- Eu preciso comprar alguns botões de rosa para Marinês - Mari falou checando as horas no celular - Acha que ela vai gostar!?
- Claro! E onde vamos encontrar botões de rosa!? - caminhavamos observando as vitrines das lojas de rua nas proximidades da padaria.
- Na floricultura das tão desejadas tulipas amarelas!
- Ahh isso me fez lembrar que ainda não passei o endereço para o Arthur! - quase gritei - Aliás, preciso do recibo também para ser reembolsada.
Marinês não havia quebrado o pé, mas sim, havia tido uma torção bem complicada, ela ficaria um tempinho em casa com o pé enfaixado. O pessoal da igreja resolveu fazer uma visita, mas Esmeralda, mãe de Marinês fez questão que fossêmos para o almoço. Então, o combinado foi de nos reunirmos para adorar a Deus e após isso saborearmos a famosa e deliciosissíma macarronada de Dona Esmeralda.
Entramos na floricultura, um prédio pequeno com tijolos vermelhos expostos que ficava entre uma chocolateria e uma loja de roupas, a parte interna era bem rústica, um lugar acolhedor, o balcão ficava no centro do ambiente em formato de um “O”, nada convencional. O perfume das flores me lembravam cemitério, era triste saber que as pessoas têm mais contato com flores em velórios do quê em momentos felizes.
O rapaz no balcão cortava as folhas secas de uma flor que eu nunca saberia o nome, ele sorriu assim que nos viu e quando percebi, eu já estava sorrindo também.
- Bom dia! - ele disse, vestia uma camisa xadrez dobradas até o antebraço e por cima dela um avental marrom com o nome “Lírio dos Vales” bordado. - Não me diga que precisa de mais Tulipas!?
- Ah não! - Marina sorriu - Botões de rosas hoje! Essa é a Agatha minha amiga e a responsável pela correria das TULIPAS.
- Ah sim eu já a conhecia!
- Já?? - perguntei surpresa.
- É verdade, foi ele quem levou as Tulipas! - Marina sorriu - Não se lembra dele?
- Ele não tirou o capacete! - afirmei fixando os olhos no rapaz de traços fortes, pele branca e cabelos e olhos escuros - Desculpe por aquele dia, eu estava mesmo desesperada pelas flores, tanto que nem cheguei a agradecer pela exceção que abriu para nós.
- Sem problemas, tudo pelo cliente! Mas, nem achei você tão desesperada assim - senti a ironia do rapaz assim que ele esboçou um sorriso torto ao final da frase.
- Você não faz ideia, meu emprego estava em jogo! - afirmei - Eu não estaria daquela forma por pouca coisa!
- Quem pode ser tão severo à ponto de fazer algo assim!? - a ironia era persistente no sorriso de Timóteo, não era como um insulto, mesmo assim afirmei a questão:
- Ah é que você não conhece o Arthur! Garanto que seus chefes são muito gentis, por isso, não faz ideia do quê estou falando! - falei reparando em cada detalhe da floricultura.
- Sim, até porque meus chefes sã..
- E então! - Marina chamou a atenção para ela interrompendo o rapaz - Onde encontro os botões de rosas!? - apesar de ter usado um tom de voz irritadiço nos olhos de Marina havia aquele brilho sapeca, não entendia como ela podia ser tão terrível!
- Ah desculpe - Timóteo parecia sem graça - Vou chamar Dona Fátima para te ajudar, porque eles ficam no fundo da loja e não posso deixar o balcão vazio.
- Ela fica lá no fundo!? - Marina perguntou já esticando o pescoço para procurar a tal senhora - Eu vou até lá, não quero atrapalhá-los! Não esquece de pedir o recibo e o cartão da loja, Gatinha.
Queria ter gritado para Marina parar com suas insinuações bobas, mas já era tarde, ela estava no fundo da loja conversando com um senhora baixinha de cabelo arrumado em um coque perfeito no alto da cabeça, que usava um avental como do rapaz a minha frente. Timóteo estava tão sereno quanto minutos atrás.
