Capítulo 19

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Cheguei atrasada à igreja, Edu ficou com uma baita mancha roxa no olho direito, mesmo depois de todo o gelo que deixamos sobre a pele dele. Todos os casais já ouviam a psicóloga em uma bela palestra sobre “Vida a dois”, incluindo ele e Marinês.

Eu ajudava na arrumação das louças e talheres sobre as mesas, comigo havia mais alguns jovens, incluindo João! Ele estava me evitando, mas algumas vezes aquela noite o flagrei me observando. Não tive como ignorar a aliança prata na mão direita dele, não sei se aquilo significava um relacionamento sério ou apenas um uso comum, simplesmente ignorei e voltei a pensar em Anderson.

A caminho da igreja foquei-me em esquinas praças, bares, pontes… Mas, não vi ninguém parecido com o Anderson, o celular estava em minha casa, guardei todos os pertences que estavam dentro do carro. O carro permaneceu no lugar, o vizinho disse que esperaria até o dia seguinte para chamar o guincho, já que não sairia de casa nas próximas horas. Se algo acontecesse à aquele cabeçudo eu não me perdoaria, eu deveria ter insistido para ele ficar, gritado mais, corrido atrás dele! Daríamos um jeito, acalmaríamos os ânimos e ele estaria seguro naquele instante!  O simples fato de imaginá-lo sozinho pelas ruas naquele frio  fez meus nervos se enrijecerem, queria tê-lo ali comigo! Só me restava pedir à Deus que o protegesse e enviasse um bom samaritano para cuidar dele aquela altura.

Não demorou muito até que a palestra acabasse e os casais fossem para o salão onde aconteceria o jantar. Um mini palco havia sido montado para que a banda se apresentasse, Marina cantaria também, e pelo o que havia me dito seriam apenas músicas românticas àquela noite. Ela e a banda já estavam no palco e cantavam uma música tranquila enquanto os casais se acomodavam em suas mesas.

Foi uma noite bem agitada, no entanto, produtiva! Servir o jantar e cuidar para que tudo saísse como o programado não foi nada fácil, ainda mais quando minha cabeça uma vez ou outra voltava-se ao meu amigo “perdido”.  Após a sobremesa Sheila deu espaço aos esposos e noivos  que decidiram homenagear suas amadas.

Confesso que já estava com o coração derretendo pelo excesso de romance no ambiente, ainda mais sendo uma romântica incorrigível assumida! Praticamente todos foram à frente, mas um fez-me chorar, ele estava no auge dos seus cinquenta e cinco anos e tinha trinta e dois de casado, ele mexeu com o sentimento de todos que ali estavam ao proferir as seguintes palavras:

- Não era para eu estar aqui… - Juliano começou a falar olhando para Vanderléia, sua esposa - Passei por momentos que se não tivesse essa incrível mulher ao meu lado estaria morto! Ela cuidou da minha saúde física, psicológica e até espiritual por muitos anos sozinha!!! Nunca me abandonou, nunca ameaçou ir embora, apesar de ter razões para fazer isso! Eu era muito ignorante, mas graças à Deus como uma nova criatura, hoje enxergo o tesouro que tenho comigo! O tesouro que nunca mereci… Vejam, como ela é linda!

Juliano fez com que todos olhassem para Vanderléia, ela estava secando as lágrimas que ameaçavam borrar a maquiagem, eu estava em pé próxima a porta do salão segurando as minhas.

- Lembro a primeira vez que vi esses lindos olhos sorrindo para mim, hoje são muito mais encantadores! As linhas de expressão que vieram com o tempo os deixaram mais charmosos! - Juliano continuou - Sempre me orgulharei da linda e excelente mulher que você é, meu amor! Nossos filhos tem a melhor mãe do mundo e eu a melhor amiga, esposa e eterna namorada, você! Eu sei que minhas palavras não são o bastante, também sei que nada material paga tudo o que você fez e faz por nossa família, contudo, hoje fortaleço nossos votos matrimoniais!  Farei o que estiver ao meu alcance para fazê-la feliz, te amarei de verão à verão até que Deus me leve para junto dEle! Eu te amo!

Juliano terminou a frase chorando, Vanderléia andou até ele para abraçá-lo e beijá-lo, foram os mais aplaudidos da noite.

Eu secava as lágrimas com um guardanapo de papel para não borrar a maquiagem.

- Há quanto tempo vocês não tinham uma dança só de vocês!? - Sheila perguntou aos casais - Curtam o momento!  - ela completou e deu espaço à banda, uma música gostosa tomou conta do ambiente outra vez.

Juliano foi o primeiro a puxar a esposa para uma dança só deles, abraçados se moviam de um lado para o outro sem se preocupar com as pessoas que estavam no recinto. E logo demais casais se juntaram a eles próximo ao palco. João e eu aproveitamos o momento para deixar sobre a mesa as lembrancinhas da noite, que consistia em toalhinhas perfumadas e bombons recheados perfeitamente expostos em uma caixa transparente com fita dourada.

Estava colocando as lembrancinhas sobre a última mesa quando uma flor foi lançada ao lado da caixa - Uma flor meio rosa, meio lilás, não fazia ideia qual a espécie da flor - o ato foi seguido da frase:

- Boa noite! - ele sorriu - Desculpe, ambos estamos trabalhando, mas não resisti!

- Timóteo!?

- Dança comigo!? - ele perguntou já pegando em uma das minhas mãos - Ninguém vai reparar em nós. - Ele olhou a nossa volta segui o olhar dele, e quando percebi já estava  me permitindo ser abraçada.

Senti seu perfume encher o ar a minha volta e suas mãos respeitosamente me envolver em um abraço acolhedor e seguro. Ele me levava de um lado pro outro enquanto afundava o rosto em meus cabelos meio preso que deveria estar cheirando a comida servida no jantar e as velas aromatizadas que decoravam o salão. A música que, por sinal, Marina cantava dizia:

"Eu trago tanto amor
Guardado pra quando eu te encontrar
Segredos e emoções
Que só com você eu vou partilhar

Eu não sei o quando e onde eu te encontrarei
Mas em cada passo que eu dou
Eu me sinto cada vez mais perto
Meu amor"

Carta Escondida - Henrique Cerqueira (mídia)


- Obrigado! - Timóteo falou sem se afastar - Achei que me mandaria colher flores!

- Colher flores!? - gargalhei - Não seria um insulto!

- Não mesmo - o senti sorrir - Mas, prefiro estar aqui com você!

- Eu li sua carta - falei depois de alguns segundos - Você escreve muito bem. - o corpo de Timóteo se sacudiu em uma gargalhada rouca, ainda assim não se afastou.

- Eu escrevo bem!? Foi só o que percebeu quando leu a carta!?

- Não - afastei-me para fitar os olhos escuros em minha direção - Percebi que talvez você seja doido… por se apaixonar por mim.

- Não só por isso! - ele sorriu sem jeito - Então, só me resta perguntar… Qual a sua decisão!?

Olhei fundo nos olhos tomados por um brilho diferente, um canto dos lábios erguido em um meio sorriso, o cabelo desgrenhado. Minha resposta, com certeza, mudaria tudo!

Em Teu Amor (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora