Tuesday

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Isaque Cooper

Eu estava tremendo e suando frio quando meus pais me deixaram nos portões da universidade. Eu não dormia bem desde aquela noite, eu vim tendo pesadelos que sempre terminavam com o loiro morto vindo atrás de mim para comer o meu cérebro.

Quando eu estava a caminho da minha sala de aula ontem, esbarrei com um dos atletas e quase desmaiei, porque pensei que fosse o cara. E toda essa paranóia é, na verdade, a culpa me corroendo de dentro para fora.

— E aí, cara! — ouvi alguém falar para mim e passar o braço ao redor do meu pescoço.

Parei instantaneamente de andar.

— Eu só tenho o dinheiro do lanche — pus as mãos no bolso, pronto para entregar minha nota de dez dólares ao garoto ao meu lado. Ele gargalhou.

O quê? Não! Eu não quero o seu dinheiro — suspirei, botando o dinheiro de volta no bolso de meu jeans — Por que eu iria querer o seu dinheiro?

— Se não quer o meu dinheiro, então, o que quer? — estreitei meus olhos para tentar descobrir a brincadeira de mal gosto que estava por vir.

— Bater um papo numa boa? — o garoto arqueou uma sobrancelha, certamente me achando estranho.

— Não estou afim — disse cortante e voltei a caminhar em direção a minha sala.

— Cara, espera — ele correu para me alcançar — me desculpa se eu te assustei, eu juro que te abordei sem más intenções — ele levantou os braços em rendição.

— Tudo bem — eu murmurei, ajeitando o meu óculos que insistia em escorregar pelo meu afinado nariz.

— Bom, é que eu sou calouro e você está indo em direção a mesma sala que eu, então eu pensei: por que não fazer novas amizades, não é mesmo? — ele falou freneticamente ao meu lado — A propósito, me chamo Lucas — ele se apresentou.

— Isaque — me apresentei, sem parar de caminhar.

— Olá, Isaque, você parece ser gente boa, mas não muito comunicativo — ele comentou.

Paramos em frente à sala de aula. Então, finalmente, pude lhe avaliar.
Lucas tinha uns quilinhos a mais do que eu, o que fez seu rosto ser redondo e suas bochechas ganharem destaque. Ele era branquelo e usava uma camisa do Star Wars. Seus grandes olhos eram cinzentos, o que é bizarro e legal ao mesmo tempo.

— Desculpe, eu só estou — tentei mediar minhas palavras para não levantar suspeitas ou falar besteira — um pouco cansado — menti e forcei um sorriso.

— Tudo bem, amigo — ele bateu levemente em minhas costas — a aula já vai começar, você não vai entrar? — ele apontou com a cabeça para porta.

— Estou atrás de você — ele assentiu.

(...)

Quando o dia finalmente chegou ao fim, eu senti meus dedos doerem por causa das oito páginas de anotações que fiz. Pode não parecer tanta coisa, mas eu sou acostumado a digitar e digamos que escrever esteja sendo uma novidade para mim. Lucas também estava cursando engenharia, então tínhamos as mesmas aulas. Ele até que é um cara legal, seu único problema é falar muito.

Lucas gosta dos mesmos jogos e filmes que eu, o que já é um avanço. E durante todo o dia, ele não desgrudou de mim, o que foi uma novidade. Nenhuma pessoa falou comigo por tanto tempo, com exceção dos meus pais e dos meus companheiros de crimes.

Falando neles, encontrei com a Isadora no refeitório. Ela sorriu para mim e eu esbarrei em uma lata de lixo. Todos riram e eu fiquei mais vermelho do que um tomate.

O que foi? Não estou acostumado a receber sorrisos, principalmente de meninas bonitas como ela.

(...)

Isadora Campbell

Depois do acidente, eu sonhei com aquela noite todos os dias. Eu lembro de todos os detalhes do momento exato em que o James morreu. Eu lembro que blusa ele usava, o cheiro que tinha, o sangue escorrendo por sua boca, o ferro atravessando o seu peitoral e o som do seu último suspiro antes da vida lhe escapar.

Eu não sei o que teria acontecido comigo se aquelas quatro pessoas não tivessem entrado naquele telhado. A noite, com certeza, terminaria diferente para James. Porém, e para mim?

Bom, tentei não focar minha mente nas coisas que me lembravam do acidente. O que foi quase que impossível, pois algumas pessoas com quem esbarrei no meu primeiro dia de aula, estavam na festa. Inclusive, a ex-namorada do Roger. Ela é ruiva e bonita, mas um tanto intimidadora.

Não para mim, é óbvio.

O lado bom é que o curso ocupa minha cabeça durante boa parte do meu dia, me deixando apenas a noite para me remoer de culpa e medo.

Quando eu terminei o meu horário, fui para a praça de alimentação junto à algumas amigas que fiz na minha sala. Enquanto pedíamos o nosso lanche, eu vi um garoto caminhar pelo local. Ele foi uma das quatro pessoas daquela noite, e quando ele me avistou, eu sorri em cumprimento, o fazendo esbarrar em uma lata de lixo.

— Você conhece aquele esquisito? — Abigail perguntou.

Ela gosta de tratar as pessoas com inferioridade e se sente a dona do mundo. Infelizmente, ela tem um grande poder na escala social dentro da universidade e eu preciso me destacar de alguma forma, então foi por isso que me aproximei dela.

— Quem? — me fiz de desentendida.

— Aquele magrelo de óculos que anda de maneira bizarra — ela apontou.

— Ah, ele! — forcei um sorriso — Eu já devo ter visto ele em algum lugar, mas não faço a mínima ideia de quem seja — menti.

— Você sorriu para ele, Isadora — ela jogou verde.

— Você é cega ou o quê? Eu estava sorrindo para aquele gatinho do outro lado — apontei para um garoto bonito, ele devia ser um dos atletas.

— Se eu fosse você, não faria isso. Ele é crush da Amanda. — apontou para a amiga que praticamente babava enquanto observava o cara.

— Não está mais aqui quem elogiou — levantei os meus braços em rendição.

Ela deu de ombros e voltou a falar sobre uma bolsa super cara que comprou na Channel.

Se ela visse o meu guarda-roupa, duvido que se exibiria tanto assim.

Se ela visse o meu guarda-roupa, duvido que se exibiria tanto assim

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