Julgamento

248 39 1
                                    

-Eu agora anuncio o início do julgamento do século- Daniel gritou para o agitado salão de nobres e governantes, tanto de Cabo Delle, quanto dos reinos vizinhos- e comando que Pentacus Provincy seja trazido até o centro.

Mal havia terminado de pronunciar essas palavras e dois guardas trouxeram o réu acorrentado ao centro do salão oval do castelo de Cabo Delle, xingamentos e vaias e cuspes foram direcionados ao ex rei que agora se via ajoelhado aos pés de um semi círculo de cadeiras ocupadas pelos membros da realeza das maiores potências da região: Daniel, ao centro, acompanhado de Metias e da princesa regente, Lily; a agora rainha de Arandunas e de Província, Melinda Provincy Petrova, e a única herdeira do trono, Helena Petrova; além do pai e do irmão de Carolina, o rei Malif Lince do reino de Linjch e seu sucessor, Octavio Lince.

Os outros nobres presentes no salão concentravam-se de pé voltados para a direção dos membros de destaque. Pentacus estava com a aparência péssima, sua pele escura, do mesmo tom da Melinda, estava com um aspecto opaco e possuia olheiras ao redor dos mesmos olhos âmbar que adornavam o rosto da filha e da neta naquele tom tão raro, a única diferença é que enquanto os da rainha brilhavam com um ar distante de profunda tristeza e reflexão, os do velho traziam um aspecto duro de crueldade e premeditação. Havia sangue seco em boa parte de sua vestimenta uma vez branca, e um longo corte em seu braço parecia inflamado e dolorido. Apesar de tudo, ele carregava um sorriso presunçoso nos lábios.

-A natureza de seus crimes é de conhecimento geral, mas tentarei resumi-los. Caso não haja uma confissão, iniciaremos a apresentação das evidências reunidas. Como você se declara, Pentacus?

O rei caído ainda tinha uma carta na manga.

-Onde está a rainha Bella, Daniel? Viva?

Um palavrão quase saiu dos lábios da princesa Lily. Metias rapidamente reprimira tal demonstração de emoções com um olhar cortante de aviso, antes que algum nobre de má índole pudesse assumir essa atitude a um sinal de falta de controle da princesa regente. Melinda parecia ainda mais consternada e a vergonha que sentia por ser filha de seu pai era visível.

O rei azul, com seu semblante já severo, pareceu inundar-se por uma sombra de dor e ódio que atravessava seus olhos azuis, tornando-os gélidos de uma maneira nunca antes vista. O salão emergiu em um mortal silêncio, observando enquanto Daniel lenta e controladamente levantou-se de seu trono e caminhou até o prisioneiro. Quando este estava a seus pés, Daniel ergueu o punho direito e desferiu um golpe violento em seu rosto. Pentacus caiu deitado no chão, um corte em seu supercílio direito recém aberto escorria sangue viscoso e púrpuro. A expressão no rosto de Daniel era mortal e ninguém tentou impedi-lo quando este posicionou seu pé esquerdo em cima do corpo caído do inimigo. Sem alterar seu tom de voz, Daniel continuou o julgamento, sem reduzir a pressão no peito do ferido:

-Atentado e assassinato contra a princesa Lilian Sophie Cantare Delle; conspiração política; terrorismo; formação da quadrilha denominada Libertadores; incontáveis mortes por mando seu e das consequências de suas maquinações, incluindo a morte do rei de Arandunas, Nicholai Petrova; tortura e cárcere de civis inocentes; fornecimento de auxílio à exilada Meena Petrova. Além da responsabilidade integral por todos os eventos da Noite Púrpura. E da tentativa de assassinato da rainha Isabella Eliza Mendessa Cantare Delle. Esqueci algo?- Daniel cuspiu no homem. Ele parecia outra pessoa. Alguém vingativo e sombrio. Alguém fazendo justiça sobretudo por sua irmã.

Lily havia esticado a mão para alcançar a de seu tio, que se obrigava a não desviar os olhos da cena de seu irmão devastado e sombrio pela ódio. Sarcasticamente, no entanto, com visível dor e falta de ar pelo aperto de Daniel, Pentacus, dirigindo um olhar de desprezo à filha e um olhar de curiosidade à neta que nunca chegou a conhecer, pronunciou apenas uma palavra:

-Culpado.

Sussurros e exasperações se espalharam ao redor do salão. Não se via tamanha inquietação entre os nobres e governantes desde o falho julgamento da Noite Púrpura. Helena parecia satisfeita apesar de triste. Melinda sentia enfim que a justiça seria feita. Octavio e o rei Malik mantiveram-se neutros, destoando com as fortes emoções que perpassavam pelo rosto de Lily e Metias. Daniel finalmente decidira se afastar de Pentacus. Ele retornou para sua cadeira no centro e esperou alguns segundos antes de anunciar a sentença final.

-Caso hajam opositores a esse julgamento que defendam a inocência do deposto rei de Província, favor manifestem-se agora- como ninguém se pronunciou em favor dele, continuou- Eu, Daniel Alexandre William George Cantare Delle, sétimo monarca do reino de Cabo Delle, filho legítimo do deposto rei Markus Geovani Philipe Cantare Delle, sexto de sua linhagem, e de Amara Marie Lince Cantare Delle, princesa do reino de Linjch e rainha por casamento de Cabo Delle, sentencio, pelo poder legal e hereditário que me é direito, o réu, Pentacus Marcius Provincy, à morte.

A História Não Contada do Príncipe MetiasOnde histórias criam vida. Descubra agora