- Essa loja caiu do céu - falei enquanto Timóteo preenchia um recibo, pelo visto apenas eu havia entendido a provocação da minha amiga!
- Não digo do céu, mas com certeza foi providência de Deus! - ele falou sem olhar diretamente para mim.
- Porque diz isso!? - perguntei surpresa pelas palavras.
- Porque seu emprego está garantido, ou não!?
- Sim, é verdade. - suspirei levemente - Você é cristão!?
- Pela graça de Deus! - Timóteo sorriu - E sei que vocês também são.
- Como sabe disso!? - haviam mais surpresas pelo visto.
- A Marina me contou na quarta-feira. - ele sorriu - Ela também me disse que você era linda e até passaria seu número pra mim.
- Ela não fez isso!? - meu rosto queimava, não me restavam dúvidas que estava feito um pimentão, Timóteo apenas balançou a cabeça de forma positiva, confirmando minha pergunta - Essa menina! - bati involuntariamente a mão sobre o balcão.
- Ela também me falou que você era um pouco brava e que eu devia ir com calma! - Aquilo era demais pra mim, não sabia mais o que dizer, minha expressão devia ser das piores porque Timóteo tentava segurar um riso, mas seus lábios se alargavam ainda mais - E olha só, ela tem razão!
- Razão!?
- É, sobre tudo!
- Como assim sobre tudo!?
- Olha - Timóteo arrancou uma das flores lilás do vaso que estava em sua frente e colocou atrás da minha orelha - Assim você parece mais sonhadora!
- Muito obrigada, Dona Fátima - Marina falou andando em nossa direção, parou quando reparou meu olhar em sua direção - O que aconteceu!?
- Preciso falar com você! - disse séria, meus olhos semicerrados.
- Téo, achei que éramos amigos! - Marina disparou para o rapaz sorridente já entendendo tudo - Era segredo!
- Desculpe, não sabia que era segredo!
- Segredo!? Marina!? - Alterei um pouco a voz.
- Foi só uma brincadeira… - ela deu de ombros - E também o convenci a entregar as Tulipas!
- Quero deixar claro que não foi por causa do número do seu telefone, eu teria que tê-lo de qualquer forma para fazer a entrega.
- Sem problemas, Timóteo - Falei o encarando - Na verdade, o problema é a minha amiga aqui!
Marina e Timóteo riram um para o outro como se fossem amigos há tempos! E eu sem reação aguardei que minha traíra-melhor-amiga pagasse os botões de rosas para dar-lhe a maior bronca da história de nossa amizade.
- Porque fez isso!? - perguntei quando entramos no carro de Marina.
- Eu disse que foi brincadeira! - Mari deu de ombros enquanto ajustava o cinto de segurança - E também isso foi na quarta-feira, lembre-se que apenas hoje eu disse que aguardarei o tempo de Deus na sua vida!
- Sim, mas não justifica passar meu número.para estranhos!
- Ía precisar de qualquer jeito, ele mesmo disse isso! Eu apenas dei um… incentivo! - Aquele sorriso debochado às vezes me deixava brava, mas pertencia a minha amiga então, eu perdoaria minutos depois - E caso não queira contato com ele é só bloqueá-lo. Ele mandou alguma mensagem!?
- Não!
- Ah que pena - Marina deu partida com o carro - Mas, também não seria legal trocar o Advogado e o Analista Financeiro pelo balconista-barra-entregador!
- Ha-ha muito engraçada! - bufei - É melhor ficar quietinha, ok!?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Em Teu Amor (Concluído)
Espiritual"A porta se fechou deixando um silêncio de doer os ouvidos e apertar o peito. Encarei minha mão direita, o anel dourado com uma pedra no meio ainda estava lá... A lembrança de sorrisos e alegria ao encarar aquele anel foi substituída por outra dolor...