Capítulo 5

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AMANDA

A vida é uma estrada difícil e cheia de obstáculos a ser enfrentado, ás vezes o destino acaba cruzando seu caminho com outras pessoas, estas podem te ajudar a superar barreiras que você pensou ser impossível, mas muitas vezes esse "encontrar de caminhos" tem um significado totalmente diferente. Minha mãe costumava dizer que a vida ensina pela dor, mas eu nunca teria imaginado o quão verdadeiro eram essas palavras. Eu costumava pensar que Deus tinha um proposito para mim e Maluma, que o amor que nasceu entre nós e não pode ser cultivado como eu gostaria, fosse maior que qualquer obstáculo, afinal a vida tinha me provado isso.

Mas às vezes as pessoas entram na sua vida apenas para te ensinar algo, te marcar profundamente e deixarem algo dela com você. Talvez – e por mais que me doa ter que pensar sobre isso – talvez eu apenas tivesse que encontrar este homem na vida e colocar essa criança no mundo. Já fazia algumas horas que Maluma e Daniela estavam em um pequeno escritório conversando e eu tinha que admitir isso para mim mesma, aquela sempre foi a mulher de sua vida e por mais que ele tenha abrido um espaço para mim em seu mundo, eu nunca fui ela. E como poderia.

Daniela tinha aqueles olhos verdes profundos, como se o próprio universo tivesse sido capturado em sua íris. Seus cabelos tão brilhantes e loiros caiam como ondas leves em seus ombros. A forma que ela olhou para Maluma, chamando-o de amor com tanta intimidade, era algo que eu nunca tive, algo que eu nunca teria. Mesmo surpreso e evidentemente chateado, quando ele olhou para ela, era como si pela primeira vez ele tivesse respirado após um longo tempo, como um sair de uma vida preto e branco, para enxergar cores que estavam a sua volta há muito tempo esquecido.

Eu poderia ser a mulher mais burra do mundo, ter um coração tão bom, que as pessoas se aproveitavam disso, mas havia chegado a hora de perder essa inocência, essa fé na humanidade. Crescer demora um tempo para cada pessoa e eu tinha crescido naquele estante, finalmente eu tinha "vestido minhas calcinhas de mulher adulta" e passei a olhar a situação como ela deveria ser observada.

Maluma foi a melhor coisa que eu poderia ter tido se ele fosse para mim. O clima na casa estava estranho e pesado. Todos os funcionários cochichavam quando eu sai do meu quarto. Pegando minha bolsa em silêncio apenas caminhei em silêncio e entrei na cozinha. Bryan estava encostado na parede com uma chave na mão, não precisamos trocar palavras para ele entender que eu não podia continuar ali. Entramos no carro e ele apenas dirigiu sem destino e por um momento eu desejei que o trajeto nunca acabasse.

Sentia um aperto no coração o que me fazia frequentemente prender minha respiração a espera de que a pressão das lágrimas querendo escorrer por meu rosto não obtivessem sucesso. Como chorar por um homem que nunca tinha sido meu?

Nunca tinha sido meu, dói.

_Você não tem uma consulta com a médica hoje? – escuto a voz de Bryan longe em minha mente, trazendo-me um pouco para a realidade.

_Pode ser.

_Vou levar você lá.

_Esta bem, obrigada.

O amargo em minha voz, faz-me sentir culpada, mas que culpa eu deveria ter? Eu costumava rir e ficar irritada com personagens de livros e historias que eu costumava ler, dando soluções tão simples para seus problemas na vida cotidiana, mas a verdade é esta, pura e cruel. Nós nunca sabemos o que fazer com nossas próprias vidas. Quando o sentimento é nosso, a dor é nossa, a solução mais prática se torna também a mais difícil de ser realizada, imaginada, processada.

O escritório da médica era todo rebuscado de madeira, com orquídeas azuis por todos os lados. A iluminação aliviava o peso da minha mente, fazendo com que meus pensamentos se tornassem mais claros, mais leve. Sento-me em um sofá muito macio, sentindo minhas costas entrarem em uma posição confortável. A secretária afere minha pressão e me dá um chazinho quando seus olhos arregalam para o número saindo de seu pequeno aparelho, fico um pouco preocupada.

_Vamos aferir novamente daqui trinta minutos – diz ela e me sinto culpada por não conseguir dizer "obrigada".

Bryan está segurando um pote de biscoitos da mesinha de café enquanto faz caretas para mim, sussurrando um "amanteigados". Deveria ser o primeiro sorriso sincero que eu estava dando após o choque da cena anterior.

_Amanda, a doutora vai atendê-la agora – a secretária sorri afavelmente.

Limito-me a segui-la com Bryan a minhas costas. A doutora era uma mulher linda em seus cinquenta ou sessenta anos, com certeza ela me deixava no chinelo. A doutora me encara com um sorriso no rosto estendendo sua mão para mim num comprimento educado.

_Olá Amanda, sou a Doutora Garces, seja bem vinda ao meu consultório.

_Obrigada.

_Pai, o senhor pode se sentar – brinca a doutora para Bryan, que fica tenso ao encarar-me aturdido.

_Ele não é o pai do meu bebê- esclareço envergonhada – É meu segurança.

_Entendo – diz a doutora sem graça – Você já começou a fazer o pré-natal?

_Não, devo estar com uns cinco meses e meio.

_Uou, mamãe, devemos correr com isso então.

A doutora me pediu uma série de exames e marcou uma ultrassom para daqui quatro dias, ao sair, a forma em que ela tinha me abraçado, fez com que as lágrimas quase atingissem seu objetivo. Um abraço de mãe, que eu não tinha por um tempo demais. Era como se ela apenas soubesse como as coisas estavam péssimas.

_As vezes minha querida a noite chega sem delongas, mas isso não significa que o sol não está ali.

_Não entendo – respondo-a com sinceridade.

_Você vai entender, quando o momento for o certo – sorriu ela – Te espero daqui quatro dias.

Quando estou novamente no carro de Bryan, o encaro mascar um palito no canto da boca como se não houvesse o amanhã. Bryan somente me encara, com aqueles olhos profundos e cheios de saber.

_Para onde agora? – pergunta ele.

_Não quero voltar para aquela casa.

_E você pretende dormir no carro – esnoba ele, ao ligar o motor, dando a partida.

_Posso dormir no carro se eu quiser – respondo no mesmo tom.

_Com essa barrigona você não vai conseguir dormir com o banco inclinado – diz ele.

_Posso fazer qualquer coisa – sinto seu olhar em minhas pernas e só consigo acompanhar a verdade em suas palavras no momento exato em que encaro meus pés.

_Você não consegue nem colocar os sapatos certos garota, quanto mais dormir essa noite.

Uma sapatilha floral no pé esquerdo e uma vermelha no direito me deixaram calada por um momento. Sempre senti que Bryan era um homem com um passado no qual eu não queria me comprometer, ele parecia cruel, uma arma da morte, mas naquele momento, ele foi apenas a esperança, a esperança de que o sol poderia sim, surgir no meio da noite.

_Vai ficar com essa cara de riso olhando para mim – diz ele dirigindo, dando-me olhadas de lado de vez em quando.

_Quero ir em um café perto da universidade, comprar patacones – comento – depois, me deixe em um hotel qualquer, não vou dormir naquela casa.

Bryan parecia entender o motivo por trás daquelas palavras, por mais suave que eu tenha tentado dize-las, por mais forte que eu estava sendo em esconder a dor. Uma hora temos que encarar o silêncio por nós mesmo.

_Uma hora você terá que voltar ali Amanda.

_E quando esse momento chegar, eu vou estar inteira, porque honestamente Bryan, não vou conseguir segurar meus pedaços por muito tempo.

Quando Bryan me deixou na porta do meu quarto em um hotel simples naquele dia, fechei a porta antes de conseguir entender o significado de seu sussurrar baixo de palavras. Eu chorei naquela noite como já tinha chorado muitas vezes por Maluma, mas dessa vez eu sentia que foi diferente. Às vezes o melhor é viver a dor e a perda. Mas alguma coisa me dizia que daquela vez não tinha sido eu a que tinha perdido algo e sim, Maluma.

Livro 2 - Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora