O nascimento da minha irmã

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Em dezembro de 2001 minha mãe ficou grávida da minha irmã, a Giovanna como vocês sabem.

Eu estava brincando com a minha polly que minha avó tinha me dado de presente quando minha mãe sentou perto de mim e disse que queria conversar comigo. Antes dela falar tudo o que precisava, meu cerebro já tinha pensado em tudo que eu podia ter feito para que ela quisesse conversar comigo. "O que eu fiz de errado?" Pensei. 

Minha mãe sentou ao meu lado no chão e disse: 

"- Filha, a mamãe tem uma surpresa para você"

"Ufa, ela não vai brigar comigo." Pensei 

"- Surpresa? É um presente? Me dá logo mãe"

Ela parecia nervosa e eu só queria ganhar o presente que ela disse que tinha pra mim.

"- De certa forma é sim um presente, mas só vai chegar daqui a 8 meses. Você vai ter um irmãozinho!"

Na hora eu fiquei muito feliz, eu iria ganhar um irmão, um companheiro, alguém pra brincar comigo e me fazer companhia dentro da minha casa, alguém que ia dividir as mesmas experiencias familiares que eu. Eu queria muito que aqueles meses passassem bem rápido porque eu já sorria só de olhar pra barriga da minha mãe que ainda nem estava grande. 

O tempo foi passando e três meses depois eu descobri que seria uma irmã, uma outra menina para brincar de Polly e Barbie comigo. Eu me sentia de um jeito que eu não sabia explicar, era uma felicidade sem tamanho, eu ia ter uma pessoa que entenderia muita coisa que eu vivia. 

Meus pais não sabiam o nome que botariam na criança, me falavam que pensavam em colocar "Maria de Fátima" e eu detestava essa ideia desde o inicio. Pedi minha mãe se eu podia pensar no nome da minha irmãzinha, um nome mas bonito e mais jovial (mesmo que naquela época eu não sabia o que jovial significava), minha mãe deixou eu pensar em um nome, disse que dependendo do nome eles não colocariam mas pelo menos ia tentar.

Há algum tempo antes, estava passando uma novela chamada "Laços de Família" onde minha personagem favorita era a Capitu, namorada do Fred. Eu não entendia nada sobre seu personagem, aliás eu via só por ver mesmo, porém eu achava ela linda, e um dia eu queria ser tão linda quanto ela. Então eu pensei sobre botar o nome da minha irmã de Capitu, mas eu sabia que minha mãe não iria gostar nada dessa ideia, decidi pesquisar sobre a moça da novela até que descobri seu nome: Giovanna. Eu me apaixonei por aquele nome e estava disposta a pôr esse nome na minha irmã. Sim, minha irmã se chama Giovanna, por causa da Giovanna Antonelli. Mostrei pra minha mãe o nome, ela gostou e decidiu mostrar ao meu pai, e assim trocamos de Maria de Fátima por Giovanna!

Quando minha mãe já estava no quinto mês, ela teve grande e fortes dores, o que nos fizeram pensar que minha irmã iria morrer. Meu pai levou ela ao hospital, e eu fiquei com a Tia Lourdes. Tudo parecia muito confuso pra mim, em uma hora eu iria ter uma irmã como eu sempre quis e sonhei, e na outra eu poderia não ter mais. Essa dor vinha acompanhada de falta de ar, tonturas e muitos outros sintomas. 

Minha mãe conta, que ela estava com muito medo de perder minha irmã, até mais que todos nós da família. Ela chegou no hospital e foi atendida com prioridade, e em 2 horas voltou para casa. Durante essa ida ao hospital, minha mãe passou por uma série de exames que comprovaram que ela estava com uma grave deficiência de ferro que causa anemia. O médico passou remédios para recompor o ferro da minha mãe e assim tentar um tratamento um tanto quanto longo porém ele disse que funcionaria. 

Minha mãe voltou pra casa, ainda com minha irmã, disse que estava tudo bem e com o tratamento tudo ia melhorar. Acreditei nela e fiquei muito feliz por ter a minha irmã apesar de todo o susto! 

Acontece que minha mãe é muito esquecida e naquela época ela esquecia sempre de tomar seus remédios, e foi assim que a anemia dela piorava a cada dia sem a gente saber. Quando minha mãe completou oito meses de gravidez, ela passou mal mais uma vez e dessa vez ainda pior. Minha mãe desmaiou na minha frente e eu fiquei desesperada, gritei meu pai e ele veio correndo ver o que estava acontecendo. Minha mãe estava no chão, e eu chorando ao lado dela. Meu pai entrou em desespero assim como eu, eu já tinha medo de perder minha irmã que ainda nem tinha nascido, imagine minha mãe. 

Mais uma vez meu pai foi correndo com a minha mãe pro hospital. Ele pegou ela no colo, colocou ela dentro do carro e partiu em busca de ajuda médica. Desta vez eu fiquei em casa, sozinha, aguardando eles voltarem. Cada minuto que passava meu nervosismo aumentava, e eu chorava mais. Eu era uma criança de 9 anos que estava com risco de perder a mãe e a irmã na mesma hora. 

Duas horas depois que eles saíram, meu pai ligou lá pra casa e avisou que minha mãe estava bem e que teriam que tirar a minha irmã através de uma cesariana. O que ele não me contou era que uma das duas poderia não sobreviver. Desliguei o telefone, ainda preocupada mas ouvir meu pai falar que ela tava bem me fez ficar menos nervosa do que estava. 

Uma hora depois eu fui dormir esperando que minha mãe chegasse em casa ainda naquele dia com a minha irmã nos braços, porém isso não aconteceu. Meu pai chegou em casa já era umas três da manhã, me acordou e me abraçou tão forte que eu achei até estranho. Eu perguntei sobre minha mãe e ele disse que ela não iria pra casa naquele dia pois teve que permanecer no hospital por causa da cesariana e por que estava precisando de uma transfusão de sangue. Logo em seguida, eu perguntei sobre a Giovanna e ele disse que ela também não iria pra casa naquele dia, pois ela estava na encubadora pois nasceu prematura. Ele me abraçou forte novamente e me disse que as duas estavam bem e que ele nunca esteve tão feliz. Terminando de me dar noticias sobre minha mãe e minha irmã ele pediu pra que eu dormisse pois no dia seguinte veríamos elas lá no hospital.

No dia seguinte, eu acordei cedo e me arrumei pra ver minha irmã. Botei minha blusinha rosa favorita que a tia Luíza tinha me dado, botei uma calça jeans cheia de brilho que eu amava, e claro meu tênis de luzinhas. Meu pai me chamou e fomos para o carro a caminho do hospital. Eu estava muito ansiosa, meu coração não cabia tanta alegria. 

Cheguei ao hospital e primeiro fui ver minha mãe, entrei no quarto e encontrei ela no soro e dormindo como um anjo. Ela já não estava com aquela melancia que ela carregava nos últimos oito meses, e parecia estar bem melhor do que quando foi pro hospital. Toda a palidez saiu e agora ela já estava até mais rosada. Meu pai disse pra sairmos e deixar ela dormir enquanto íamos ver a Capitu, quer dizer, Giovanna. 

Passamos em frente a uma janela onde tinham muito bebes dentro. Passei admirando e falando "que fofinho" pra cada pezinho que eu via pela frente. Porém minha irmã não estava ali, ela estava encubada em outra sala. 

Assim que entramos na sala que ela estava, onde também tinham muitos bebes, eu avistei uma criança muito bochechuda, muito fofinha e com furinhos nas bochechas assim como os do meu pai. Logo percebi que a bebe mais fofa e mais linda era a minha irmã, corri ao encontro dela mesmo com meu pai desesperado correndo atrás de mim, ela estava de olhos abertos e mexendo os pezinhos e as mãozinhas de um jeito muito fofo. Apontei pra ela sorrindo e olhando pro meu pai, meu pai disse que ela parecia muito comigo quando eu tinha nascido e sorriu pra mim. Pedi a ele se eu podia botar a mão ali dentro pra brincar com ela um pouquinho, ele concordou disse que eu podia, então comecei a brincar com ela até que ela segurou meu dedo, e quando isso aconteceu eu senti que ela seria a pessoa que seguraria a minha mão pro resto da minha vida, sendo parceiras, uma ajudando a outra pra sempre.

Como um ser tão pequeno nos fazia sentir tanta coisa? Tanto amor, tanto carinho, tanta paz... Apesar de todos os problemas durante a gravidez e durante o parto, em menos de um mês minha mãe e minha irmã foram pra casa. 

E foi assim que Giovanna veio ao mundo, de maneira conturbada como foi e é a nossa vida.

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