(Nove meses e duas semanas antes)
— Merina, você tem certeza disso? Não quero que se arrependa... — Marcos falava enquanto já segurava os bebês em seus braços, estavam aconchegados em dois bebês conforto. Iria embora naquela mesma noite e sumiria no mundo durante algum tempo.
— Já estou arrependida, Marcos... — Comentou, olhando seus filhos — Eu os amo. Os amei desde que soube que os teria. Contudo a segurança deles, a vida deles fala mais alto. — Encarou Marcos por alguns instantes, pensativa — Leve-os com você e se certifique que ficarão bem. Eu confio em você, entende? — Merina falava enquanto sua boca tremia e seus olhos se enchiam de lágrimas.
— Prometo que ficarão bem. — Marcos, um tanto angustiado, balançou a cabeça.
— Adeus... — Despediu-se.
— Até um dia. — Ele ainda tinha esperança de revê-la em algum momento, dali alguns anos.
Marcos beijou a testa dela e foi embora da casa sem dar-se o luxo de olhar para trás. Estava indo naquele exato momento para o aeroporto, Merina havia contratado um jato particular para levar ele e os bebês com todo o auxílio que precisaria. Marcos estava nervoso e não conseguiu sequer pensar no que faria dali para frente.
Merina fechou a porta da casa e caiu sobre o sofá e, por um instante, parecia que seu rosto havia sido desfigurado e seus olhos ficaram amarelados por completo. Merina estava em seus últimos dias de vida e já sabia disso, na verdade, aquele era o último e estava sozinha, sem nada e nem ninguém.
Escorreram duas lágrimas vermelhas de seus olhos, manchando seu rosto que ia e vinha entre a fúria e a tristeza.
Com as últimas reações humanas que ainda possuía, escreveu uma carta a seu marido, falando que havia se matado, porque seu bebê morreu durante o parto e não aguentaria a tristeza, por isso o enterrou e no mesmo dia, tirou a própria vida. Era uma boa mentira, uma vez que Jargas não conseguiria desconfiar de nada.
Ao terminar, foi fraquejando até o escritório do marido e pegou uma 38 que ele guardava para proteção. Enfiou a arma na boca, trêmula, querendo desistir e ligar ao esposo, contando o que realmente tinha feito, mas não... Soltou um grito e atirou.
O corpo de Merina caiu no chão, havia pedaços de sua cabeça estourada para todos os lados, sangue. Um cheiro ruim impregnou o lugar, pois além do sangue vermelho, escorria uma espécie de líquido purulento e espesso. Ela morreria de qualquer jeito e preferiu escolher a forma como iria daquela vida.
(Atualmente)
— Diz papai! Diz Abigail! Pa-pa-i! — Marcos brincava com seus dois filhos.
Abigail era o mais quieto deles, sempre estava calado, quase não chorava e sequer fazia barulhos. Não demonstrava nada por sua face, todavia tinha os olhos brilhantes e heterocromos, um era âmbar, o outro era verde como uma esmeralda esmeralda. A criança possuía a marca em um de seus pés, ombro direito e parte esquerda do peito.
Amir também possuía marcas iguais às de Abigail, todavia seus olhos eram... Diferentes. Um só olho possuía duas tonalidades, divididas verticalmente. O âmbar e o verde não se misturavam. Era algo assombrosamente bonito. Amir era risonho, muito expressivo e brincalhão. Dorminhoco e esfomeado, felizmente, naquele exato momento, estava dormindo.
Com Abigail no colo, Marcos mexia no notebook e dava a mamadeira ao mesmo tempo. Precisava cuidar dos dois filhos sozinho, pois não iria meter Christine em algo que ela sequer conhece, como iria pedir qualquer ajuda que fosse, na verdade?!
— Vocês tomaram minha vida durante esses dez meses e papai ama vocês, mas também tenho outras coisas que são importantes. — Comentava enquanto digitava — Vocês vão gostar dela, crianças. — Sorrindo, encarava a tela.
Na tela do computador, estava marcado um vôo da Península para a Itália. As duas crianças já tinham registro e até passaportes. Marcos havia cuidado de tudo durante aqueles dez meses. Em outra aba, estava conectado ao seu e-mail. Estava falando com Garington. "Garington, estou voltando para a Itália. Mantenha isso em segredo. Obrigado por ter me ajudado, cara. Marcos.", era o que dizia o e-mail.
Ele fechou esse e-mail depois de enviá-lo e abriu outra conversa. "Podemos nos ver em uma semana? De noite, em algum restaurante... Estou morrendo de saudades e preciso falar com você urgentemente. Marcos.", dizia o outro. Era para Christine e não tinha mais volta, já havia sido enviado.
Marcos olhou para Amir, que dormia e em seguida para Abigail, que dormia com a mamadeira na boca. O pôs no berço junto com o gêmeo e foi arrumar as malas com tudo o que precisaria para ficar na Itália por no mínimo três anos sem mexer em contas bancárias ou usar cartões de crédito.
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Christine - Ela É A Fera [COMPLETO]
Chick-Lit"A mais bela não é aquela que tem beleza, Christine. A mais bela é a que possui essência, aquela que têm uma alma que vibra, que espalha a luz da simplicidade e da humildade por onde quer que vá. Você, meu amor, é a pessoa mais bela que já pude conh...