O Começo do Fim

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Antes que o rei azul pudesse expressar qualquer tipo de surpresa ou reprovação por conta da atitude inusitada do vermelho, Nicholai, caminhando predatoriamente em direção a entrada da ala na qual o sogro se via protegido, sibilou:

-Não há brechas para moralismo em tempos de guerra, Daniel!

Bella, cujo olhar havia sido desviado da cena que se sucedeu ao prever pela intensidade maquiavélica e calculista dos olhos de Nicholai a saída que o mesmo havia encontrado para aquele "empecilho", gesticulou autoritariamente para que o cunhado tomasse medidas quanto aos reféns e o pânico que os fazia tentar fugir simultaneamente, resultando em gritos e choques de corpos acorrentados violentamente, inclusive, notara tristemente a rainha, uma garotinha de cabelos loiros compridos havia sido pisoteada por dois homens adultos que lhe cercavam no caos que se instaurara após Nicholai ter, literalmente, passado por cima daqueles cujos corpos recém apunhalados houveram sido por sua impulsividade. A criança não se levantou.

Enquanto Bella se preparava, trançando agilmente os cabelos, para seguir o rei vermelho palácio adentro a fim de enfim encerrar este absurdo doentio que a invasão havia se tornado, Daniel reunia ambas as tropas, azul e vermelha, sob seu comando, berrando ordens e organizando esquadrões para a verdadeira batalha que começava a se desenrolar nos jardins do castelo do uma vez considerado aliado reino de Província.

A rainha de Cabo Delle seguiu pela porta lateral que Nicholai arrombara segundos atrás e correu em direção a uma escada em espiral que deveria levar até o andar de cima no qual Agnar e Pentacus comandavam a cena mais cruel que ela já havia presenciado.

Chegando ao seu destino, Bella encontrou Nicholai e Agnar caminhando lentamente em círculos, ambos com espadas em punho e cuja agressividade estava exposta no ranger de dentes e na postura alerta que ostentavam. Estava claro que teria de passar por aquele general para chegar ao rei, que estava sentado no parapeito da sacada de mármore escuro, com uma taça de vinho em mãos, apreciando sadicamente o desenrolar da batalha no andar de baixo, do qual Bella só podia ouvir os sons ensurdecedores de metal e corpos colidindo e de gritos de guerra.

-Pentacus, acabou!

Quando Agnar ia se voltar para a rainha intrusa, Nicholai aproveitara a oportunidade perfeita de atacar, recobrando integralmente a atenção do homem. Esgueirando-se pela lateral da sacada, Bella se aproximou de Pentacus, apontando a arma para seu pescoço.

-Você vem comigo! Pagará por todo o mal que causou!

-Bella, Bella, Bella... Quem diria que chegaria tão longe!- Pentacus sorriu. Seus dentes eram tão brancos que assustavam.

-Do que você está falando?

-Oh, querida! Eu sou íntimo de sua madrasta, não sabia? Lógico que não. Vocês são sempre os últimos a saber de tudo- Riu.

Bella inclinou a cabeça, confusa.

-Izabel esteve aqui?- parecia estranho pronunciar aquele nome depois de tantos anos. Depois do tanto que quis esquecê-lo.

-Morou aqui, inclusive, já até dividimos a mesma cama! Era a espiã perfeita, pois por conta de suas visitas a você, soube detalhar como era a relação do antigo rei Markus com sua esposa, Amara, e mais importante, com Meena.

Bella sentiu uma inevitável ânsia de vômito com a primeira parte da fala daquele rei. Ela ia novamente tentar que o homem se rendesse, mas sua curiosidade falou mais alto:

-Qual era o seu interesse em Meena?

-Ah, sempre fui fascinado pela boa e velha sabedoria feminina. Meena me surpreendeu deveras, sabe? Quem diria que haveria outra pessoa tramando quase tanto quanto eu apenas por conta de um trono!

-O que isso tem a ver comigo, seu monstro narcisista?

-A cartada final, Isabella! O check mate!

-Para com esse complexo de superioridade e diga logo o que tem para dizer. Seu fim é certo, de um jeito ou de outro.

Pentacus revirou os olhos. Estava se divertindo.

-Tente me acompanhar, querida. Quando um reino sofre ameaças internas, o que todos os reinos ao redor e a própria população automaticamente pensam?

Pentacus gesticulou para que Bella respondesse e não voltou a se pronunciar até que essa, a contragosto, o fizesse:

-Que esse tal reino está politicamente enfraquecido.

-Exatamente. Então, questiona-se se não há alguém mais apto a assumir o trono, certo?

Novamente Pentacus aguardava por uma resposta. Queria prolongar aquele espetáculo enquanto Agnar e Nicholai lutavam arduamente por suas vidas.

-Suponho que sim- murmurou irritada.

-Como o incompetente do príncipe Metias falhou com sua mãe em sua ausência de desejo de assumir o trono, só nos restava surgir com outro herdeiro. Com a morte da rainha Amara, o exílio do rei Markus e a legitimidade de seu marido no trono questionados, por que não recorrer a boa e velha concubina do já falecido rei para nos fornecer o próximo herdeiro?

-Isso é impossível. Meena nunca foi uma rainha para seus filhos sequer entrarem na linha de sucessão do trono.

-Sim, sim, você tem um ponto. Mas em tempos de crise as pessoas tendem a aderir a qualquer mentira bem contada que lhes possa trazer uma esperança. Podem defender a ilegitimidade do legítimo monarca e a legitimidade do ilegítimo, porque este talvez melhore a situação que tanto os faz temer.

Bella estava perdendo a paciência e Nicholai parecia estar perdendo a disputa.

-Metias não tem interesse no trono! Você mesmo o admitiu.

-E quem está falando de Metias, querida?

Pentacus novamente expôs aquele sorriso inumano e maligno.

-O que você está sugerindo é impossível, Pentacus.

-Certeza? Por que creio que você já tenha conhecido Rato. Seu nome verdadeiro é Julian, apesar dele mesmo não saber disso. Ele é o filho perdido da exilada concubina do rei Markus. Comigo.

A História Não Contada do Príncipe MetiasOnde histórias criam vida. Descubra agora