainda mais sério ao falar do sonho - Ele me chamava… acordei muito assustado! Achei que iria morrer, eu não quero morrer agora!

- Talvez não seja morte!

- “Talvez”, muito animador! - ele forçou um sorriso, sorri junto.

-  Ele pode estar te chamando para se aproximar dele! Porque é tão difícil voltar!?

- Porque eu nunca o conheci de verdade… eu ia à igreja com meus pais, mas pouco conheço de Deus!

- Não é tarde, Anderson! - insisti - Nunca é tarde para se aproximar de Deus! Aquele que tanto te ama! Mas, antes de mais nada, precisa falar com seu pai! Tem uma mágoa aí que precisa ser curada!

-  Isso é tão óbvio assim!?

- Não, você disfarça muito bem no dia a dia! - Sorri - Mas, o Espírito Santo me mostrou, em seu olhar!

Em Teu Amor (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora