Sem revisão
- Quer mesmo ficar sozinha com essa mulher?! – Daniel perguntou indignado.
- Tudo bem, Dan. – eles estavam próximos a porta e o namorado relutava em deixá-la.
- Não está bem, Catarina. – falavam baixinho – Ceder a uma chantagem barata, querida, você já está super agitada com essa história de invasão, por que aumentar o estresse?
- É justamente por isso, preciso ter certeza da inocência dela. Ouvirei o que ela tem a dizer. – Catarina tocou o braço dele tranquilizando-o – Vai ficar tudo ok e, qualquer coisa eu grito e o meu gigante-herói vem me defender, combinado? – a namorada brincou apesar da tensão.
Ele desistiu de retrucar, deu-lhe um rápido beijo na testa e saiu meio contrariado.
Após a saída do namorado e sem a presença da mãe – Teresa desaparecera dizendo que iria buscar um papel qualquer no quarto – a filha examinou o ambiente, a sala pouco espaçosa e o bairro lhe deu uma ideia de como havia sido a vida de Teresa durante esses anos. O nível de vida caíra bastante, refletiu analisando criticamente o sofá pequeno, duas cadeiras, uma mesinha de centro e o tapete puído; um rack ocupava um canto da parede e tinha enfeites, revistas e alguns livros, um deles estava aberto e ela aproximou-se e leu um trecho sublinhado:
Se um indivíduo é capaz de amar
de modo produtivo, ele se ama também,
se consegue amar apenas os outros,
não consegue amar de modo algum.
Erich Fromm, A arte de amar. (*)
Pegou o exemplar para ver o título. Mulheres que amam demais. Já ouvira falar deste livro. Escrito pela terapeuta conjugal Robin Norwood, ele aborda os relacionamentos amorosos destrutivos de mulheres e seus parceiros. Através de relatos impressionantes de suas pacientes, a autora ajuda a identificar, por meio de certos tipos de comportamento padrão, sentimentos obsessivos de mulheres que perdem todo e qualquer limite em suas relações estes homens. Elas sofrem da síndrome do "amar demais".
Lançado em meados da década de oitenta, o livro fez tanto sucesso no Brasil que deu origem ao MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas) um grupo de apoio onde se discutia a dependência emocional e atitudes que contribuíssem para a recuperação da autoestima e o equilíbrio das participantes. A advogada tocou a fita dourada usada como marcador refletindo; embora soubesse pouco a respeito do assunto, hoje, podia dizer que a mãe se encaixava no perfil.
- Aqui está. – a mulher mais velha retornou e sobressaltou a outra, perdida em pensamentos. Catarina pegou o papel e nele constava data e hora de uma consulta em nome da paciente Teresa Ferreira Novaes da Silva. Coincidentemente, era o mesmo hospital em que ficara internada – Como vê, levo quase duas horas para chegar lá, então seria impossível estar em dois lugares ao mesmo tempo.. – a mãe pareceu ler a mente da filha ao dizer em seguida – Bento permaneceu comigo durante todo tempo e se quiser confirmar é só ligar para este número e falar com a secretária.
Em silêncio,Catarina devolveu o livro esquecido na mão ao seu lugar, fez um leve aceno de cabeça. É claro que iria checar aquela informação, apesar de convencida da inocência de Teresa naquele assunto.
-Muito bem. – ela deu por encerrada a conversa pegando a bolsa, contudo não conseguiu evitar o comentário ressentido – Vou investigar é claro, porque não acredito em nada que saia da sua boca.
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Por mais uma vez
RomancePara alguém acostumado ao sucesso como Daniel Camargo um casamento fracassado era um erro que devia ser completamente esquecido, uma página virada em sua vida... Só não esperava que um incidente trágico ameaçasse trazer o passado de volta o obrigand...