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Quando cheguei em casa depois da detenção, tomei um banho rápido e desci para jantar. Encontrei infelizmente meus pais sentados a mesa.

-Filha- meu pai começou- Tente entender o nosso lado querida...

-Entender o que? O quão burra e cega eu fui por criar expectativas que um dia isso- apontei para eles-daria certo. É isso mesmo?

Meu pai continuava calmo.

-Chega um momento na vida de um casal, que o amor não é mais o mesmo de antes.

Minha mãe completou:

-Então se o amor não uni mais os dois, é porque já é hora de parar de insistir e seguir suas vidas a frente.

Agora eu percebi que as viagens, o trabalho, as horas extras, as trocas de olhares revirados, tudo... Não era só o trabalho, eles estavam dando um tempo desde sempre e eu não havia percebido. E foram aquelas palavras ditas por eles agora a pouco que passaram a fazer tudo ter sentido.

Eu os encarei por três minutos.

-Filha por favor.- pediu minha mãe.

-Me dêem licença- eu disse enquanto levantava da mesa.

-Você não pode simplesmente fugir disso Maya- meu pai protestou mais ainda mantia a voz calma.

-Quem disse que não posso?- agora eu já estava totalmente em pé, caminhando em direção ao meu quarto.

-Esperava mais de você querida- minha mãe disse.

Perdi a paciência, a que eu na verdade não tinha.

-Merda. Cansei, cansei disso tudo. Desse teatrinho sem pé nem cabeça. Eu mudei, mudei se é que não perceberam. Não sou mais a Maya bobona de antes, tá legal ? Eu mudei mãe.- eu cuspia as palavras- E também ninguém nunca mandou vocês colocarem expectativas em uma pessoa que passa o dia enfurnada no quarto, perguntando o que a de errado em minha família, escondida sem poder viver de verdade essa merda de vida patética!

Dizendo isso, bati a porta da frente. Não iria ficar ali. Precisa de ar fresco, precisava respirar.
Caminhei pela rua que agora se encontrava deserta aquela hora da noite- eram mais de nove- O vento soprava uma brisa leve, a lua minguante reluzia do alto, as estrela dando sua contribuição no céu. Um manto escuro coberto por purpurina- eu dizia quando criança- Minha vida agora se dividia entre o antes e o depois Era impressionante como tudo havia mudado desde então. A exatamente quatro anos atrás eu era uma adolescente sonhadora, que sonhava poder casa com um Príncipe encantado... Bem, hoje eu sou o oposto disso, e prefiro apesar de tudo, o que eu sou hoje do que era antes.

Esbarrei em algo ou alguém sem percebe.

-De novo!- era o Austin parado em minha frente.

-Você!- exclamei também surpresa.

-Parece que isso virou rotina agora.- ele sorrio.

Não consegui retribuir o sorriso e acho que ele percebeu minha cara de cachorro abatido.

-Você esta bem?

Aquela perguntinha me fez se sentir tão frágil, tão pequena e vulnerável; que eu sem entender- Não sei se foi pelo meus sentimentos que estavam bagunçados, ou a intensidade que ele me olhava- eu estava o abraçando.
Ele me apertava contra o peito forte enquanto eu soluçava em seus braços.

-Sempre achei desde o começo você tão durona.- comentou ele para amenizar o clima.

Me afastei bruscamente dele e sequei as lágrimas irritada comigo mesma.

-Foi mal- eu disse envergonhada.

-Não precisa ser forte o tempo todo Parker- sorrio de lado- Agora eu fiquei curioso... O que esta fazendo aqui fora tarde da noite ?

-Te pergunto o mesmo.

-Hum... só querendo organizar um pouco a mente e respirar um pouco de verdade.

-Entendi.

-E você?

-O mesmo que você.

Caminhamos em silêncio, ele com as mãos enfiadas no bolso do casaco, os olhos azuis tristes olhando para frente, eu com as mãos enfiadas no bolso da calça jeans, olhando para baixo.

-Tô começando a achar que você anda me seguindo.- ele brinca

Sorrir.

-Eu que o diga. Também desconfio de você garotinho.

-Brigou com seus pais?- perguntou depois de um tempo.

-Sim- sussurrei.

-É, eu também. Discutir com o meio pai, de novo para variar.

-Sei bem como é- eu disse, e sabia mesmo.

-É...

-Você deveria tentar conversa com ele.- sugerir.

-Não acho que essa seja uma boa idéia.

-Por que? É tão mais fácil quando falamos o que sentimos.

Ele me olhou confuso. Calma ai quem eu estava querendo enganar? Eu mesma escondia meus sentimentos, por que ele não poderia fazer o mesmo?

-É complicado.- foi só o que disse.

-É.

Ele mudou de assunto.

-Estamos quites agora! Eu melei sua suposta blusa favorita de iogurte de morango e você encharcou a minha com lagrimas.- ele riu

Sorrir novamente.

-Enfim quites!

E naquele momento virei amiga de Austin Cooper. O garoto que derrubou iogurte de morango em mim, cujos olhos eram da cor do mar e que pareciam sempre tristes. Percebi que depois daquilo, da conversa, dos sorrisos, do momento, nós dois nos dariamos muito bem.

MINHA VIDA DE CABEÇA PARA BAIXO.Onde histórias criam vida. Descubra agora