E as Buscas Continuam

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-Vasculhem por todos os lugares! Conversem com os moradores! Encontrem o irmão do rei!- a comandante gritou as ordens para seus homens, enquanto ela mesma abria um enorme mapa da cidade, procurando pelo paradeiro do cunhado.

Bella achou esse mapa na biblioteca do castelo. Uma verdadeira preciosidade, em papel fino e amarelado, retratando todas as construções da cidade nos últimos anos, feito inteiramente à mão. Ana o encontrou e entregou para a amiga antes que ela saísse do palácio.

Bella está há dois dias em uma base improvisada montada na estrada que liga o centro mais próximo e o palácio. Uma tenda branca foi estendida nos campos vazios e soldados circulam pelas cidades mais próximas, indo e voltando, trazendo relatórios da busca.

Bella reassumiu o cargo de comandante e desde então não parou por um segundo com sua tarefa de encontrar Metias. Seus filhos ficaram no castelo, junto com o pai e com as dezenas de criados, sem ter muitos detalhes sobre o que estava se passando, já que ninguém sabia direito o que estava acontecendo.

Lily e Will foram informados das atuais crises internas no reino, sobre esse novo grupo rebelde que surgiu e sobre o desaparecimento do tio, tiveram de aprender essa coisas por meio de seus professores, que os prepara para no futuro assumir as rédeas do governo, mas os pequenos, Georgina e Melvin, foram poupados do caos.

As princesas, irmãs do rei, assim que receberam a notícia do suposto sequestro do irmão, resolveram estender sua estadia no palácio por mais alguns dias, desesperadas e preocupadas demais para retornar às suas próprias moradias.

Melvin foi, na verdade, o primeiro a notar a falta do tio, pois na noite em que o mesmo não voltou para casa, o menino estava nos aposentos de Metias, aguardando que ele chegasse ali a qualquer momento para contar sobre um caramujo que encontrara no jardim.

O pobrezinho chegou até a perguntar se seu tio estava morto e dizia coisas como: "eu quero meu tio" e "ele foi embora para valer, eu sei". As criadas faziam um ótimo trabalho em mantê-lo longe do aflito rei e em entretê-lo o máximo que conseguiam.

A última notícia que tiveram do príncipe foi de um idoso afirmando tê-lo visto com dois acompanhantes dentro de uma carruagem, passando por uma estrada de Arandunas. Notícia claramente falsa, e ignorada pela comandante.

Bella alisa o pedaço de papel por baixo de seus dedos calejados, estudando a cidade. O lugar mais provável que pensou foi um antigo prédio, abandonado há alguns anos, construído como uma taverna. Mandou guardas para lá imediatamente e aguardava ansiosamente o retorno deles.

Enquanto estava imersa em seus pensamentos, dois soldados retornaram das buscas e agora pediam permissão para reportar-se diante da rainha. Assim que notou a presença deles, Bella ajeitou sua postura e aproximou-se, gesticulando para que falassem.

-Majestade, encontramos na taverna abandonada, além de vários cacos de vidro, resquícios de uma fuga apressada, e também pedaços de corda jogados no chão- o soldado mais forte anunciou.

-O que isso significa? Será que aquele lugar era uma espécie de base dos Libertadores?  Como eles sabiam que estávamos vasculhando aquela área? Será que moveram os prisioneiros de lugar?- a rainha pensava em voz alta, andando de um lado para o outro.

-Comandante, também apreendemos um garoto suspeito que ficou nos observando de um beco durante as operações- disse o soldado mais baixo, e também mais novo- É apenas um garoto, mas não podíamos deixar passar...

-Claro, claro. Onde ele está?- Bella perguntou.

Quando disse isso, um outro homem entrou na tenda, trazendo ao seu lado um garoto magrelo, de cabelos escuros longos e sardas no rosto queimado de sol, um contraste com seus olhos incrivelmente verdes e com suas roupas maltrapilhas. O homem parecia apertar o braço do garoto com força, obrigando-o a manter postura diante da rainha. Bella franziu o cenho, com desaprovação, para essa atitude do soldado.

-E quem é você?- ela perguntou diretamente para o menino.

-Ele se auto-intitula de Rato- respondeu o homem que o segurava. Bella acenou com a mão, indicando que o soldado liberasse o aperto no braço do assustado preso.

-Onde estão seus pais?- perguntou novamente.

-Nunca tive pai ou mãe- o garoto respondeu amargamente.

A rainha sentiu pena do garoto e teve de conter o instinto maternal de dar-lhe um abraço.

-Você sabe quem eu sou e o por quê está aqui?- ela disse gentilmente.

-Sei sim, Vossa Majestade- o garoto disse maldosamente, como se desprezasse esse título- E tudo o que posso lhe dizer é que ninguém sabe onde o adorado príncipe se encontra. Ele fugiu pouco antes dos Libertadores abandonarem o lugar ao descobrir sobre as buscas na região.

Os três soldados na sala pareciam inquietos, surpresos com a confissão do garoto que até poucos minutos jurava não saber de nada do que estava acontecendo, mas Bella não, seus olhos demonstravam preocupação e alívio ao mesmo tempo, e ela não se importou com o fato desse garoto aparentemente odiá-lá.

-E qual era sua relação com esse grupo rebelde, Libertadores, para saber de tantos detalhes privilegiados?- ela continuou, feliz por finalmente ter notícias concretas do cunhado.

-Sou um deles- ele anunciou orgulhosamente.

Bella não disfarçou sua surpresa dessa vez. A rainha ordenou que os guardas tirassem o garoto dali e que continuassem o interrogatório com ele no castelo, diante do rei. Agora, ela precisava concentrar todo seu esforço em encontrar Metias, onde quer que ele estivesse.

A História Não Contada do Príncipe MetiasOnde histórias criam vida. Descubra agora