Capítulo 23

182 30 15
                                    


O inverno já havia passado, era primavera e meu aniversário de vinte e três anos. Muitas pessoas acreditam ser um novo recomeço quando se completa mais um ano de vida, um novo ciclo. Mas o meu já havia se iniciado meses antes, quando deixei que Deus trabalhasse em tudo aquilo que me impedia de ser livre, e naquele dia eu podia dizer que sim, eu estava livre! Livre dos velhos medos que chegaram com decepções, aliás, livre do medo de novas decepções, afinal, a vida é um risco e você não escolhe quando uma decepção poderá chegar!

Diante de tantos aprendizados  percebi que é impossível viver sem enfrentar as consequências de nossas escolhas. Pense na escolha como uma semente, se você plantar a semente de um fruto amargo não espere colher um fruto doce!

Viver sem “escolher” também é impossível,  mesmo que influenciada por alguém, ou não, eu teria que escolher prosseguir ou parar. Deus em Seu glorioso amor nos guia e nos dá ricas oportunidades, mas nunca escolhe por nós! Talvez, fosse mais um dos meus erros, acreditar que Deus escolheria por mim todos os próximos passos de minha vida, simplesmente, por ter vivido uma tremenda decepção após uma escolha mal pensada. Marina uma vez me disse:

- Agatha, você realmente acha que Deus está feliz com suas atitudes!? - sua voz era firme - Ele te deu saúde e uma família abençoada! Mas, como você tem agradecido!? Vivendo uma vida limitada em todos os aspectos! Sabe o que acho!? Que você quer que Deus faça escolhas por você para que depois, se algo der errado, você não carregue a culpa!

Eu neguei aquilo várias vezes mas, por mais duro que seja, Marina tinha razão. E assumir isso foi o pontapé inicial para  chegar tudo o de melhor que recebi depois.

Aquele aniversário seria diferente por esse e tantos outros motivos! Mais cedo, Anderson havia feito questão​ de ir até o andar que eu trabalhava só para entregar bombons e fazer com que todos no setor de Marketing cantassem “Parabéns” para mim. Até Arthur cantou e fez questão de pedir flores para mim, botões de rosas.

Quase no horário do almoço uma única Tulipa amarela foi entregue com um cartão rústico, escrito:

Palavras não são o bastante para descrever a importância desta data para mim. Mas, não posso deixar de dizer que está data é abençoada por Deus. Foi o dia que Ele escolheu para trazer ao mundo a pessoa que mudaria a vida de muita gente, por onde quer que passe, você faz a diferença Agatha. Esse é um dos motivos da minha admiração e amor por você!

A caligrafia e as palavras não me deixavam dúvida do remetente, era Timóteo. Se a alguns meses atrás me dissessem que aconteceria tudo o que eu estava vivendo, obviamente, não acreditaria.

Timóteo havia me esperado, eu não pedi nada a ele. No entanto, como se lesse meus pensamentos, aos poucos, foi se aproximando e ganhando minha confiança, admiração e amor. Pois é, no dia que me pediu em namoro nós já estávamos muito próximos, conversávamos com mais frequência e nossos “encontros” que não passavam de boas conversas e risadas junto de nossos amigos estavam se tornando pouco para ambos.  O pedido aconteceu de um modo inimaginável, em um café da tarde em minha casa,  sobre a mesa havia bolo de milho, café, chá e pães sovados com geleia e manteiga.

Meus pais e irmãos não pareciam nada surpresos com as palavras de Timóteo:

- Eu sabia que não seria fácil conquistá-la, mas eu não iria desistir tão fácil também. Eu precisava ter paciência… Ganhar sua confiança! E hoje sinto que posso arriscar mais uma vez! - Ele sorriu, olhou em volta da mesa, segui seu olhar e pude ver que minha família também sorria, como uma aprovação - Aceita ser minha namorada?

O meu sentimento sobre Timóteo havia mudado, não tinha como não me apaixonar por ele. Em suas ações me conquistou, não me apressou ou forçou algo entre nós em nenhum momento. Nada de encontros “por coincidência”, Nada de “presentinhos” sem motivos aparente, Nada de mencionar outras “possíveis pretendentes”. Apenas o cuidado em saber como eu estava, a atenção nas conversas, a sinceridade em dizer que orava por mim todas as noites, a forma como me deixava e deixa livre para fazer minhas escolhas.  Com sua simplicidade e cuidado natural me esperou e me conquistou! Ele tinha razão em dizer que não era “doido” apenas por se apaixonar por mim.

O que não posso deixar de mencionar é que uma de minhas motivações para aceitar o pedido de Timóteo se devia ao fato de que, no momento do pedido,  eu já não era mais a mesma Agatha de dois anos atrás, pensava e agia totalmente diferente!

Não era um relacionamento amoroso que me faria feliz, mas sim minha posição diante da vida! E sabia que não precisava depender das opiniões alheias ou até compainha para viver plenamente - a não ser de Deus! - Claro que quando você se compromete com alguém, não dá para sair por aí fazendo tudo sozinha, contudo, isso não significa que você tem que ter total dependência a ponto de fazer de seu par uma “posse” e obrigá-lo a ir com você para todos os lados e fazer tudo o que você faz.

O que eu quero dizer é que eu havia amadurecido, sabia quem eu era! Tinha ciência das minhas virtudes e defeitos e havia aprendido, de certa forma, ter uma vida sadia! E sobretudo, estava preparada para aceitar em minha vida uma pessoa com tantos defeitos e virtudes quanto eu! Tudo isso, sem perder minha liberdade!


Para comemorar meu aniversário, depois do expediente, fui encontrar Marina, Augusto e Timóteo na avenida mais famosa de São Paulo, sim a Paulista. Comemos em um restaurante australiano muito bom, rimos, conversamos, ganhei mais uma rodada de “parabéns” e sobremesa de cortesia. Se tivéssemos ficado mais um minuto naquele restaurante, tenho certeza, que sairíamos de lá rolando!!!

Nossos amigos caminhavam abraçados em nossa frente, Timóteo havia entrelaçado seus dedos aos meus, conversávamos sobre algo relacionado à ciclofaixa quando Mari se soltou de Guto e começou a sambar enquanto atravessava a faixa de pedestres; Guto rodou como um mestre sala, não me contive em pequenos risos, gargalhei, e muito! Foi difícil atravessar a avenida como alguém “normal”, Timóteo não entendeu nada e é provável que vocês não tenham compreendido, refresco a memória de vocês com uma​ simples frase dita meses atrás:

No dia que aparecer alguém que consiga amolecer esse coração gelado vou atravessar a avenida paulista sambando!”

Sim, foi uma frase de Marina direcionada a mim!

Marina era o tipo de amiga que sempre cumpria o que prometia. Depois de tantos anos de amizade ela ainda conseguia me surpreender.
Deus havia dado a mim uma amiga-irmã, e eu, só podia agradecê-Lo por isso.

Em Teu Amor (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora