Classroom

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Diana Baker

Meus dedos formigavam para postar a loucura que vivi no último sábado, mas a consciência pesada de ser cúmplice de um assassinato me fez ficar quieta.

Eu menti quando fiz uma postagem dizendo que passei a maior parte da festa conversando com uma nova amiga e, por isso, não fiquei atenta no que acontecia ao nosso redor.

Eu estava bem atenta.

Cheguei na universidade faltando meia hora para minha aula. Eu queria fazer o percurso a pé para liberar todo o meu pânico e a minha ansiedade acumulados.

Passei na praça de alimentação e comprei uma água. Na saída da mesma, reparei em uma ruiva histérica ao telefone com uma blusa manchada de café.

— Roger James, eu acho melhor você atender essa porcaria de telefone ou eu juro que mato você! — berrou antes de desligar.

Ela estava mais do que irritada.

Por pura curiosidade, acabei por pesquisar o nome do sujeito no facebook e senti meu corpo gelar quando, em meu celular, abriu o perfil do loiro que havíamos matado.

Antes que eu desabasse ou tivesse uma crise igual aquela garota, corri para o meu prédio. Esbarrei em algumas pessoas e as pedi desculpas.

Achei o auditório onde seria minha primeira aula, a maioria das pessoas já ocupavam seus lugares e uma parte delas ainda estavam em pé. O auditório era largo, possuía cadeiras enfileiradas e um enorme quadro negro na frente.

Ocupei uma das cadeiras e respirei fundo, contando mentalmente até dez. Eu não poderia surtar a cada vez que escutasse o nome do garoto, ninguém sabia do que aconteceu. Certo?

— Olá! — uma garota sentou ao meu lado com uma prancheta em mãos.

Ela tinha cabelos castanhos na altura do queixo, usava um suéter amarelo mostarda e uma saia vermelha sangue.

— Oi? — virei minha cabeça na direção contrária para me certificar de que ela estava falando mesmo comigo.

— Você deve ser a aluna nova, sou Vilma — ela estendeu sua mão direita para um cumprimento.

— Me chamo Diana — a cumprimentei — Baker. Diana Baker. — sorri forçadamente enquanto ela ajeitava seus materiais na cadeira ao meu lado.

— Engraçado, eu acompanho um blog de fofocas que o nome da garota é o mesmo que o seu — ela gargalhou, tirando de uma caixa seus óculos de graus e os pondo.

— Por acaso é o Fala Sério? — perguntei curiosa.

— Sim, você também acompanha? — ela perguntou, abrindo seu caderno, totalmente distraída.

— Na verdade, eu sou a escritora de lá — murmurei e ela arregalou os olhos.

— MENTIRA! — gritou.

— Verdade — rebati em um sussurro, envergonhada por sua reação exagerada.

— Caraca, eu te acompanho desde o ano passado. Eu sou uma grande fã! — ela disse empolgada.

— Obrigada? — sorri.

— Eu tenho tantas perguntas! — ela fez gestos para se expressar — Por exemplo, como foi a festa de calouros? Eu iria, se fosse caloura — ela riu da própria piada.

Senti meu estômago embrulhar.

— Bem-vindos de volta ao inferno — um professor disse em voz alta enquanto entrava na sala, me fazendo rir da sua comparação e atraindo sua atenção para mim — Então parece que temos novas vítimas — ele botou seu material em cima de uma mesa e se escorou na mesma — Abram os cadernos, façam anotações e se preparem para a chamada oral da semana que vem.

Pude ouvir alguns resmungos de infelicidade vindos de todos os lados.

— Ele não vai querer saber nem os nossos nomes? — perguntei alto demais para Vilma.

— Se acha tão importante ao ponto de todos saberem o seu nome? — ele perguntou, dirigindo sua atenção novamente para mim. Senti a cor do meu rosto sumir.

— N-não — murmurei trêmula.

— Na verdade, ela é a dona de um dos maiores blogs da atualidade — Vilma disse em alto e bom tom, fazendo todos me encararem e cochicharem entre si. A belisquei por trás da cadeira.

— É por isso que escolheu jornalismo? Porque escreve fofocas para adolescentes mimados? — ele bufou — saia da minha sala, você me irritou.

O quê? — perguntei embasbacada.

— É surda? Saia! — apontou com o polegar para a porta. Todos se calaram.

— Eu não vou sair! — lhe encarei como se aquilo fosse um absurdo.

O que de fato era.

— Como é que é? — ele perguntou, semicerrando seus olhos.

— É surdo? — repeti suas palavras e cruzei os braços.

— Quem você pensa que é? — perguntou em um tom ameaçador.

— Uma garota que escreve fofocas para adolescentes mimados — mordi meu lábio inferior, tentando entender onde diabos arrumei tanta coragem para enfrentar um professor na frente da turma toda.

— Corajosa! — ele sorriu, parecendo admirado — Você poderá assistir a aula porque gostei de você, mas começar o ano com pontos negativos porque bateu de frente comigo. Que fique claro que a sorte dela é algo raro, e quem seguir o exemplo dela será expulso da minha aula. — ele ameaçou a turma, tirando o sorriso do rosto.

— Você é louca! — Vilma sussurrou ao meu lado.

Se acha isso loucura é porque não me viu ao lado de um corpo na última festa, pensei em responder, mas eu apenas sorri sem graça. É, eu estava seriamente duvidando da minha sanidade ultimamente.

 É, eu estava seriamente duvidando da minha sanidade ultimamente

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