(Mídia: Conselho de Amiga - Marcela Taís)
Uma janela, a chuva... as gotas escorriam solitárias pelo vidro, fazendo cada uma seu próprio caminho como se no mundo nenhuma outra pequena parcela de chuva pudesse acomodá-las outra vez, como se a única opção fosse evaporar e sumir sem, ao menos, deixar lembranças de todo seu trajeto, da história de sua existência. No final, era um nada.
Não é uma história sobre aquelas gotículas da fraca e constante chuva que caía do lado de fora, é sobre mim, Agatha. Sentada no chão do quarto os móveis à minha volta pareciam gigantes que debochavam daquela dor, e que dor! A cerâmica branca era mais gelada do que nunca; meus olhos mantinham-se fixos no vidro enquanto meus pensamentos eram tudo e nada, sem fim, sem conclusão. Uma traição inimaginável... uma indagação: "O que é o amor!? O humano!? Possivelmente, não existe".
A afirmação fez meu corpo estremecer e então, finalmente, as primeiras lágrimas caíram - sem pressa - enquanto me dava conta que havia dado meu coração a pessoa errada e recuperá-lo, era uma missão impossível.
Ele mentiu. - a verbalização trouxe um soluço que bateu de frente com meu ego, meu orgulho!? Ferido! Uma batida na porta do quarto fez-me baixar a cabeça secando as lágrimas, escondendo aqueles sentimentos.
- Estou indo encontrar a galera na pizzaria, você não vem!? - Luna, minha irmã mais nova me encarava evidentemente preocupada.
- Hoje não, Luna. - Foi o que consegui pronunciar com a voz ainda trêmula.
- Ei, não precisa esconder o que está sentindo. - Luna agachou em minha frente , para ver de perto meus olhos marejados e avermelhados - Pelo menos, não de mim.
- Por hoje, eu só quero ficar sozinha.
O que aconteceu ontem foi a melhor coisa do mundo, Agatha - Luna iria iniciar um argumento que ela mesma sabia que não surtiria efeito algum, então suspirou e apenas completou antes de sair do quarto - É melhor chorar agora do que uma vida toda!
A porta se fechou deixando um silêncio de doer os ouvidos e apertar o peito. Encarei minha mão direita, o anel dourado com uma pedra no meio ainda estava lá... A lembrança de sorrisos e alegria ao encarar aquele anel foi substituída por outra dolorosa e ainda assim eu não tinha coragem de tirá-lo do dedo. Eu não queria quebrar o que já estava totalmente destruído, não havia lógica alguma naquilo. Mas, o que poderia ser lógico naquele sentimento que eu acreditava ser amor!?
Tem uma epístola na bíblia, Tiago, no primeiro capítulo e verso seis, especificamente, que diz que quem duvida é como a onda do mar que é levada pelo vento e jogada de um lado ao outro sem rumo. Ao lembrar-me disso supliquei para mim mesma não duvidar das promessas que Deus havia feito um dia, ou meu fim seria esse... Uma existência sem propósito.
Uma indagação a mais atingiu minha mente naquela noite: "Será que quando Jesus foi beijado por Judas logo após a traição ele já o havia perdoado!?" Ahh, mas que pergunta! A resposta veio em seguida, como um diálogo com meu interior. Claro que sim! O perdão sempre esteve com ele, o Redentor, por certo, jamais negaria o perdão. - Era o Espírito Santo me dizendo para não duvidar da bondade e fidelidade de Jesus Cristo, mesmo quando as ações não eram recíprocas. Contudo, para mim, o perdão seria outra missão impossível listada em minhas notas mentais que mais pareciam um emaranhado de rabiscos sem sentido.
Raciocinar havia se tornado uma tarefa enfadonha desde a noite anterior, talvez a dor e aquela estranha agonia dentro do peito não estivesse me deixando pensar com clareza. Assim que deixei seu posto de trabalho naquela tarde procurava por lembranças que me explicariam onde havia errado naquela relação. Faltavam apenas cinco meses para o casamento, cinco meses! Quase tudo planejado havia sido executado, o apartamento praticamente reformado agora ficaria abandonado - como uma casa fantasma - frio sem o calor aconchegante que emanaria daquela união que eu tanto havia sonhado para o meu lar!
O que eu havia deixado passar despercebido!? Jeremias, o profeta, foi certo em dizer que o coração é enganoso mais que todas as coisas - e perverso! - O verso nove do capítulo dezessete fazia sentido para mim agora. Sim... um coração perverso.
Levantei-e do chão apenas para jogar-me na cama e murmurar algo que só passou a fazer sentido para os meus próprios ouvidos segundos depois.
"Minhas palavras são uma mistura de confusão e lamento, só quero que essa agonia passe. Eu simplesmente não quero duvidar... não quero pensar ou ousar a dizer que a culpa foi Sua, porque sei que não foi. Eu errei... não fui uma boa companheira, ou talvez, tenha sido uma completa idiota... talvez, não tenha Te ouvido. Deus! Só me faça dormir... é apenas o que quero agora! Amanhã quando eu acordar espero poder compreender tudo isso ou, pelo menos, aprender com tudo isso!"
Aquilo não era bem uma oração, ou era!? Sentia-me tola, como se não soubesse mais como fazer as coisas. Fitei o teto do quarto por um longo tempo que não pude mensurar antes de murmurar outra vez:
"Eu não tenho palavras, não sei o que dizer... Espírito Santo, leve para Deus tudo o que eu preciso, tudo o que eu realmente preciso e não enxergo... o que não percebo, use as palavras que não consigo pronunciar. Eu não quero odiar... não quero guardar maus pensamentos... maus sentimentos... eu não quero isso para mim!"
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Em Teu Amor (Concluído)
Spiritualité"A porta se fechou deixando um silêncio de doer os ouvidos e apertar o peito. Encarei minha mão direita, o anel dourado com uma pedra no meio ainda estava lá... A lembrança de sorrisos e alegria ao encarar aquele anel foi substituída por outra dolor...