Reuniões de Emergência

312 42 0
                                    

Foi a segunda vez em quase duas décadas que uma reunião de emergência fora convocada em Cabo Delle. Na primeira, o tema fora a deposição do até então rei Markus após o escândalo de Meena, hoje, na segunda, o tema está relacionado a como proceder em relação a Pentacus Provincy com as novas revelações.

O clima caótico e apressado do palácio assemelha-se ao dia em que o rei Markus fora condenado ao exílio e Daniel descobriu que teria de assumir o trono.

-Dani, você acha que entraremos em guerra contra o reino de Província?- Bella perguntou ao marido antes que a reunião começasse.

Todos os passos daqui para frente deveriam ser tomados com extrema cautela devido a rede de espiões que Pentacus possui por todos os lados. Somente a convocação dessa reunião de emergência em Cabo Delle já era uma preocupação para a rainha Bella que temia que o sempre bem informado rei de Provincy tivesse infiltrados dentro do Conselho.

-Depende da decisão dessa reunião, querida.

-Eu sei... Mas, eu estou com medo. Não sei se aguento outra batalha sangrenta. Tantas pessoas mortas, tanta destruição e dor desnecessária... Você sabe do que estou falando.

-Sim... Também espero que as coisas não cheguem a esse ponto, Bella, de verdade. Tomara que tudo possa se resolver de maneira pacífica- o rei disse.

-Que maneira pacífica há para essa situação, querido?

-Só vejo uma: Pentacus se entregar e ser julgado por seus crimes.

-Você acha que ele faria isso?

-Honestamente, não...

A rainha, mudando de assunto e impaciente com a demora para o início da reunião, contou ao marido, preocupada:

-Assim que voltamos de Arandunas, fiz como combinamos e fui interrogar Rato na prisão do castelo novamente. Ele, percebendo que não havia mais alternativas para si ou chances de fuga, acabou por adimitir o envolvimento de Pentacus na criação dos Libertadores. Ele é apenas um garoto, Daniel... A ganância de Pentacus não conhece limites.

Daniel colocou sua mão direita sobre o queixo, pensando com o bom soldado que era em voz alta:

-Ele estava tentando nos desestabilizar internamente, nos fazendo enfrentar inimigos em nosso próprio território, garantindo uma abertura para ataques externos.

-Sim. Mas o que não se encaixa é por que ele não planejou nada do tipo para Arandunas. Nicholai disse que não vinha enfrentando nenhuma grande facção criminosa, como os Libertadores, em seu território.

-Talvez ele pensasse que conquistando primeiro Cabo Delle, Arandunas seria mais simples, uma vez que sua filha era a rainha e Nicholai provavelmente comemoraria nossa derrota.

-Faz sentido... Você acha que fizemos o certo em acreditar em Melinda, Dani? Quero dizer, será que você não estava certo e tudo isso é também uma artimanha dela?

-Estou cada vez mais convicto de que a ameaça de Pentacus é real. Melinda não conseguiria planejar tudo isso sozinha, a menos que estivesse secretamente aliada ao pai, o que não acredito que seja o caso, Bella.

-Ah, Daniel, não consigo acreditar que mesmo depois de todos esse anos, ainda estamos enfrentando a mesma crise. Queria que a Noite Púrpura nunca tivesse acontecido...

-Todos nós queríamos, querida. Pelo menos temos um ao outro- o rei disse, pegando carinhosamente  a mão esquerda da esposa na sua.

-Sempre- Bella sorriu levemente.

-Eu te amo, Bella.

A resposta da esposa garantiu um pequeno momento de descontração e nostalgia à cansativa e séria reunião que estava prestes a acontecer:

-Eu sei.

O casal real, percebendo que a movimentação na sala havia finalmente diminuído, resolveu dar início a reunião, começando por explicar os motivos para a convocação da mesma tão tarde da noite.

Depois de várias horas discutindo a confiabilidade dos fatos, o quanto os próximos passos afetariam política e economicamente o reino e as relações com os reinos de Arandunas e Província, os conselheiros e governadores ficaram relutantes em acreditar na nova versão dos fatos da Noite Púrpura, mesmo com a improvisada e prévia aliança, resultante do encontro que acontecera horas mais cedo no reino vermelho, entre Daniel e Nicholai, os próprios envolvidos no evento, sobre esse assunto.

Aliança que surgira quando após  ouvir sobre a manipulação de Pentacus nos eventos que precederam a batalha, Nicholai, enfurecido pelos anos de ignorância e punição injusta, a princípio reagiu com sua impulsividade casual de voltar-se contra Daniel e Melinda, mas depois de algum tempo refletindo, acabou por se juntar a Cabo Delle nas futuras tomadas de decisões daqui para frente. Um marco histórico para ambos os governantes cujos países não viam um momento de legítima paz ou união há centenas de anos.

Agora, Nicholai, ao mesmo tempo, conduzia uma reunião semelhante a essa, e sobre o mesmo assunto, em seu próprio reino. Pela primeira vez desde seu casamento, o rei vermelho apareceu ao lado de sua esposa em um evento relacionado a parte política de Arandunas. Enquanto o rei aguardava pelo início da mesma, Melinda, sentada ao seu lado no centro do salão, lhe dirigiu a palavra:

-Nicholai, por que você nunca pediu o nosso divórcio? Você me odeia, e pela nossa lei, eu, como mulher, não tinha o direito a fazer o pedido, mas você sim. Por que nunca o fez?

Pela primeira vez em muito tempo, o rei vermelho não se encontrava completamente embriagado a essa hora da noite. É como se sua vida houvesse afinal ganhado um significado novamente. Um significado bem nítido: vingança por Lily.

-Porque eu acreditava que se meu destino era ser eternamente miserável, ao menos você me acompanharia em uma espécie de mútua infelicidade. Pensei que você merecesse ser punida.

-Certo, legal da sua parte...- Melinda, magoada, respondeu.

-Eu sinto muito, Melinda- Nicholai, superando todas as expectativas, assumiu- Sinto muito por toda a dor que te causei, por todas as vezes em que levantei a mão contra você e por ter te culpado por tudo por todos esses anos.

-Isso não é o suficiente, Nicholai... Eu quero o divórcio. Não quero mais morar com você, ou sequer ter que vê-lo.

-Então você o terá. Assim que acabarmos com toda essa história com seu pai. Te dou minha palavra- Nicholai prometeu e depois de uma pausa, acrescentou: -Pelo menos fizemos uma coisa genuinamente boa para nós dois em todos esses anos de casados: Helena.

-Sim, fizemos- a rainha magoada e ferida concordou e voltou-se para seus próprios pensamentos quando a reunião teve início.

O veredicto de ambas as demoradas reuniões acabou por ser o mesmo. Cabo Delle e Arandunas, azul e vermelho, Daniel e Nicholai, pela primeira vez na história, uniram forças contra um inimigo em comum. Haveria guerra.

A História Não Contada do Príncipe MetiasOnde histórias criam vida. Descubra agora