O outono em Nova York era lindo e as áreas que mais tinham parques naturais viviam lotadas, era uma das épocas de mais movimento já que alguns turistas viajavam para lá para desfrutar da brisa morna que soprava e levantava uma cortina de folhas secas alaranjadas.
Era final de semana, e a época do ano favorita de muita gente, inclusive da garota com cachecol marrom, casaco preto e botas de salto que acabara de chegar em casa, ela colocou uma sacola na mesa da cozinha e tirou o casaco e o cachecol, quando foi tirar as coisas da sacola percebeu que havia se esquecido de algo.
- Ai, que droga, eu vou ter que voltar tudo de novo. - resmungou consigo mesma.
Outra garota vestida com pijama cinza passou por ela indo em direção a pia com um pote de cerâmica e um copo de vidro.
- Esqueceu o quê dessa vez? - ela perguntou.
- E quem disse a você que eu esqueci alguma coisa? - a garota de cachecol resmungou.
- Toda vez que você vai fazer as compras falta alguma coisa da lista. - a de pijama disse.
- Ahn... - a garota próxima a mesa murmurou e coçou a cabeça.
A próxima a pia revirou os olhos e rosnou.
- É sério que você não levou a lista de novo?
- Fala baixo. - pediu a outra garota olhando para trás por um momento. - Está bem, Yuh, confesso que eu esqueci. Desculpa, eu já vou sair para ir lá comprar.
- Como você é tapada, hein. - Park Jin Yuh disse.
- Você que deveria ir comprar dessa vez, nunca mais eu vou tentar te ajudar. - a garota que acabara de chegar saiu resmungando.
Ao sair e fechar a porta, ela seguiu pelo corredor e pediu o elevador, enquanto esperava tirou o celular do bolso e viu uma mensagem da sua mãe."Oi filha, como vocês estão? Estou com saudade, sua tia May mandou lembranças. Em uma semana estarei em casa, espero que vá me visitar, dá um beijo na Yuh por mim. Amo vocês."
Ela sorriu enquanto lia por conseguir ter a imaginação sonora de sua mãe falando aquelas palavras.
Por mais irônico que pareça, ela e a outra garota citada na mensagem tinham uma boa relação, cuidavam uma da outra como duas irmãs, tendo Yuh como a mais velha, sendo até adotada afetivamente pela mãe da outra.
A nova vida dela estava indo bem, melhor até do que ela imaginava.
Mas isso mudaria logo logo...
Ainda de cabeça baixa olhando para o celular, ela ouviu o elevador chegar quando apitou e avançou para entrar no mesmo, porém, por não estar prestando atenção, ela se chocou com alguém e recusou alguns passos derrubando o celular.
- Ai, nossa, me desculpa. - ela se abaixou para pegar o celular.
A mão dela encostou na da pessoa que ela se chocou quando a mesma também se abaixou para pegar o celular que havia caído da garota.
Com o contato ela recuou rápido a mão e levantou o rosto, seu coração disparou e ela paralisou por um momento, sentiu um fragmento de sua alma fugir por seus lábios entreabertos.
- Você se machucou? - o rapaz perguntou se levantando depois de pegar o celular da garota que havia caído. Ele encarou ela imóvel e muda, balançou a cabeça com a expressão franzida quando analisou os traços da garota. - Vai ficar aí no chão?
- O que? - ela finalmente disse e se levantou em um pulo, ela abaixou a cabeça tentando evitar o contato visual com ele ou até mesmo com a mulher do seu lado. - Quer dizer, eu... estou bem, obrigada.
Ele estendeu o celular para ela. - Seu celular.
- Obrigada, obrigada. - ela disse fazendo duas reverências respeitosas para ele de forma frenética e pegou seu celular; porém ele não soltou o smartphone quando ela o pegou.
- Algum problema? - a mulher do lado do rapaz perguntou analisando a expressão franzida dele.
- Eu não sei, eu... Você me conhece? - ele direcionou a pergunta a garota de cabeça baixa.
Ela balançou a cabeça freneticamente em negação sem querer encara-lo.
- Sério? Tem certeza que não conhece ele? - perguntou a mulher ao lado do rapaz. - Olha bem para ele.
A garota se sentiu pressionada e levantou o rosto devagar assim olhando o rapaz nos olhos.
- Nunca ouviu falar da Stray Kids? - questionou a mulher. - Ele é o rapper principalmente.
Changbin encarou a garota com a expressão confusa, ele tinha certeza dente de si que ela sabia quem ele era.
- Não, me desculpe. Eu sinto muito. Desculpa mesmo. Tchau. - ela puxou o celular da mão da rapaz e recuou rápido dando passos largos voltando para casa e batendo a porta ao entrar.
Changbin a viu seguir o corredor e entrar em um apartamento.
- Que garota esquisita, ela não ia pegar o elevador? - lembrou a mulher.
Changbin olhou sua acompanhante, a expressão estava confusa, seu cérebro quase escorria pelos ouvidos.
- Aquela garota, ela... é idêntica a alguém que eu conhecia. - ele contou. - O nome dela era...
- Sue-Yang, você tem absoluta certeza que era o Changbin? - Yuh estava estérica depois de ouvir a garota contar o que aconteceu.
- Antes de tudo, para de me chamar assim, as paredes desse lugar são muito finas. - implorou a garota falando baixo e fino durante um chilique.
- O que será que ele está fazendo? Será que os outros estão aqui também? - Yuh se perguntou.
- Eu tenho certeza que ele me reconheceu, não tinha como eu esconder meu rosto, trombei de frente com ele. - andava eufórica de um lado para o outro.
- Mas você não se apresentou?
- O que você queria que eu falasse? - a garota pausou e prosseguiu com um tom irônico. - "Oi, Binnie, sou eu mesma Sue-Yang, mas agora pode me chamar de Tak Soo-yan porque eu assumi uma nova identidade".
Yuh revirou os olhos. - Não precisa desse drama todo também, se ele não insistiu é porque não tem te reconheceu. Vocês eram amigos, se ele tivesse tido certeza de que era você, ele teria falado.
- Faz pouco mais de um ano que a gente não se vê, mas eu não estou tão diferente. - disse a garota que possuía uma nova identidade. - Posso ter deixado o cabelo crescer e mudado a cor, mas meu rosto continua o mesmo.
- Como eu disse, se ele tivesse reconhecido você, ele não teria deixado passar, afinal você está desaparecida a meses. - Yuh disse.
Sooyan olhou para ela com a expressão contorcida e rosnou.
- Ela! - Yuh corrigiu. - Ela está desaparecida a meses! Ele não iria ver alguém parecida com ela e fingiria que nada aconteceu.
- Espero mesmo que você tenha razão. - disse Sooyan suspirando e passando a mão no rosto. - Vamos ter que fazer a janta com o que eu consegui comprar, não vou arriscar sair, ainda posso dar de cara com ele, por que ele e aquela mulher estavam acabando de chegar.
- Dessa vez eu vou deixar passar, mas dá próxima vez você volta para o mercado. - disse Yuh.
Então o resto do dia passou, o dia seguinte também, assim como o seguinte a ele. Sooyan não voltou a encontrar com ninguém que pudesse reconhecer sua antiga identidade.
Era noite e ela estava voltando do trabalho, estava exausta, não havia dormido nada na noite anterior, nem a anterior a ela, seus pensamentos gritam com a possibilidade de sua nova vida desmoronar como a antiga. Ela estava prestes a digitar a senha da fechadura eletrônica na porta de casa quando ouviu:
- Oi.
Ele olhou para o lado e viu Changbin parado na porta vizinha, ele estava com metade do corpo para fora, como se tivesse saído por ouvir os passos da garota, ela sentiu seu coração acelerar, mas se lembrou das palavras de Yuh, talvez ele não a tivesse reconhecido e se ela agisse de forma estranhamente poderia levantar suspeitas.
Sooyan sorriu educadamente e cumprimentou o rapaz.
- Oi, boa noite.
- Queria me desculpar por aquele dia. - disse Changbin saindo pela posta e dano alguns passos no corredor. - Vi que a tela do seu celular acabou quebrando.
- Ah, tudo bem, eu já consertei. - disse a garota balançando a cabeça. - A culpa foi minha, eu não estava prestando atenção.
Changbin murmurou e se aproximou mais alguns passos fazendo o coração da garota disparar dentro do peito.
- Eu sou o Chang-Bin, mas... você já deve saber. - ele murmurou se lembrando de seu nome ter sido dito para a garota quando se esbarraram.
Sooyan balançou a cabeça e apertou a alça de sua bolsa tentando conter o nervosismo.
- E-eu sou a Tak Soo-yan, muito prazer.
- O prazer é meu. - disse Changbin balançando os braços. - Eu acabei de alugar esse apartamento por um tempo, então somos vizinhos. Se precisar de um pouco de café, ou de açúcar... Pode chamar.
Sooyan franziu os lábios em um falso sorriso e começou a digitar a senha em sua fechadura.
Quando ela virou a maçaneta e empurrou a porta, ela ouviu:
- Você não mudou nada, sabia?!
Então ela parou e sentiu um calafrio, engoliu a seco, mas tentou disfarçar.
- Desculpa, não entendi.
Changbin sorriu e se aproximou mais da garota, parando quase ao seu lado.
- Quando eu conheci você naquele bar, antes mesmo de você conhecer o Han Jisung, uma das coisas que mais me chamou atenção e que eu achei lindo em você foram as marcas que você tem no ombro direito, são como aquelas constelações: Bellatrix em cima, mais no pescoço, Saiph e Rigel mais a baixo. - ele fez pontos no ar como um triângulo na diagonal quando nomeou as estrelas por ordem.
Sooyan engoliu a seco, poderia estar com os ombros cobertos agora, mas se lembrou de que quando esbarrou com ele na frente do elevador, ela havia saido de casa sem o casaco ou o cachecol. Era difícil de acreditar que um detalhe tão pequeno tenha chamado atenção dele.
- O que? - ela riu tentando disfarçar. - Você está me confundindo com alguém só por que viu uma marca no meu ombro? - ela riu novamente. - Sabia que existe um negócio chamado "coincidência"?
- Sim, e eu acredito nisso. - disse Changbin balançando a cabeça. - Concordo que pode ser coincidência você ter essas marcas no mesmo lugar que ela. Mas ela também tem essas mesmas marcas no outro ombro, porém de ponta a cabeça.
Sooyan ficou estatalada por um tempo, mas logo riu sem vontade novamente.
-Você por acaso é maluco?
Changbin suspirou frustrado por ver a relutância da garota e pegou o celular no bolso.
- Bom, então já que você não é ela, eu vou te apresentar a um amigo meu, você vai gostar dele. - ele digitou um número no teclado. - O nome dele é Han Jisung.
O coração de Sooyan pareceu que iria sair pela boca e ela entalou em silêncio, sentiu seu corpo estremecer e suas pernas começaram a formigar.
- Está bem, está bem. - ela pôs a mão na frente da tela o impedindo de continuar a digitar, ela o olhou com as sobrancelhas franzidas. - Por favor, não... conta.
Changbin sentiu um misto de emoções sorriu tendo a confirmação que queria.
Os dois sairam dali e subiram até o terraço do prédio, ficaram conversando por um tempo e a garota contou a ele sobre o coma, ela preferiu não citar sobre Hyunjin ou dar detalhes do resto... Só disse a ele que estava farta e queria deixar tudo aquilo para trás e recomeçar, pediu para que ele não contasse a ninguém, porque ela não queria dar espaço para o passado.
- Todos nós ficamos bastante preocupados com você, o Han principalmente.
- Eu sei que ele deve ter ficado, desculpa não ter entrado em contato, mas... as coisas estavam tão ruins, como um trem cheio de pessoas que saiu dos trilhos. - ela expressou como se sentia sentada no chão lado do rapaz olhando o céu escuro. - Eu estava magoando a mim mesma e as pessoas ao meu redor.
- Sei que não deve ter sido fácil passar por tudo, mas deixar todos nós para trás, como se você realmente tivesse morrido... - ele pausou. - Até a Yasmin, ela nos procurou inúmeras vezes para saber como andavam as investigações.
Sooyan suspirou. - Eu sinto falta dela também, mas a Yas é estabanada de mais. Se ela soubesse que eu estou... viva, todo mundo já saberia.
Changbin suspirou.
- Tudo bem, eu vou respeitar seu desejo.
- Obrigada. - ela disse, sentiu seu celular vibrar e o pegou, era uma mensagem. - Eu preciso ir agora.
- Tudo bem. - ele se levantou e estendeu a mão para ajudá-la a se levantar.
Sooyan agarrou a mão do rapaz e se levantou, limpou a rouba e desceram pelas escadas até o corredor do andar onde residiam.
- Então, - a garota pausou. - você está morando aí pra valer?
- Na verdade todos nós estamos aqui, digo, em NY, viemos a trabalho, mas não vamos ficar muito tempo. - ele contou. - Só vamos ficar essa semana.
- Ahn... - ela murmurou desviando o olhar pensativa.
Changbin identificou a preocupação da garota, e sorriu tocando seu braço.
- Fica tranquila, eles não estão tão perto daqui.
Sooyan respirou aliviada.
- Ah, que bom, já estava preocupada.
Eles se despediram e ela entrou em casa, contou a sua amiga que foi sim reconhecida por Changbin, e ela ficou preocupada com isso, mas agora quem não estava era a própria Sooyan, ela confiava em Changbin, afinal eles tinham um segredo que ninguém nunca soube justamente por ele ter conseguido guardar tão bem.
Então a semana foi avançando e ela continuou vivendo sua vida normalmente como antes de encontrar Changbin, encontrou com ele no elevador por mais duas vezes, e apenas se cumprimentaram com um sorriso, essas vezes ele estava acompanhado da mesma garota que estava da primeira vez.
Por algum motivo ela parecia familiar para Sooyan.
VOCÊ ESTÁ LENDO
v2 - Not Celebrity • Want You Stay
FanfictionDepois de quase morrer e ter a vida virada de ponta cabeça, Sue-Yang decide assumir outra identidade e viver sua vida longe daqueles que contribuíram para seu colapso mental. Mas o passado bateu em sua porta [...]