Uma onda de gritos e palmas eclodiu pelo salão oval. O corpo de Pentacus foi arrastado até o pátio exterior do castelo, onde seria enforcado na frente de todos os civis em um grande espetáculo. Daniel, no entanto, não acompanhou aquela multidão. Ele adentrou, seguido pela princesa Lily, às entranhas do palácio até a enfermaria.
Aproximou-se da cama em que Bella dormia pacificamente. Em seus braços estava uma sonolenta Georgina e um entediado garotinho de cabelos loiros que brincava com os dedos da mão. Sentada em uma cadeira ao lado da cama e cujos olhos negros tomavam conta das crianças, Lea, com seus cabelos escuros presos em um alto coque, descansava com um livro em mãos.
Will não estava ali, pois após o fim do julgamento que ele não houvera feito questão de assistir, havia se voluntariado para substituir sua irmã mais velha como representante da família Cantare Delle junto de Metias na execução de Pentacus.
-Bella,- Daniel disse suavemente, passando a mão pelos cabelos castanhos dela esparramados pela cama- acorde, meu amor, acabou.
A sombra de ódio e dor que dominara os olhos de Daniel apenas alguns momentos antes enquanto condenava aquele homem detestável ao seu fim, havia se dissipado completamente, como se nunca sequer tivesse estado ali, quando estes encontraram os olhos castanhos vivos e recém despertos de sua esposa.
-Acabou- ele repetiu. Beijando sua testa.
Bella sorriu sonolentamente e se sentou, acordando Georgina no processo e segurando Melvin em suas pernas cruzadas. Lily se sentou ao lado da mãe e, passando um braço ao redor da irmã mais nova que esfregava os olhos grandes e inocentes cor de avelã, acariciava seus cabelos escuros com a outra mão, ainda um pouco abalada pelo julgamento e pela visão sombria de seu pai.
-Vossa Majestade- Lea disse- suas irmãs, Liva, Ámine e Myrcela, mandaram cartas esta manhã e disseram que, devido aos recentes acontecimentos, estariam aqui até o fim da tarde de hoje para passar um tempo.
-Obrigado, Lea.
Dito isso, Lea afastou um pouco sua cadeira para dar um pouco mais de privacidade à família.
Georgina e Melvin se animaram à menção da visita de suas tias e começaram a fazer planos.
-Tia Ámine, tio Metias e eu brincaremos de esconde-esconde! E nossos primos, Fernan e Alison e Luize e Anne também, mas não quero que tia Liva fique nos repreendendo por correr- Melvin disparara a falar-, ela sempre reclama por qualquer coisinha que seja quando Fernan está envolvido! Ah, ela é muito protetora com ele!
-Mas se você chamar Fernan, eu não vou querer brincar, não! Ele sempre puxa meu cabelo e diz palavras feias! Prefiro ficar na biblioteca morrendo de tédio e montando quebra-cabeças com Myrcela e Will do que correndo por aí com aquele mimado!
-Oh, Georgie, e quem disse que você está convidada para brincar com a gente?
-Mas é claro que eu estou, Melvin! Ou eu vou contar para Will o que você fez com aquele vaso que ganhamos de tia Liva e com o par de botas que ele adorava tanto!
-Isso não é justo!
Lily começou a rir, seguida de sua mãe e seu pai. Georgina sentia-se satisfeita vendo Melvin tentar se justificar.
-Melvin, me lembre de deixar meus sapatos bem longe do seu alcance de agora em diante!- Lily disse.
-Mas não fiz nada demais! A culpa não é minha se o couro daquelas botas era uma bom brinquedo para o gato que eu tentei colocar dentro daquele vaso...
-Esperem um pouco,- Bella interronpeu- então foi você quem quebrou aquele vaso Persa do hall de entrada, Melvin?
-Então foi por isso que meu gato, Whiska, fugiu do castelo e nunca mais voltou- Daniel percebeu.
-Não...
Foram interrompidos pela entrada do Comandante Emerson na ala. Ele estava acompanhado da rainha Melinda e da princesa Helena.
-Lea, será que você e Emerson não poderiam levar esses três para passear pelos jardins do salão de festas?
-Claro, Majestade.
Lea corou ao se aproximar do alto comandante que estendeu o braço gentilmente para ela com um sorriso no rosto. Juntos eles deixaram a sala acompanhados de Lily, Georgie e Melvin enquanto Melinda e Helena, com uma leve mesura respeitosa aos donos do castelo, se aproximaram da cama no centro da enfermaria. Daniel retribuiu o gesto com um leve acenar de cabeça e Bella apontou para que elas chegassem mais perto.
-Bella, eu recebi sua carta.- Melinda foi direto ao ponto- Se é verdade que meu pai realmente teve um filho com Meena Petrova, preciso conhecê-lo imediatamente.
Havia um pequeno hematoma arroxeado em seu pulso esquerdo, uma lembrança de Nicholai, que agora também estava morto. Seus cabelos volumosos e grisalhos estavam presos para trás e uma coroa prata adornava sua cabeça, realçando o tom brilhante e único de seus olhos, olhos que pela primeira vez não pareciam carregar tristeza e amargura, mas sim, alívio, não apesar, mas sim por causa das mortes de seu marido e de seu pai. Pela primeira vez em mais de quinze anos, Melinda parecia esperançosa quanto ao seu futuro e um pouco de seu antigo eu vaidoso parecia novamente vir a tona pela maquiagem que ela havia pintado em suas faces.
-Ele está na masmorra. Não sabíamos o que fazer com ele, pensávamos que ele era apenas um menino qualquer sem nome que fora obrigado a se envolver com atividades ilícitas- Daniel disse.
-Ele não faz a mínima ideia de quem realmente seja e dos sobrenomes que carrega em seu sangue,- Bella completou- mas acho justo que ele volte para casa com vocês. Afinal, ele é da família.
-Lidaremos com ele- Melinda disse, pegando a mão de Helena para simbolizar a união do que havia sobrado daquela família.
-Metias não tem interesse em manter contato com o irmão?- Helena se pronunciou cautelosamente.
Bella e Daniel se entreolharam.
-Ele não sabe da existência desse irmão...- Daniel disse.
-...e preferiríamos manter isso assim por enquanto- Bella completou.
Helena ergueu uma sobrancelha e revezou o olhar inquisidor de um monarca para o outro. Seus cabelos vermelhos puxados do pai e volumosos puxados da mãe estavam presos em uma trança e sua pele naturalmente mais bronzeada estava um tanto quanto pálida após ter perdido seu pai e seu avô. Os olhos, a única característica que havia herdado integralmente da família Provincy, eram firmes e decididos quanto ao julgamento negativo mental que formara da família real de Cabo Delle após essa decisão deles. Eram um enigma perfeito que não deixavam transparecer para o irmão de Metias qualquer resquício de sentimento que poderia sentir pelo príncipe. Essa garota será uma rainha formidável, Daniel pensou, e está longe dos meus planos torná-la algum dia uma inimiga.
-Como desejarem- a rainha Melinda concordou, findando a conversa.
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A História Não Contada do Príncipe Metias
AventuraNesse segundo volume de "Um Conto de Fadas Nada Convencional", o pequeno Metias cresceu e agora é um jovem de 21 anos, que está noivo e morando no palácio do irmão, o rei Daniel. O problema é que o destino lhe pregou uma peça e o príncipe de Cabo D...