Ao atender o telefone, Christine ficou surpresa, preocupada, alarmada e tantas outras coisas. Ela não sabia descrever o que sentia por Kaique, mas tinha quase certeza que era só uma amizade misturada com a aceitação. Talvez estivesse errada... Mas, no fim, tinha dito a verdade. Teria mesmo de voltar na cidade na semana seguinte para resolver assuntos da mansão abandonada. Iria mesmo se mudar para lá e mudar de vida. Ela estava realmente precisando ter aquela reviravolta.
Desligou o telefone e olhou para Lion, que estava confuso com toda a situação.
— Acho que vou ter que ir na velha mansão agora. — Disse com simplicidade assombrosa.
— O que?! Voltar?! — Assustou-se um pouco com a reação da moça — Está anoitecendo e é perigoso sair de noite, ainda mais em clima litorâneo... — Pediu, mas não somente por ela, mas por seu juízo — Espere até amanhã.
Christine pensou. Concordava com Lion, mas estava muito preocupada com Kaique. Não queria revelar para ele que tinha um segundo homem, ou terceiro, apaixonado por ela, que era seu aluno há mais de nove anos e que era um garoto oito anos mais jovem. Ela se sentou no sofá e ficou olhando o celular. Esperava que Marcos a ligasse, mesmo sem seu número. Havia uma ponta de esperança ali.
Lion deu um beijo nela e sorriu, a confortando. Abraçou-a com força e este foi retribuído, ela queria muito estar em braços quentes naquele momento. Se despediu e foi para casa, crendo que já teriam tido emoções demais em um dia só.
Christine esperou até ele entrar em casa e ir para onde seus olhos não podiam ver e foi para o andar de cima, arrumar uma bolsa para a viagem. Iria passar uma noite na estrada, pois não estava em condições físicas ou emocionais para passar oito horas em alta velocidade em uma estrada escura, era um longo caminho e ainda teria de levar a gata com os dois bebês, que ainda não tinham sequer aberto os olhos. Não iria deixá-los ali por mais de uma semana, sozinhos.
Preparou uma caixa com mantimentos e vitaminas, vasilha de ração e água para os gatos e para si, arrumou em uma sacola alguns biscoitos, geleia, torradas, garrafas de água e tantos outros para que fosse beliscando algo durante a viagem. Ela não gostava de parar em lojas de conveniência.
Pegou a caixa de transporte que havia comprado. Era grande suficiente para caber os três gatos confortavelmente e sobrava espaço. Arrumou um cobertor quentinho dentro da caixa de transporte e colocou os gatos lá dentro com todo o cuidado possível.
Foi se arrumar devidamente e para isso demorou trinta minutos ou mais. Saiu de casa com seus pertences e colocou a bolsa com roupas e alguns acessórios que precisaria dentro da mala do carro; a caixa com comida e a sacola de mantimentos iria no banco de trás. Os gatos iriam embaixo do banco da frente, bem protegidos.
Ela esperou anoitecer totalmente para que finalmente saíssem. Foram para a estrada e começaram a aventura que poderia durar mais do que uma noite. Era algo que Christine nunca tinha feito antes. Algo novo. Estava com medo, porém excitada com aquilo.
Ligando a rádio, ouvia as notícias de como estava o trânsito e as novas notícias sobre moda e tendências que as novas tecnologias traziam. Ouviu um miado. A gata queria sair. Ela abriu a caixa de transporte e deixou a gata subir e deitar no banco do passageiro. Enquanto dirigia, fazia carinho na felina, que olhava sem parar para a nova dona enquanto ronronava.
Christine estava sem a máscara. Era noite e a estrada estava vazia. De qualquer forma ela sempre dirigia em baixa velocidade durante a noite por medo de animais na pista, coisa que era comum. A gata não ligava para a aparência. O animal gostava de Christine do jeito que ela era.
— Você não teria medo de mim, não é, minha Porcelana? — Falou enquanto olhava a pista e em seguida para a gata — Eu também não tenho medo de você. Somos especiais... — Comentava e sorria — Não é?! — Confirmou à si mesma enquanto passava as pontas dos dedos pela cabeça da felina.
Ela desligou a rádio e começou a cantar algumas músicas aleatórias. A gata acabou dormindo. Já estava chegando a hora de dormir, de fato, e Christine estava ficando com sono. Pegou uma garrafa de água e bebeu um pouco, servindo um pouco para a gata, que bebeu rapidamente e logo voltou a dormir.
Durante a madrugada, Christine quase dormiu ao volante e decidiu parar no meio da estrada. Colocou a máscara e as luvas, vestiu seu casaco e saiu do carro, deixando a gata sair também para fazer suas necessidades antes que ela fizesse algo muito fedorento dentro do carro, o que seria uma pena e o cheiro não sairia tão fácil.
Christine urinou no acostamento e se enxugou com um pedaço de papel higiênico que tinha levado para tal situação e chamou a gata, que veio após terminar de enterrar o próprio dejeto. Voltaram para o carro e foram novamente para a estrada, sentindo-se um tanto cansada ainda, mas sem desistir.
— Já foram cerca de noventa quilômetros em menos de seis horas... — falou consigo mesma — estamos bem, Porcelana... — Dirigiu-se à gata — Só manter essa velocidade de noventa por hora... Vamos chegar até o fim do dia lá. — Christine estava retirando a máscara para se sentir mais confortável — Assim que chegarmos em um casa vamos passar algumas horas de descanso, não se preocupe. — Passou a mão pelas costas macias da bichana, que ronronou ainda mais e decidiu sentar-se — Deve ser cansativo ser mãe...
Ao notar que a gata estava sentada no banco, a olhando falar como se estivesse realmente entendendo, fez carinho atrás da orelha de Porcelana e sorriu-lhe.
— Acho que não são seus primeiros, mas não se preocupe, serão os últimos e no fim, vamos ficar todos juntos... — Olhava-a com ternura e franzia as sobrancelhas — Porque famílias não se separam e seria cruel tirar eles de você... — Voltou a encarar a pista, diminuindo um pouco a velocidade, pois o sono estava pior.
Porcelana, a gata, respondeu com um solene "meow". Em seguida, voltou para dentro da caixa de transporte para amamentar os bebês, que estavam começando a chorar. E assim foram as horas de viagem. Tiveram uma parada rápida em um posto de estrada e seguiram viagem em seguida. Chegaram na cidade natal de Christine quando era dada a hora do chá da tarde.
Foi almoçar fast food, sabendo que estava passando muito da hora de comer, comprando batatas e milk shake como acompanhamento para o sanduíche. Deu comida para a gata e seguiu para sua casa, onde tomaria um banho e se arrumaria para finalmente resolver tudo que tinha que resolver e voltar para suas férias maravilhosas com um homem bonito e que ainda a desejava, mesmo a conhecendo melhor nos últimos dias.
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Christine - Ela É A Fera [COMPLETO]
ChickLit"A mais bela não é aquela que tem beleza, Christine. A mais bela é a que possui essência, aquela que têm uma alma que vibra, que espalha a luz da simplicidade e da humildade por onde quer que vá. Você, meu amor, é a pessoa mais bela que já pude conh...