Astride Wilson
Esfreguei minhas mãos suadas no meu jeans surrado antes de descer do ônibus em frente à universidade Clifford.
Aquilo estava tão errado!
Eu deveria estar feliz pelo meu primeiro dia de aula e não tremendo, com medo de ser acusada por um assassinato.
Caminhei entre a multidão de alunos, pensando se os mesmos estavam me julgando pelas minhas costas porque já sabem o que eu fiz.
Droga, eu estava paranóica.
Decidi ir para uma cafeteria na grande praça de alimentação da universidade. Pedi um café expresso e dei a atendente uma nota de cinco dólares. Ela me devolveu o troco junto ao café. Sorri antes de dar as costas e sair, quase que correndo, em direção ao meu prédio.
Com toda a minha pressa, acabei por esbarrar em uma ruiva. Derramei um pouco do meu café em sua blusa e isso fez com que os seus olhos se enchessem de fúria ao serem direcionados a mim.
— Está cega? — perguntou ao ponto de ter um ataque histérico.
Eu estava muito envergonhada para olhar para os seus olhos escuros.
— Desculpe — murmurei dando dois passos para trás.
— Só podia ser uma pretinha mesmo, né? — disse com uma careta de nojo.
— Como é que é? — perguntei engasgada com o que ouvi.
— Ô, garota. Você não acha que já está na hora de circular, não? — ela estalou os dedos na frente de meu rosto — O meu dia já está ruim demais para uma Zé ninguém como você querer vim discutir comigo.
— Se eu fosse você, eu teria mais cuidado com o que diz. Racismo é crime, sabia? — perguntei ofendida, cruzando os braços.
— E quem vai me denunciar? Você? — ela riu debochada — Ah, faça-me o favor e suma da minha frente. Eu hein, garota sem noção — então ela botou seu óculos de sol e saiu batendo seu salto alto vermelho contra o chão de concreto.
Bufei, irritada por ainda existir pessoas racistas em pleno século XXI.
Fiz meu caminho de volta para o meu prédio, entrei no mesmo e passei por dois seguranças que - atiçaram minha paranóia novamente - conversavam sobre algo enquanto dividiam rosquinhas.
Suspirei aliviada quando não deram a mínima para mim e chamei o elevador, balançando a perna por estar nervosa.
— Me desculpe, eu estou definitivamente perdido. Você pode me dizer onde, diabos, fica essa sala? — um garoto bronzeado um pouco mais alto que eu, de cabelos castanhos e olhos escuros, perguntou.
Ele carregava três livros em um braço só enquanto tentava ler o mapa do prédio com a outra mão.
— Eu estou indo para lá agora — disse, depois de ler o seu horário. O elevador chegou no térreo e eu entrei no mesmo — Você não vem? — perguntei com um sorriso, segurando a porta.
Ele assentiu e entrou no cubo metálico. Apertei o número do andar e senti o pequeno impacto quando o elevador começou a subir.
— Prazer, me chamo Simon — ele esticou a mão e eu agarrei a mesma.
— Astride — me apresentei, ainda sorrindo.
— Você me parece familiar — ele estreitou os olhos — Acho que vi você na festa dos calouros — senti meu estômago esquentar.
Meu sorriso sumiu e eu passei a mão por minha testa, sentindo os pequenos pingos de suor formados nela.
— Olha, chegamos! — disse exageradamente quando o elevador se abriu e eu aproveitei para saltar para fora. O garoto ficou confuso, mas logo me seguiu.
Tentei me concentrar em achar a sala e, quando a encontrei, corri para sentar no topo da mesma. Na última fileira de cadeiras.
Respirei fundo quando vi que o garoto sentou em uma das primeiras, longe de mim. Eu não podia arriscar continuar aquela conversa e estragar tudo.
Vi a professora entrar na sala. Os alunos, que estavam em pé, se sentaram.
— Bem-vindos à universidade Clifford — ela sorriu gentilmente — Irei fazer a chamada antes de dar continuação a aula, okay? — todos responderam um "sim" em uníssono.
Então meu olhar foi atraído pelo sacola plástica ao lado da bolsa da professora, onde ficou fixado.
Flashback On
Entrei em casa nas pontas dos pés, torcendo para que minha mãe não acordasse e me visse carregando uma sacola suspeita com panos manchados de sangue.
Fui para uma área à parte da cozinha, onde havia um tanque. Despejei os panos lá, os encharquei de sabão e água sanitária para conseguir lavá-los. Eu teria que os deixar limpos, antes de rasgá-los e jogá-los no lixo.
— Filha? — uma luz foi acessa.
Me virei abruptamente, cobrindo os tecidos atrás de mim.
— Mãe? O que está fazendo acordada à essa hora? — tentei soar o mais natural possível.
— Escutei um barulho e pensei que estivéssemos sendo assaltadas — ela riu — O que está fazendo? — estreitou os olhos em minha direção.
— Eu menstruei assim que deitei e melei os meus lençóis! — menti, sentindo minhas pernas tremerem.
— Hmm — ela bocejou — Não demore muito para dormir, okay? Eu amo você — ela disse, indo para o seu quarto com o apoio de sua bengala.
Suspirei de alívio.
Flashback Off
— Astride Wilson? — a professora chamou — Srta. Wilson, está aí?
— PRESENTE! — praticamente gritei com o braço esticado, saindo do meu transe.
As pessoas se calaram e se viraram para me encarar. Sorri forçadamente, abaixando meu braço. A professora assentiu e continuou com a chamada.
Ótimo primeiro dia de aula, Astride.
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A Cinco Chaves
Mystery / ThrillerCuidado! Esta história não é sobre jovens inocentes. Astride Wilson, Apolo Phillips, Diana Baker, Isadora Campbell e Isaque Cooper tinham tudo para começarem a universidade de seus sonhos com o pé direito, mas tudo vai por água abaixo quando acabam...