Capítulo Final

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(Atualmente, algum lugar da Alemanha)

O clima era de chuva. Estava uma chuva torrencial há três dias, algo extremamente fora do comum. Andando pela cidade, sozinha, estava Christine, toda molhada. Estava indo em direção à floresta quando foi avistada por uma moradora mais idosa.

A mulher a reconheceu, pois estavam buscando ela no mundo todo e a acolheu em sua casa antes que fugisse de suas vistas. Christine ainda não falava, só chorava e se balançava para frente e para trás. Com uma febre de quarenta graus, suava frio e não queria comer. A mulher, já de idade, não sabia como proceder, então ligou para o único número que aparecia nas imagens da TV.

Do outro lado do mapa, Marcos recebia a ligação de uma desconhecida que falava estar com a mulher desaparecida, claramente estava falando tudo em Alemão, mas repetia o nome de Christine diversas vezes enquanto falava.

Ele finalmente saíra daquela depressão em que se encontrava. Agora tinha motivo para voltar a ser o que era. No mesmo dia arrumou as crianças e juntos foram para o aeroporto. Lion foi junto, já tendo aceitado o fato de que não encontraria Christine sem Marcos, embora entre eles houvesse, claramente, um clima tenso.

Chegando na Alemanha horas depois, foram para um hotel local, fizeram o check-in e foram, os quatro, para a casa da velha mulher que estava com Christine.

Marcos entrou. Logo, foi correndo, extremamente apressado, para Christine, que estava dormindo no momento que chegaram. Notou que estava queimando em febre e que seus sentidos iam e vinham.

Àquela altura, seu corpo já estava completamente dominado pela doença e faltava bem pouco para o fim, ele sabia disso e não queria acreditar. Marcos tinha ido somente para esse desfecho infeliz na história de sua vida.

Lion não sabia ainda, nem merecia saber, não na visão de Marcos. Ele não merecia ter sua vida ainda mais arruinada por alguém que ele mal conhecia. Eles levaram Christine para o hotel às pressas, arrumando o vôo de volta para casa. Ainda não conseguiam entender como ela havia ido tão longe naquele estado.

Marcos sabia bem o porquê de ela ter vindo para a Alemanha. Sabia para onde estava indo. Conhecia a tradição de morte dos Novazk. Diogo tinha ido a Floresta Negra um dia antes de sua morte. Era a tradição da família, enraizada em suas entranhas, contada no diário de Brietta. Eles não podiam evitar que o lado bestial os controlasse naqueles últimos dias.

Sozinho com Christine, no quarto, Marcos pegava um frasco de veneno e já abria a boca dela. Iria matá-la antes que a fera a devorasse, mas era tão difícil, embora soubesse o estrago que ela poderia fazer caso perdesse completamente a cabeça. A mulher abriu os olhos, e tocou o rosto dele. Ambos já tinham conhecimento sobre o que deveria acontecer.

— Eu preciso ir para lá... — Pediu, como um último desejo.

— Não, Christine! — Marcos deixou o veneno de lado, segurando os ombros de Christine — Nunca mais vai voltar se for! Por favor, Christine! — Inclinou-se sobre ela, permitindo-se chorar — Fica comigo...

Ele recebeu um baque na cabeça que o fez perder a consciência e quando acordou, momentos depois, Christine não estava mais lá. Só suas roupas estavam. Ele olhou ao redor. A porta estava aberta e a janela também. A chuva forte molhava o quarto. Levantou, correu até o quarto de Lion e o acordou. Pediu que olhasse seus filhos e saiu correndo do hotel, sob a chuva, ainda torrencial.

Na floresta, Christine andava nua, de cabeça baixa, passava as mãos pelas árvores e se sentia em paz pela primeira vez em anos. Sentia-se em casa e queria encontrar aquilo que sua mãe tanto mencionava em páginas escritas um tempo antes de sua morte.

Durante a caminhada, encontrou uma pequena caverna, onde entrou e se escondeu da chuva, tentando permanecer em si, respirava fundo e olhava para as gotas que caíam e faziam barulho alto, estrondoso quando em contato fulminante com as copas das árvores.

Saiu depois de uns minutos, sentindo uma bala entrar em suas costas e atravessar o peito. Dor. Ardência. Soltou um grito quando viu o sangue e, em seguida, um berro que causava calafrios. Virou para trás e viu Frigor. Ernesto, seu carrasco, ainda apontando a arma para ela. Iria atirar novamente e foi isso que fez. Mais um tiro.

