Vida que Segue

387 58 4
                                    

Depois de alguns dias desaparecido, o príncipe Metias foi finalmente encontrado pelas tropas reais e seus sequestradores foram dados como desaparecidos. Ao voltar para casa, a família real comemorou e sentiu um alívio sem igual. Daniel pode relaxar depois do período estressante e as crianças voltaram a rondar normalmente pelo castelo.

Quando os soldados de Bella avistaram o príncipe correndo no dia anterior, foram de encontro a ele, enquanto Nika e Malcon, quando perceberam o resgate que havia por Metias, deram meia volta e se esconderam e até agora não foram encontrados.

Tudo aparentava estar normal na manhã seguinte, o café da manhã foi barulhento, cheio de perguntas, de exclamações de felicidade e alívio, e de crianças rindo e comemorando a volta do tio adorado. O palácio voltara a ter vida.

Metias, entretanto, não parecia compartilhar da alegria de sua família. Parecia estar receoso, como se tivesse algo a dizer mas não tivesse coragem para tal agora. O único que reparou foi o rei Daniel. 

Naquela tarde, Daniel foi até os estábulos em busca de seu irmão com o intuito de conversar com ele e descobrir o que estava acontecendo. O príncipe estava sentando em um banco de madeira no celeiro ao lado de um monte de feno, acariciando seu cavalo favorito. 

-O que há de errado, irmão?- o rei perguntou, assustando o desconcentrado príncipe.

-Daniel! Que susto! O que há de errado em relação a quê?

-A você. Parece meio apreensivo. No que você está pensando?- sentou-se ao lado do irmão.

Metias estava decidido a ser sincero com o irmão, só não sabia como. Uma longa pausa se seguiu até que ele começasse a falar:

-Estou pensando na minha vida... Quanto tempo mais viverei na sua sombra, Daniel? Falta quanto tempo para que eu possa começar a viver minha própria vida, sem intrigas políticas, sem pessoas atrás do meu título e do meu parentesco com o rei? Quando que eu deixarei de ser príncipe e passarei a ser apenas Metias?

O rei parecia chocado, um pouco triste até. 

-Quando eu deixar de ser rei e passar a ser apenas Daniel, só assim você terá o que deseja. Mas isso nunca acontecerá... Sinto muito que você tenha sido sequestrado e que tenha passado por dias em cativeiro simplesmente por ser meu irmão. Sinto muito que você seja filho do nosso pai também, justamente por isso, ser normal não é uma opção para nós. Simplesmente não pode ser. Nascemos assim. Temos sangue da dinastia Delle correndo por nossas veias. Carregamos o nome do reino de Cabo Delle, nosso lar. E muitas pessoas matariam para carregar esse nome, ou seu título. Muitas pessoas sonham em viver como nós. Mas isso também não é uma opção. É simplesmente a maneira como o mundo é para nós.

Metias parecia pensativo, chocado, triste, acima de tudo, contrariado.

-Sei de tudo isso, Daniel. Mas nada disso me impede de pensar o que penso. Não é justo...

Daniel se levantou. Estava irritado.

-Não aja que nem uma criança! Já passou da hora de você reconhecer que essa é a maneira como nosso mundo foi construído. Se você somente aceitasse, tudo seria mais simples, lhe garanto. Ficar por aí reclamando e se vitimizando não é bom para ninguém.

-Sei de tudo isso! Já aceitei também! Não estou reclamando do jeito como as coisas são! Estou reclamando por não ter uma vida própria! Por viver sob a proteção de meu irmão mais velho pelo resto da vida, por não ter conquistado nada meu, já que tudo já me fora dado... 

-Ninguém está lhe impedindo de viver sua própria vida, Metias. Não me culpe por isso.

Dito isso, o rei virou as costas e foi embora.

-Mas eu não culpo...- o príncipe disse para o nada.


A História Não Contada do Príncipe MetiasOnde histórias criam vida. Descubra agora