Como Tudo Deve Ser

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Metias e Will haviam voltado só agora da execução de Pentacus e estavam entrando no quarto quando as duas Petrovas estavam saindo. Melinda nem se preocupou em comprimenta-los e também não apresentou interesse em saber o destino do corpo do pai enquanto caminhava decididamente até a prisão do castelo, mas Helena se deteve, murmurando uma rápida desculpa de que elas haviam ido até ali para ver o estado de saúde da rainha Bella e para se despedir do rei.

Will educadamente dirigiu uma mesura para a princesa e entrou na enfermaria. Seu humor estava ainda mais introspectivo que o normal após ter visto um homem sendo enforcado bem diante de seus olhos, mas iria se encontrar com Octavio Lince para jogar cartas ainda hoje e isso parecia o animar. Entre Metias, que se sentia cansado pelo dia decisivo de hoje, e Helena, que aos olhos do príncipe estava ainda mais misteriosa e fechada, uma desconfortável pausa se sucedeu.

-Você sabe o que isso significa, certo?- Helena perguntou apreensiva, passando a mão por sua trança firmemente presa.

-Que agora podemos enfim ficar juntos?- Metias perguntou esperançosamente e com uma pitada de humor, mas em seu âmago já sabia a resposta. Um esboço de sorriso serpenteou pelos olhos da recém tornada órfã.

Metias havia gentilmente alcançado a mão direita da garota, obrigando-a a abandonar aquele gesto de tentativa de fuga através dos cabelos. Os olhos de Helena enfim encontraram os seus da cor do oceano em um dia de sol.

-Pense por outro lado, nós nunca teríamos funcionado juntos, você sabe... divergência de gênios. Somos o completo oposto, estaríamos sempre discutindo... Ah, sem nunca chegar a um consenso!

Metias fraziu as sombrancelhas.

-E aqui estava eu pensando que o real motivo de sequer estarmos tendo essa conversa é o fato de você agora ser herdeira dos tronos de Arandunas e Província e de não poder, sob nenhuma circunstância, aliar-se a um nobre de Cabo Delle (que além de tudo é seu reino historicamente inimigo) por então passar a representar uma ameaça militar e territorial e política absurda para toda a região, beirando um Império tirânico...

Ambos riram, felizes de compartilhar uma faísca de humor diante do trágico e inevitável rompimento amoroso.

-Mas acho que você está certa, Helena, a longo prazo não iríamos funcionar...- a hesitação em sua voz era resultado daquela pequena dúvida interna que ele nunca iria poder saciar- O que não significa que eu possa apagar o fato de ter ingenuamente me apaixonado pelo meu inimigo...- e novamente o príncipe apelou para o humor para aliviar o clima- Mas é que havia alguma coisa de muito atraente na maneira como você me tratava com tamanha grosseria!

As palavras não ditas por Metias, e implícitas naquela frase, é que o que realmente o hipnotizou e o fez cegamente seguir uma garota qualquer por um campo de flores e pelas entranhas de um reino inimigo foram os olhos tristes. Sempre aqueles olhos que pareciam carregar o peso do mundo e um sombrio histórico familiar por trás das aparências.

Helena riu novamente e, segurando a mão que ainda encontrava-se entrelaçada com a sua, ela pronunciou um "perdão" silencioso com os lábios. Ficaram em silêncio novamente até que ela concluiu:

-Então é isso.- Helena sorriu carinhosamente.

-É isso.- Metias retribuiu o sorriso.

-Então até mais, Garoto dos Cabelos Dourados.

-Adeus, Garota das Flores.

Helena carregava no fundo a certeza de que o caminho dos dois voltaria a se cruzar em circunstâncias não muito amigáveis por conta do segredo que eventualmente os reuniria novamente, enquanto Metias acreditava que ambos só voltariam a se reunir à distância em eventos sociais. Desentrelhaçaram os dedos de suas mãos até então unidas e seguiram para lados opostos, sem olhar em momento algum para trás.

A História Não Contada do Príncipe MetiasOnde histórias criam vida. Descubra agora