Um ódio, rancor, nojo lhe subiu, e em fúria, foi para cima do homem que já atirava mais vezes, tentando pará-la, em vão, pois sabia que no ápice de sua transformação, era difícil matá-los. Teve seu corpo jogado ao chão pelos socos de Christine, que fora de si, sangrava machucada e não conseguia parar do mesmo jeito, utilizando-se de uma pedra próxima para bater na cabeça de Ernesto, que lutou para sobreviver até o fim.

Mas isso só continuou até ver e ouvir Marcos, entre as árvores, molhado, chamando seu nome.

Novamente aquela sensação de paz a tomou por completo. A dor em seguida, porém nada se comparava a visão de ver Marcos antes de morrer. Sorriu.

— CHRISTINE! — Chamava, tentando equiparar sua voz com o barulho da chuva — O QUE VOCÊ FEZ?!

Ela levantou, indo na direção dele com passos errantes, vacilando e caindo no chão. Estava duramente machucada. Durante a briga, Frigor ainda havia conseguido enfiar nela uma faca envenenada.

Veneno, no fim das contas, era a única coisa que a machucava, a parava, naquele estado. Marcos, que segurava uma arma, soltou a mesma e correu o mais rápido que podia, indo até ela, que caída no chão, dava seus últimos suspiros. Ele caiu de joelhos perante a mulher de sua vida e a puxou.

O loiro a virou, vendo a faca enterrada até o cabo. Não podia tirar, pois iria sangrar até morrer, de forma ainda mais lenta e mais dolorosa. Abraçou-a, caído de joelhos, a puxou para cima de seu colo e começou a gritar.

Marcos gritava tanto que perdera sua voz. Gritava o nome dela. Chamava por ela. Reclamava para Deus. Perguntava por que ela que deveria morrer, se era uma alma vívida e brilhante, que não merecia tamanha punição. Para Marcos, ele quem era culpado, ele que deveria ter sido assassinado.

— Seu único erro foi ter nascido você mesma! — Falou entre um soluço e outro, ainda apertando-a — Meu amor, meu anjo... — Encarava-a — Aguenta firme, por favor! — Ele pegou o celular e tentou, ao máximo, ligar para uma ambulância. Sem sinal.

Levantou do chão e pegou-a nos braços, via o sangue escorrer de sua boca. Aquilo era mau sinal. Correu o quanto pôde com ela nos braços e quando já estava fora da floresta, Christine tocou seu rosto, o fazendo parar. Ela ainda tinha um resquício de si mesma. Ainda tinha um resto humano o suficiente para vê-lo. Ela sorriu e acariciou o rosto dele, que não deixava de esconder as lágrimas.

— Marcos...

— Christine, aguenta! — Ele continuou andando — Estamos chegando e você vai ficar bem, eu prometo! — Gritava por ajuda, mas ninguém o ouvia por conta da chuva.

— Já é tarde demais, Marcos. — Sussurrou — Tarde demais...

— Não diga isso, Christine. — Pediu — Não fale! — Implorou — Se poupe... Por favor! — Ela começava a perder o ar e fechar os olhos. Estava com sono — NÃO! NÃO FECHE OS OLHOS! CHRISTINE... FICA COMIGO! — Ele pedia em desespero, mas era tarde, ela não conseguia mais manter os olhos abertos — CHRISTINE... Não! Acorda!

Ela fechou os olhos por completo e seu peito desceu, mostrando que não puxava mais o ar. Marcos caiu de joelhos com ela nos braços, a deixou no chão e começou a tentar ressuscitar o corpo dela. Suas lágrimas se misturavam as gotas de chuva e os seus gritos eram encobertos pelos trovões.

Ele desistiu depois de dez minutos sem resposta alguma. Segurou o corpo que já estava ficando gelado nos braços e começou a gritar. Xingava Deus. Xingava todos, tudo. Xingava a ele próprio.

Lion havia decidido ir atrás de Marcos algum tempo depois de as crianças terem dormido, porém, no caminho, viu e ouviu as lamúrias de Marcos. Viu o corpo de Christine e não pôde conter suas lágrimas também. Abaixou-se a frente te de Marcos e tocou o corpo. Estava frio.

Não restavam mais chances.

Não para eles, não para ela.

Era o fim.

Era?

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⏰ Última atualização: Aug 19, 2020 ⏰

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Christine - Ela É A Fera [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora