CAPÍTULO CINCO — CATARINA
Depois daquele dia não tornei a acessar o portal da faculdade para ver minha nota novamente, afinal querendo ou não, mesmo que eu tenha sido reprovada na matéria da Helena, eu já estava de férias.
Duas semanas após o ocorrido e depois de ter tomado a decisão pedir transferência para o noturno, meu pai foi até a minha casa para conversarmos.
Apesar de meu pai ser um pouco mais velho que minha mãe, o tempo havia sido gentil com ele. Possuía os cabelos escuros e lisos, salpicados de fios grisalhos. Os olhos castanhos escuros e as sobrancelhas cheias formavam um conjunto harmônico com seu nariz afilado e lábios finos, emoldurando-se no rosto quadrado. Sua estatura alta acompanhada do terno e sapato social impunha imponência e respeito por onde passava.
— Já não era hora de você aparecer, Alberto. — mamãe disse com desdém após recebê-lo.
Ele revirou os olhos. Sua paciência era inexistente na presença de minha mãe. Ignorou os dizeres dela e sentou-se ao meu lado no sofá, ajeitando o paletó e então contei a ele sobre a mudança de turno na faculdade e que estava disposta a trabalhar em sua empresa.
— Tem certeza que é isso mesmo que você quer? – indagou fitando-me com seriedade.
— Claro pai! – exclamei convicta ao me recordar daquele episódio lastimável com Helena. — Eu preciso sair das asas da minha mãe, não acha?! — argumentei arqueando uma das sobrancelhas.
Ele concordou acenando com a cabeça e manteve-se pensativo por alguns instantes.
— Sendo assim, depois das férias você começará a trabalhar como auxiliar de escritório em minha empresa, certo? — sugeriu após manter-se imerso em seus pensamentos, provavelmente pensando em algum cargo que eu pudesse ocupar.
— Tudo bem! — exclamei concordando com a cabeça.
Ele retirou o celular do bolso da calça e visualizou as horas, libertando um suspiro.
— Agora eu preciso ir. Tenho outras coisas para resolver, minha filha. Qualquer coisa me ligue. — disse beijando minha testa.
Em seguida, ele pegou as chaves do carro que estavam sobre a mesa de centro e o acompanhei até a porta.
— Seu pai continua o mesmo insensível de sempre. — mamãe alfinetou, despejando a sua acidez.
— Nem ligo para isso mais. – rebati dando de ombros e caminhando para meu quarto.
___
Durante minhas férias, costumava passar a maior parte do tempo na companhia de Júlia, conversando horas sobre Helena ou na frente do notebook estudando.
Por mais que eu estivesse magoada e tentasse fugir de Helena, eu não conseguia parar de pensar nela. Eu pensava nela o tempo inteiro e inclusive me assustei quando passei alguns minutos imaginando como deveria ser bom viver ao lado dela. Seria perfeito? Será que daríamos certo?
As comemorações de fim de ano foram extremamente tediosas. Havia passado o natal e o ano novo no litoral com minha mãe, visitando alguns de nossos familiares.
——
Em um desses dias monótonos, enquanto almoçava com mamãe em nosso apartamento, ela sugeriu o seguinte:
— Carol, o que acha de convidarmos a Helena para jantar conosco amanhã?
Eu esbugalhei os olhos fitando minha mãe com admiração. Fazia tanto tempo que ela não mencionava o nome de Helena. Estremeci apenas por imaginar em me encontrar com a professora novamente depois de todo aquele tempo.
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Amizade Perigosa (COMPLETO)
RomanceCarolina Guerra é uma jovem que apesar da relação conturbada com sua mãe, dona de um temperamento implacável, optou por continuar residindo com ela, após o divórcio de seus pais. Na intenção de que a jovem assumisse mais adiante os compromissos da e...