Capítulo Quinze - Amigo

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CAPÍTULO QUINZE — AMIGO

Belo Horizonte, 13 de Fevereiro.

Oi, Helena!

Mais uma entre centenas de carta que te escrevo...

Hoje está completando exatamente um mês que me formei em Engenharia. Agora sou uma engenheira... Acredito que por sua causa, acabei desenvolvendo um pequeno gosto pela profissão. Acho que na verdade, um pouco da aversão que criei, foi por conta de minha mãe.

Confesso que durante a colação de grau, enquanto aguardava para que meu nome fosse chamado, passeava com os olhos pelas pessoas presentes naquele auditório. Em meu mais íntimo pensamento, tinha esperança de que você estivesse por ali, sentada em algum lugar, sendo o mais discreta possível para não chamar a atenção. Bem, se você esteve no evento, creio que foi discreta o suficiente, pois não notei ou senti sua presença em momento algum.

Embora tenham se passado exatamente três anos, desde que tudo aconteceu, mesmo que você tenha me deixado sem respostas, meus sentimentos não mudaram. Ainda hoje tento entender tudo o que aconteceu naquele dia e me arrependo de inúmeras coisas, sabe? Eu deveria ter lhe contado sobre as ameaças de Rafaela e sobre as pequenas desconfianças de minha mãe... Talvez ainda estivéssemos juntas.

Toda vez que olho para o anel que você me deu, é como se um filme de tudo o que vivemos passasse em minha mente. Desde a primeira vez em que nos vimos, até aquela manhã triste em que todos os nossos sonhos simplesmente se dissiparam e ao menos nem tive a chance de conversar com você. Por que me evita? Por que não respondeu as cartas que lhe enviei? Ou os e-mails? Por que não atendeu meus telefonemas? Por que não deixou que Catarina me dissesse o que aconteceu naquele dia, Helena?

Apesar de eu ter me envolvido com outras pessoas nesse tempo em que estivemos afastadas, nunca me esqueci de você. É como se eu vivesse procurando por cada detalhe seu nas pessoas estranhas com as quais eu passo a noite. É como se em cada boca que eu beijasse, eu procurasse por seus lábios delicados; cada pele que eu toco, é como se eu ansiasse por te sentir, mas... Ninguém, exatamente ninguém será como você foi para mim.

Não existe um dia sequer que eu não me recorde de seus olhos me encarando com um misto de ternura e paixão, quase que impossíveis de descrever; ou de sua risada gostosa que me fazia sorrir quase que automaticamente; de suas carícias ou de cada curva do seu corpo pela qual pude navegar e experimentar; e seu perfume, tornou-se único em minha memória.

Já mencionei isso em outras cartas ao longo desses últimos anos, mas ressalto novamente... Eu nunca tive alguém que se preocupasse tanto comigo, como você se preocupou. Nunca me senti tão importante ou amada como me senti com você. Eu me senti única Helena. Unicamente feliz e realizada com você.

Quantas vezes eu pensei em procurar por você? Quantas vezes eu quis pegar um avião e ir até Buenos Aires? Incontáveis vezes. Mas você me evitou Helena. Desde aquele dia você simplesmente tem me evitado. Não me responde, não sinaliza. Apenas queria saber o que houve. Mesmo que você esteja com outra pessoa — posso presumir que você esteja — apenas queria saber. É ruim conviver com dúvidas, com incertezas que muitas das vezes me causam insônias. Há madrugadas em que eu acho que você ira se materializar, pois meu único pensamento é você e as nossas lembranças.

Nas vezes que pensei em procurar por você, fui desencorajada por vários motivos. Primeiro, porque no dia seguinte aquele acontecimento terrível, você estava com o meu pai ao telefone e doeu de uma maneira absurda, quando eu tomei o telefone das mãos dele e pude ouvir você dizendo que não queria falar comigo. Aquilo me atingiu como uma facada. Sem contar as tentativas frustradas de contato, não é?! Cartas, ligações, mensagens e e-mails. Você poderia ser menos covarde e pelo menos me responder, não acha?

Amizade Perigosa (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora