Capítulo 12

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Do outro lado da cidade, Kaique, o cego apaixonado, tentava focar sua atenção em outras coisas. Queria tentar aprender a fazer coisas "normais" tipo viajar sozinho, sem precisar de supervisão ou companhia. Decidido, então, a passar um tempo sozinho na casa de veraneio dos pais na Pensilvânia, com seu cão guia Wili. Era um Pastor Alemão.

Ele ficou lá somente por uma semana e voltou para a Itália. Não conseguia parar de pensar em como estava a professora de música que roubou seu coração sem perceber. Ele se irritava facilmente com as notas tocadas erradas no piano. Mesmo tendo aulas com uma professora tão experiente quanto Christine, ele agora não conseguia mais assimilar as notas. Consequentemente se enfurecia e batia contra as teclas, levantava furioso e saía da sala de aula. O fez por diversas vezes, cogitando desistir.

Ele tentava também não parecer um louco varrido e apaixonado, não ligava para ela ou tentava não mandar mensagens pelo computador. Ele havia conseguido se segurar até o dia que errou tocar a música preferida de Christine "Love Of My Life", do Queen.

Ele ligou para ela desesperado. Em prantos, lembrando uma criança que perdeu seu brinquedo favorito ou caiu da bicicleta pela primeira vez. Era como um dependente químico, estava ficando depressivo e ansioso sem ela para remediá-lo. Era tudo por causa de uma mulher que não tinha o mesmo amor por ele, talvez o visse como uma criança.

— Christine, por favor — falava baixo enquanto ouvia o barulho do telefone —, atende...

O celular chamava, chamava, a ligação caía. Ele desistiu. Esperou mais algumas horas, pois imaginou que ela estivesse ocupada com alguma coisa, afinal estava de férias. No terceiro toque ela atendeu finalmente o celular, o fazendo dar um suspiro aliviado.

— Christine, por favor, fale comigo... — Implorava — Só me diga como está, o que tem feito! — Pedia entremeio às lágrimas que escorriam por sua face sem perceber-se — Aja como se estivesse ao meu lado falando, como nas aulas... Vou ficar louco sem você! — Dizia ele, sem esperar sequer ela dizer "Alô?!".

Do outro lado da linha, a mascarada ficou meio assustada pelo timbre trêmulo de Kaique. Ele parecia estar desesperado e de fato ela tinha acertado, mas não entendia os motivos dele.

"O que houve, Kaique?! Você está bem?! Parece em desespero!", ela dizia do outro lado, nitidamente preocupada. Lá, ela já buscava o número dos pais de Kaique para avisá-los sobre o estado do rapaz, que não era nada comum.

— Só me diga onde você está, Christine! — Exclamava como em uma oração — Por favor! Christine eu não consigo ficar longe de você... — Confessava-se de forma vã, pois Christine não aceitaria que ele fizesse aquilo com ela — Me deixe te ver durante esse tempo longe. Eu estou ficando louco! — Tentava fazê-la cair em sua lábia com aquelas palavras sôfregas e certamente teria conseguido se Christine não conhecesse o rapaz há tantos anos — Você era o motivo de eu querer sair de casa!

"Calma Kaique... Você está muito alterado. Se acalme. Onde estão seus pais? Está tomando seus remédios direito?! Você está me deixando preocupada!", a voz metalizada da mascarada soava pelo auto falante do celular do cego, ela sabia sobre as crises de ansiedade dele e sabia, também, que tomava remédios controlados.

— Estou... Estou bem de saúde. Não é sobre isso. Eu não entendo mais as teclas! — Dizia com pesar em sua voz — Erro músicas simples... Não tenho mais desejo de me apresentar como antes, Christine. Desde que você foi embora. Eu preciso te ver! — Gritou para ela, queria ser ouvido e queria que ela acatar-se aos seus desejos — Onde você está?!

Christine ficou em silêncio do outro lado da linha. Kaique já estava com a caneta na mão e escreveria num papel para o motorista que o levaria ou qualquer um que o pudesse levar até ela.

"Kaique...", Christine soava perplexa.

— Por favor... — Implorou-lhe.

"Kaique, estou na casa de praia da minha família. No litoral da Itália... Tudo bem? Fique calmo. Semana que vem terei de voltar por uns dias na cidade e nos veremos, Ok? Até lá, só fique calmo.", Ela finalmente contou, mesmo que não fosse tudo aquilo que ele queria saber, já era alguma coisa.

Ele sorriu. Não hesitaria daquela vez, certamente não. Não deixaria que ela o segurasse mais. Ele a queria e não deixaria que nada e nem ninguém se pusesse contra suas vontades novamente. Era algo que ele precisava fazer. Era algo que ele queria fazer por capricho. Talvez Kaique sequer soubesse onde estava se metendo.

Talvez ele só estivesse "cego de amor"...

Talvez... 

Christine - Ela É A Fera [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora