Bônus

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Sem revisão


    - Você de novo, Catarina? Deu saudade? – o doutor Caio Junqueira cumprimentou a enfermeira que ajustava o soro na paciente e sorriu para a advogada deitada.

- Não sei por que vim parar aqui... – ela tentou sentar, mas o médico impediu.

- Pode não saber, mas os outros sabem. Te encontraram inconsciente. Então fique quietinha aí e descanse. – ele correu os olhos sobre o resultado de alguns exames – Os resultados de eletrocardiograma e do exame de sangue que pedi não indicam problema, mas vamos fazer outros...

- Caio, não posso ficar aqui. – protestou inconformada. Outros exames, isso significava mais tempo no hospital. Estava confusa, lembrava-se apenas de ter falado com Antônia Moraes, acompanhado a cliente até a porta, depois não vira mais nada. Agora estava bem, recuperara a consciência assim que a ambulância chegara e ficou furiosa quando eles praticamente forçaram-na entrar e seguir para o hospital – Meu sócio tá viajando...

- Catarina... – o médico colocou a mão em seu ombro tentando acalmá-la – Tem se alimentado bem? Dormido o suficiente? Sente alguma coisa...

- Respondo as mesmas perguntas a cada mês. Tô bem. Esse mal estar de hoje deve ter sido porque não jantei direito ontem e não comi pela manhã. – ela tentou convencer o médico.

- Acalme-se um pouco. – O médico pediu e ela fechou os olhos. De repente, foi tomada por um estranho cansaço. Relaxou ao ouvir a voz bondosa de Caio, ela tinha o poder de abrandá-la, talvez por ter sido a primeira que escutou ao despertar do coma.

O médico esperou a paciente adormecer, o calmante finalmente fizera efeito. Catarina estava abatida, era importante deixá-la descansar; ela não admitia, mas apresentava alguns sintomas de estresse pós-traumático o que era normal depois do horror vivido.

Recordou-se de sua chegada ao hospital. Walter Prado matou a mulher e baleou Catarina no meio da rua movimentada. Alucinado, pretendia atirar novamente nela se não fosse um policial o acertar no braço para imobilizá-lo. Infelizmente, antes de largar a arma ele ainda tivera tempo de dar mais um tiro, que pegara de raspão em uma grávida. No fim, a troca de tiros terminou com o casal morto e duas mulheres feridas.

O caso ganhara força devido à polêmica sobre a abordagem do policial. Para alguns, Prado ameaçava a todos e deveria ter sido morto imediatamente. A imprensa acampou na porta do hospital por semanas na tentativa de ouvir uma declaração de Catarina. Eles sossegaram um pouco quando, contrariando ordens médicas, a advogada concedera a entrevista. Por causa de tudo aquilo, ela precisava de ajuda profissional e insistiria nisso.

Xxx

Roberto tirou os olhos da revista que lia e os cravou em Érica chegando com um refrigerante e um pacote de salgadinhos, ela já descera a lanchonete algumas vezes. Não entendia como um adulto podia comer tanta besteira; a agitação dela e a falta de notícias o deixava nervoso.

- Não quer mesmo? - nem sabia o que ela fazia no hospital. Pouco ajudou, pois ficou feito barata tonta enquanto socorria Catarina – Fico ansiosa em hospitais...

- Logo, logo vão te arrumar um lugar aqui se continuar comendo essas porcarias.

- Argh! Agora sei por que não fui com sua cara desde o começo.Você é chato garoto!

O doutor Caio surgiu no corredor. Catarina ficaria em observação por hoje, Roberto perguntou se podia fazer alguma coisa.

- Ela não precisará de nada por enquanto, só dormir. Vocês devem fazer o mesmo. – sorriu para os dois e continuou seu caminho, veria outros pacientes.

- Bonitão, hein? – encantada seguiu o médico com o olhar – Reparei que ele não tem aliança.

- E se tivesse não seria com seu nome.

- Você é tão grosseiro. – Érica reclamou seguindo o rapaz. Tropeçou em alguém, a pessoa pediu desculpas e parou para ver os dois se afastarem. E, somente quando teve certeza de que a secretária e o assistente não voltariam dirigiu-se ao quarto 413.

A enfermeira Graça abriu a porta.

- Ah! É você... O médico proibiu visitas à paciente, a moça vai dormir por um bom tempo. Então só pode ficar cinco minutos.

- Ela não está...

- Em coma? Não, mas precisa descansar... Volto daqui a pouco.

Agradeceu e se aproximou devagar da cama, só queria olhar para Catarina um pouco. Nossa! Como sentira falta dela.

XXX

Três semanas depois a advogada, bastante contrariada, almoçava com Joana Maranhão. Preferia reuniões em seu escritório para evitar reações como essa em público.

- Desgraçado! – a morena de olhos verdes, com cerca de 40 anos berrou atraindo a atenção dos outros clientes – Ele não vai gastar meu dinheiro com aquela vagabunda, antes eu mato os dois! – ela pegou a bolsa e levantou – Perdi a fome!

Catarina a viu quase derrubar um garçom e suspirou. Sem estresse. Foi a recomendação de Caio a ela. Desanimada, recolheu os papéis sobre a mesa, neles havia uma lista com os bens do casal Maranhão. O motivo da ira de Joana era uma segunda lista descoberta recentemente e, nela constava   dois bens não declarados: uma casa em Angra dos Reis e uma conta de três milhões de dólares que Luís Alberto tentara esconder.

A advogada saiu do restaurante e encontrou a cliente na calçada, fumando.

- Vou exigir que ele venda a casa e dê metade do dinheiro já! Aliás, quero tudo agora porque não confio naquele ladrão. – Joana exigiu, pois tinha direito a metade do patrimônio do marido.

- Vocês podem chegar a um acordo quanto a esses bens. Os outros terão que esperar, porque não pode vender nada enquanto o divórcio não for oficializado.

- Já sei! – a mulher agarrou seu braço e a forçou a atravessar a rua – Você explicou que se ele não declarou esses bens, eles não existem. Tenho uma ideia, mas preciso me acalmar um pouco. Venha!

As duas mulheres seguiram pela calçada até Joana a empurrar para dentro de uma loja de roupas, onde  uma vendedora, que mais parecia uma modelo, aparecer e carregar a morena para os fundos a fim de mostrar as novidades. Pelo jeito, a senhora Maranhão era cliente habitual, Catarina analisou ao ser praticamente esquecida ali; deu um giro e  discretamente, olhou o preço de alguns vestidos nas araras. Caríssimo. O lugar cheirava a dinheiro e sofisticação. Reparou no grandes sofás, espelhos, araras com blusas, saias. Sobre um balcão havia bolsas de tamanhos variados. É, sem dúvidas toda a loja era incrível. A advogada ouvi o som do celular e conferiu as mensagens que chegavam do escritório. Precisava sair agora ou se atrasaria.

Não tinha tempo para distrações assim, seu dia já estava contado. Procurou por Joana e havia sinal da mulher, com certeza estaria descontando sua raiva no cartão de crédito do marido. Ligaria para ela depois.

- Catarina...? – Sophia Heckmann entrava na loja com o namorado e ela pensou na coincidência desse encontro. Duas vezes em menos de um mês... Será que as coisas poderiam piorar mais?


E aí? Vocês concordam com ela? O que tá ruim pode piorar?


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Por mais uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora