Capítulo 35

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(Trinta e três anos e meio antes)

— O que?! — A voz de Brietta soava alta pelo corredor mais próximo da entrada para o porão — Não pense em tocar na MINHA filha...

Ela ganhou uma tapa forte e caiu no chão. Estava de costas para a porta do porão, estava com a chave em seu bolso e jamais abriria mão dela. Seu marido era ameaçador quando estava bêbado. Era violento e isso a enchia de pavor, mas esse pavor todo se tornava coragem quando fazia juz ao seu bebê.

— Vadia... — Sussurrou, agachando-se e segurando o braço de Brietta — Me dá essa chave, AGORA! — Falava o grosseiro homem à sua frente. Ernesto.

A menina no porão gritava por sua mãe, pois havia se machucado com algo ou simplesmente estava com fome. Era uma criancinha e ainda não sabia falar para pedir as coisas, não como outras crianças maiores.

— Pare, Ernesto! — Suplicou, segurando a mão do homem alterado pelas drogas — Pare, irá machucá-la!

Ernesto andava irritado, muito mais estressado do que o normal e nisso, começou a beber e usar remédios. Drogas pesadas. Brietta queria o divórcio, porém ele rasgara os papéis e havia subornado a polícia para nunca mais ir em sua casa. Brietta estava em uma prisão com o homem que jurou cuidar e proteger dela e de sua filha.

— VOU MATAR ESSA MALDITA ABERRAÇÃO! — E empurrou Brietta contra o chão, levantando-se — NÃO PARA DE CHORAR O DIA INTEIRO! — Voltou-se para a porta, dando socos naquela folha de madeira com toda a sua força.

— Ernesto! Pare... — Ergueu-se a mulher, pondo-se mais uma vez na frente da porta, querendo impedir o pior — É só um bebê! Não tem culpa de nada! — Colocou as mãos sobre o peito de Ernesto — Por favor não toque nela!

— SAIA DA FRENTE! — Deu um solavanco ainda mais forte e jogou Brietta contra a parede, indo buscar a chave que estava com ela ao mesmo tempo.

Naquele mesmo tempo, a nova governanta e o mordomo haviam adotado uma criança, um garotinho loiro que havia sido abandonado na propriedade com, mais ou menos, quatro anos de idade, então andavam muito mais ocupados do que normalmente estariam.

O mordomo era grande, parecia forte e Brietta pedia para que ele não deixasse Ernesto chegar perto do porão sempre que necessário. Ela começou a gritar, espernear chamando o mordomo, chamado de Dário. Por consequência, recebeu um soco no olho esquerdo, e acabou desmaiando pelo solavanco.

Dário estava no jardim, cuidando das plantas da senhora da casa quando ouviu a gritaria e se dirigiu ao porão com rapidez, temendo o pior. Chegou lá quando Ernesto havia dado um soco em Brietta e o segurou, puxando-o para bem longe das duas. Com vinte anos, Brietta ainda era ingênua demais, porém muito protetora para com sua pequena aberração.

Dário arrastou Ernesto pela mansão e o prendeu em seu escritório, que ficava no primeiro andar. O mordomo chamou sua esposa, Margot, para ajudar. O filho deles, Marcos tinha quase cinco anos e sempre ia para a mansão com seus pais. Margot era muito amiga de Brietta e sempre a ajudava com tudo que precisava. Conhecia seus segredos.

A mulher correu para acudir Brietta, que estava no chão. A criança no porão chorava, chamando sua mãe, com medo e um desespero genuíno em sua voz. Marcos, o pequeno, seguiu sua mãe e acabou por ver aquela cena. Margot levou Brietta para a sala, onde a deixou no sofá e correu para a cozinha, indo buscar algo gelado para colocar no olho da dona da casa.

Marcos, sendo uma criança de quase cinco anos muito esperta, se encheu de curiosidade quando ouviu o choro de uma criança no porão. Arrastou uma cadeira velha para ver através da parte superior da porta, que era aberta como uma janela. Não conseguiu. Buscou algo que alcançasse e se pendurou na janelinha, começou a chamar por socorro, que não veio como imaginou.

A menina que estava no porão, vendo o desespero, parou de chorar e acabou ajudando, empurrando um pufe grande que havia ali. Marcos caiu no pufe e ficou olhando a menina que estava com o rosto inchado de tanto chorar. Pôde ver, pela primeira vez e nitidamente, que algo estava tomando conta de seu rosto.

— Shhhhhh... — Fez Marcos, colocando um dedo sobre a boca dela e a abraçou, como qualquer outra criança carinhosa faria.

Christine enxugou os olhos e Marcos se sentou no chão, pegando uma de suas inúmeras bonecas e juntos ficaram brincando até Brietta e Margot perceberem o que tinha acontecido cerca de duas horas depois, quando já era hora do lanche das crianças. Margot chamava por Marcos, que não respondia por estar entretido com a brincadeira. Eles riam e estavam se divertindo bastante.

Quando as duas mães chegaram próximas do porão, viram a estripulia que Marcos havia feito e Brietta abriu a porta, se deparando com as duas crianças deitadas rindo. Gargalhavam alto. Brietta e Margot nunca viram seus filhos rirem tanto assim. Se entreolharam e Margot, um tanto amedrontada pela criança do porão, foi buscar Marcos.

O menino, assim que entendeu que tinha que ir embora, começou a chorar. Não queria ir. Margot olhou Brietta, aguardando um sinal da patroa, e ela fez um movimento para que o levasse. Marcos fez um escândalo e Christine também fizera. Brietta segurou sua filha nos braços e Margot arrastou seu menino para fora da mansão o mais rápido que seus braços aguentavam.

Depois daquele dia, Marcos ficava no jardim com seu pai ou na cozinha com outras empregadas. Jamais ia para próximo do porão, até que esqueceu-se da menina que havia conhecido, até um certo momento.

Christine - Ela É A Fera [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora