Capítulo 19

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(Dias Atuais)

Diogo caminhava de um lado para o outro. Já não tinha tanto vigor como quando tinha seus vinte anos, quando sua menina já era uma recém-nascida. Ele não pôde ir vê-la quando nasceu e nem viu seus primeiros passos ou primeiras palavras, isso ainda lhe pesava. Não pôde estar lá em seu crescimento e ainda guardava em sua memória a primeira vez que a viu e ouviu.

Sozinho em seu quarto, já com seus 55 anos, olhava o Notebook e via, por meio de informações de seu contratado, como estava indo a menina de seus olhos. Preocupado, precisava ser um verdadeiro duas caras. Precisava mentir a todo momento para sustentar sua mentira de trinta anos antes e, agora, ele não podia se envolver mais. Estava a mercê.

Depois de tantos anos ele continuava com sua promessa de não machucar Christine. Seu coração havia se tornado uma fortaleza segura e impenetrável, onde nem mesmo a mais atraente de todas as mulheres conseguia chegar. Uma terra de ninguém. Havia tido uma mágoa grande demais há menos de um ano, com o suicídio de Brietta, que fora perturbada pela marquesa durante anos até beirar a loucura e se matar, deixando Christine sozinha e sem saber toda a verdade.

O celular de Diogo tocou. Era uma peça descartável, tal qual ele tinha vários para nunca ser pego. Precisava ter mais cuidado que todos os outros.

— Fala, Geist. — A voz estava mais rouca e abafada do que antes — Seja rápido.

"Senhor Novazk, ela está se mostrando de tal forma que nunca fizera antes.", alertou uma voz masculina e mecanicamente modificada por algum efeito.

— Diga-me, por que não tenho mais sua localização? — Passava o dedo sobre o touch do notebook e recarregava a página que mostrava a localização em tempo real de sua filha.

"Ela deixou a máscara cair e se quebrou. Não encontrei os cacos, deve tê-los juntado, senhor Novazk.", a voz mantinha-se serena, como se nada tivesse acontecido.

— Onde ela está? — Agora largando-se do notebook, buscou um outro celular, este de última geração — Ainda na Itália? — Mandava uma mensagem para alguém.

"Sim... Verei ela ainda hoje. Saberei se está tudo bem.", um pingo de felicidade surgiu na entonação do sujeito.

— Tenha a certeza, pois estarei aí em menos de um mês. — Diogo causava calafrios em quem o ouvia — Se ela descobrir alguma coisa sobre mim antes que eu possa falar algo pessoalmente, você morre. — Alertou ameaçadoramente.

"Sim senhor...". Uma voz feminina soou atrás no telefone. Provavelmente jovem, em seguida foi desligado.

Diogo olhou pela janela. Estava em um navio, em um cruzeiro internacional que durava oito meses e a última parada era a Itália. Ele usou aquele meio para que ninguém o encontrasse por enquanto. Passava o dia no quarto, pensando em como iria agir perante a menina da qual fugiu sua vida inteira. Era o momento que ele mais queria ter e evitar ao mesmo tempo.

Se sentou na cama. Tirou uma imagem de seu bolso. Era uma foto muito antiga de sua amada Brietta. Ainda era só uma jovem alegre. Longe de ser a mulher doente e acabada que era quando morreu.

— A saudade não me caberia se eu quisesse, pois a dor de te perder ainda toma todo o meu coração. — Disse em voz alta, como se conversasse com a foto.

A guardou mais uma vez.

A saudade era cruel até com aqueles que não tinham coração para sentir.

Christine - Ela É A Fera [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora