A primeira vez que eu fugi de casa

38 8 0
                                    

Na minha adolescência eu tive muitos problemas. Já no inicio dela, eu tive uma grande briga com os meus pais e resolvi fugir de casa durante a noite sem que eles percebessem. Passei dias pensando como faria isso sem deixar rastros. Pra onde eu iria? Vidigal, ficaria na casa da Diana por alguns dias e voltaria pra casa depois que a poeira abaixasse. 

Naquela noite de novembro de 2007, eu decidi que seria a noite perfeita para deixar a minha casa, meus pais tinham ido jantar com uns amigos deles, Giovanna ainda era pequena então ficou com a tia Lordes e eu estava em casa sozinha. Desci as escadas com minha bagagem para alguns dias, peguei algumas coisas da geladeira pra ir comendo no caminho até a casa da Tia Geralda. Fui andando até um ponto de ônibus próximo, e que nojo era aquele ponto, eu jurava que tinha visto um rato mas segui em frente. Peguei o ônibus que ia pro Vidgal e liguei para Diana me buscar no ponto onde eu deveria descer. 

Era a primeira vez que eu andava de ônibus, e apesar de eu ser uma pessoa simples aquele ônibus me deixou arrepiada. A passagem era cara e o ônibus não tinha o mínimo de higiene. Confesso que tive medo de sentar e esmagar uma barata ou algo do tipo.

Demorei muito tempo pra chegar ao ponto da casa da Diana, tinha um transito enorme durante toda a ida. Cheguei lá por volta das nove da noite, cansada e com medo das baratas mutantes que havia visto no ônibus. Diana fez um sinal pro ônibus pra que eu descesse, agradeci ao motorista e ao trocador com toda gentileza do mundo pra não ouvir nem um de nada de volta. 

Desci do ônibus, olhei para Diana e senti um alivio. Sabe quando você está tão mal que quando você vê sua melhor amiga e dá um abraço nela, tudo parece ser menos pesado? Dei o abraço mais apertado do mundo nela e cai no choro. Como ela sempre tem um bom astral, ela me animou e disse que não era para pensar nas brigas familiares, e pensar em coisas boas. 

Fomos a casa dela, subimos uma escada de aproximadamente 80 degraus, eu cheguei lá só o cansaço. A casa dela era bem simples, mas aconchegante de uma maneira extraordinária. Eu senti tanto amor quando cheguei lá.

"- Mãe, a Camila vai passar um tempo aqui com a gente!" Disse Diana para tia Geralda

"- Olá Camila, tudo bom? Seja bem vinda, não repara a bagunça, não sabia que você viria!" 

"- Oi tia, tudo ótimo. Obrigada."

Fomos arrumar nossas camas e ver televisão. Eu sou totalmente louca por séries então logo perguntei em qual canal passava a Warner, para minha surpresa ela não sabia nem o que era isso. Esqueci completamente que provavelmente ela não teria tv a cabo. Passamos a noite acordadas vendo programas de tv aberta, que para falar a verdade eu nem lembro quais eram, mas eu lembro que nos divertimos muito aquela noite, rimos muitos dos programas que estavam passando, cantamos Felipe Dylon que na época era o maior sucesso, e nos divertimos demais.

Durante aquela noite, recebi algumas ligações dos meus pais e meus familiares, mas por um estante eu realmente não queria lembrar de toda confusão que minha casa era, e queria só sentir o amor que tinha dentro daquela casa simples dentro da favela do Vidgal.

Fomos dormir bem tarde como toda adolescente faz, e acordamos muito tarde. Diana me chamou para dar um volta com ela pelo bairro para conhecer as pessoas e a realidade que ela vivia, mas eu não tinha levado roupa para aquilo. Minhas roupas sempre foram de "patricinha", como as pessoas dizem, por conta dos meus pais. Pois bem, ela se aprontou rápido e disse que iria me esperar lá em baixo na ponta das escadas, fiquei me arrumando e desci. E foi quando:

A vida de CamilaOnde histórias criam vida. Descubra agora