Isaque Cooper

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— Meu filho, nada de computador na hora do jantar! — minha mãe me repreendeu enquanto colocava as panelas em cima da mesa de jantar sobre os variados panos de cozinha que ela possuía.

— Eu sei, mas olha como é incrível esse sistema que criaram usando código morse — virei a tela do notebook para que ela visse.

— Querido, você sabe que eu não entendo nada disso — ela riu.

Embora tenha cerca de 48 anos, minha mãe é uma mulher conservada. Ela é bonita, na minha opinião. Puxei o seu cabelo castanho, sua forma física magra e seus olhos verdes escuros.

— Isaque, sua mãe já avisou sobre o computador, ela terá que repetir? — meu pai perguntou autoritário e eu balancei a cabeça em negação enquanto fechava o aparelho, o levando até o meu quarto e o deixando por lá mesmo.

— O senhor sabe que eu posso estudar no sistema deles e dizer qual será o próximo resultado — sentei novamente na mesa. Meu pai gostava de fazer apostas baratas em números sorteados.

É algo ilógico, pois você gasta tanto dinheiro nas tentativas que, quando ganha o prêmio, você basicamente recebe o seu dinheiro de volta. É um ciclo vicioso e maluco.

— Se o nome do jogo é Sorte, qual seria a graça de não tentá-la? — ele sorriu, guardando o recibo do jogo em sua carteira.

— Querido, você pode pegar os pratos enquanto eu vou lá no quarto pegar uma coisa?

— É claro, mãe — me levantei e me dirigi ao armário.

Peguei três pratos e três copos, os equilibrei em meus braços e os levei até à mesa. Minha mãe já estava sentada ao lado do meu pai e ela sorria mais do que o normal.

— Está tudo bem? — perguntei confuso.

— Recebemos isso hoje — meu pai disse e me entregou uma folha recém-imprimida.

Tirei os meus óculos, os limpei em meu suéter e os coloquei de volta no rosto. Dei atenção ao documento e, quando vi do que se tratava, uma energia positiva tomou conta de mim.

— Você vai pra universidade! — minha mãe comemorou, batendo palmas animadas.

Ergui meu olhar para eles e ri, desacreditado.

Puta merda! — soltei o palavreado.

— Olha a boca, Isaque — meu pai murmurou.

— Desculpe! É que eu...eu...gente, eu entrei na Clifford! — afirmei, animado.

— Parabéns, meu amor! — minha mãe se levantou para beijar minha testa e meu pai se levantou para me abraçar.

Retribui seus gestos, muito feliz por ter conseguido uma vaga em engenharia.

— Eu sempre acreditei em sua capacidade, filhão — ele apertou meu ombro.

— Por que não vai contar a novidade aos seus amigos que você vive conversando na internet? Aposto que eles ficarão tão felizes quanto a gente. Não se preocupe, eu levo seu jantar para o quarto — ela disse, sem me deixar arranjar uma desculpa.

Sorri sem graça e voltei para o meu refúgio (lê-se quarto).

A verdade é que eu não tenho amigos. Sempre fui um ótimo aluno na escola, mas isso não pareceu o bastante para eu conseguir socializar com as pessoas. E quando eu tentava, era agredido fisicamente por garotos e verbalmente pelas garotas. Eu sei que as pessoas me acham estranho por ser muito alto e muito magro, também dizem que uso roupas cafonas, mas minha mãe é quem as compra e eu não posso recusar algo vindo dela. Simplesmente, não consigo.

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