Capítulo 24

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Sem revisão



- Quer mesmo ficar sozinha com essa mulher?! – Daniel perguntou indignado.

- Tudo bem, Dan. – eles estavam próximos a porta e o namorado relutava em deixá-la.

- Não está bem, Catarina. – falavam baixinho – Ceder a uma chantagem barata, querida, você já está super agitada com essa história de invasão, por que aumentar o estresse?

- É justamente por isso, preciso ter certeza da inocência dela. Ouvirei o que ela tem a dizer. – Catarina tocou o braço dele tranquilizando-o – Vai ficar tudo ok e, qualquer coisa eu grito e o meu gigante-herói vem me defender, combinado? – a namorada brincou apesar da tensão.

Ele desistiu de retrucar, deu-lhe um rápido beijo na testa e saiu meio contrariado.

Após a saída do namorado e sem a presença da mãe – Teresa desaparecera dizendo que iria buscar um papel qualquer no quarto – a filha examinou o ambiente, a sala pouco espaçosa e o bairro lhe deu uma ideia de como havia sido a vida de Teresa durante esses anos. O nível de vida caíra bastante, refletiu analisando criticamente o sofá pequeno, duas cadeiras, uma mesinha de centro e o tapete puído; um rack ocupava um canto da parede e tinha enfeites, revistas e alguns livros, um deles estava aberto e ela aproximou-se e leu um trecho sublinhado:

Se um indivíduo é capaz de amar

de modo produtivo, ele se ama também,

se consegue amar apenas os outros,

não consegue amar de modo algum.

Erich Fromm, A arte de amar. (*)

Pegou o exemplar para ver o título. Mulheres que amam demais. Já ouvira falar deste livro. Escrito pela terapeuta conjugal Robin Norwood, ele aborda os relacionamentos amorosos destrutivos de mulheres e seus parceiros. Através de relatos impressionantes de suas pacientes, a autora ajuda a identificar, por meio de certos tipos de comportamento padrão, sentimentos obsessivos de mulheres que perdem todo e qualquer limite em suas relações estes homens. Elas sofrem da síndrome do "amar demais".

Lançado em meados da década de oitenta, o livro fez tanto sucesso no Brasil que deu origem ao MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas) um grupo de apoio onde se discutia a dependência emocional e atitudes que contribuíssem para a recuperação da autoestima e o equilíbrio das participantes. A advogada tocou a fita dourada usada como marcador refletindo; embora soubesse pouco a respeito do assunto, hoje, podia dizer que a mãe se encaixava no perfil.

- Aqui está. – a mulher mais velha retornou e sobressaltou a outra, perdida em pensamentos. Catarina pegou o papel e nele constava data e hora de uma consulta em nome da paciente Teresa Ferreira Novaes da Silva. Coincidentemente, era o mesmo hospital em que ficara internada – Como vê, levo quase duas horas para chegar lá, então seria impossível estar em dois lugares ao mesmo tempo.. – a mãe pareceu ler a mente da filha ao dizer em seguida – Bento permaneceu comigo durante todo tempo e se quiser confirmar é só ligar para este número e falar com a secretária.

Em silêncio,Catarina devolveu o livro esquecido na mão ao seu lugar, fez um leve aceno de cabeça. É claro que iria checar aquela informação, apesar de convencida da inocência de Teresa naquele assunto.

-Muito bem. – ela deu por encerrada a conversa pegando a bolsa, contudo não conseguiu evitar o comentário ressentido – Vou investigar é claro, porque não acredito em nada que saia da sua boca.

Por mais uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora