O ENEM é um pesadelo para todos os jovens do País, simplesmente porque o futuro deles depende de ir bem nessa prova e isso deixa tudo um pouco mais tenso.
Como eu disse anteriormente, eu sempre quis fazer faculdade por conta própria, e com isso vinha a pressão psicológica de passar para uma universidade Federal com o SISU. O SISU é basicamente um programa para estudar em faculdades Federais de graça e pra isso precisa-se tirar uma nota boa no ENEM.
Eu já estava no ultimo ano do Ensino Médio quando me cadastrei para o ENEM, já foi muito dificil fazer a inscrição simplesmente porque o site vivia fora do ar pelos muitos acessos que a página acabou tendo. Depois de longas horas aguardando o site funcionar para me cadastrar eu finalmente consegui fazer minha inscrição com sucesso. E foi ai que todo o desespero começou.
Meu futuro dependia daquilo e eu estava desesperada feat. ansiosa. O sistema de educação no Brasil são muito falhos, tudo ao nosso redor nos dizem que o ENEM é a maior decisão da nossa vida, que ele sim irá definir se iremos ter sucesso profissional ou não. Eu sempre "tive pra mim" (como fala a minha mãe) que o sucesso profissional de uma pessoa depende muito mais do que apenas uma prova. Conheci pessoas ao loongo da vida que sem uma faculdade e com muitas lutas são muito mais realizadas e feliz do que muito com diploma por ai, a tia Geralda por exemplo. Porém pela pressão psicológicas que os nós sofremos por essa prova, nós nos apavoramos e achamos que isso é o ápice da nossa vida estudantil (quando na verdade não é).
Assim que conclui minha inscrição, eu comecei a estudar muito para que conseguisse passar para a faculdade dos meus sonhos: A UFRJ. A estrutura da faculdade em si não é muito diferente das outras mais ela é a faculdade mais renomeada do Rio de Janeiro e com certeza ser formada nesse lugar seria um grande avanço para o meu curriculo. Eu passei mais ou menos sete meses estudando para essa prova, eu deixei de sair com meus amigos, deixei de ir para festas, deixei de levar minha irmã no parque e tudo o que eu fazia de costume, só para estudar. Eu já não aguentava mais ver livros de matemática, livros de português, livros de redação... A moça da biblioteca da escola já era minha melhor amiga de tanto que eu a via.
Depois de meses, finalmente chegou o dia da prova. Por sorte meu local da prova caiu exatamente na minha escola, a alguns quarteirões da minha casa. Para garantir que eu não chegasse atrasada, eu sai de casas trinta minutos antes de começar a prova, sendo que eu chegava na escola em cinco minutos. Passei no mercado antes, comprei bastante doce e água, como meus professores tinham recomendado, e fui para escola. Chegando lá, encontrei a minha sala, escolhi um lugar e fiquei aguardando a prova. Quantas pessoas tinham o mesmo nome que eu, nunca achei que existia tanta Camila no mesmo lugar.
Quando o sinal bateu, as provas foram entregues e meu coração ficou na boca. "Hoje é prova de humanas, minha área" pensei. O sinal bateu, os inspetores entregaram a prova e na hora que eu li a primeira questão, eu pensei: "É, eu não sou de humanas, nem de exatas. Creio que eu seja de nadas."
As questões da prova eram absurdas, muito dificeis. Eu quase comecei a chorar de desespero, passei meses estudando e eu não sabia quase nada. Eu fiz a prova do melhor jeito que podia, comi doce para me dar mais energias, bebi bastante água para ter um melhor raciocinio e esquecer a ansiedade, mas estava muito dificil. Sem contar que tudo fica pior ao ver que tem duas pessoas te vigiando como se fosse fosse uma presidiária, o que causa ainda mais pressão psicológica nos jovens que estão fazendo a prova.
Eu sai dali defastada, triste, angustiada e morrendo de vontade de chorar porém no dia seguinte tinha mais uma prova. "Redação amanhã, ufa acho que se eu tirar novecentos na redação eu consigo passar né?" pensei
Fui para casa, cheguei tão cansada psicológicamente que minha cabeça estava até doendo. Tomei um remédio e resolvi ir dormir para descançar para o dia seguinte.
Acordei já as dez da manhã, tomei banho me arrumei e mais uma vez sai cedo de casa, comprei minhas coisas e fui para o local de provas. Chegando lá fiz o mesmo que tinha feito no dia anterior. As provas foram entregues, evitei olhar a redação pois queria fazer o mais dificil primeiro, comecei a ler as questões de inglês que na verdade estavam até facéis. Li duas vezes para ter a certeza da resposta e respondi todas. Segui a prova. Questões de Português um pouquinho mais complicadas mas ainda achava que dava pra tirar uma boa nota. Até que cheguei nas piores matérias que temos na vida, o grupo de exatas. Eu nunca fui de gostar de números, e meu pai sempre dizia "a matemática está em todo lugar, até quando a Rosa vai fazer compras tem matemática." (Rosa era a nossa nova empregada), eu me recusava a usar a matemática, a menos quando eram contas tipo 2+2. Pra mim era muito dificil entrar na minha cabeça como encontrar o 'x', como eu ia usar aquilo na vida? Acho que nunca usei aquilo até hoje. Matemática era a matéria que eu sempre tirava as notas mais baixas, porém eu tentava o máximo melhorar minhas notas e elas continuavam na média.
Eu nunca fui muito religiosa mas quando eu abri o livro de questões da parte de exatas, eu entreguei tudo pra Deus. Eu sabia que não daria pra mim naquela parte, as questões eram absurdas como as do dia anterior. Eu lia as questões e na minha cabeça soava assim: "Considerando que 2 + 2 é igual a 4, calcule a circunferência do sol de acordo com o Cálculo de Einstein.".
Eu estava perdida, eu chutei tudo porque sabia que não ia conseguir fazer nenhuma questão dessas.
Logo que "terminei" as questões de exatas, fui para a famosa redação, estava positiva e animada até que li o tema da redação: trabalho na construção da dignidade humana. Eu fiquei mais tempo da prova tentando entender o tema do que fazendo as questões, por fim eu entendi que se tratava de trabalho escravo e achei que tinha feito uma boa redação.
Acabou a prova e esperei longos meses para o resultado. Quando saiu o resultado eu desabei, não ia conseguir entrar na faculdade, e muito menos em uma federal, foi assim meu primeiro pequeno grande fracasso.
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A vida de Camila
Genel KurguCamila é uma mulher que passou por poucas e boas durante toda a sua vida, com pais preconceituosos e conservadores, ela necessita passar pelas fases da sua adolescência com ainda mais coragem e força.