Capítulo 42

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Frigor andava de um lado para o outro, sempre batendo sua bengala no chão quando chegava a uma das extremidades do salão. Estava irradiando ódio. Raiva. Estava furioso como nunca os demais haviam assistido.

— COMO ASSIM "ELA ESTÁ MORTA"? — Berrou Frigor, pisando com mais força no chão, que queria quebrar todos os ossinhos da mulher de Jargas, mas ela já estava morta.

Jargas, que estava sentado e curvado para frente com as mãos no rosto e chorando, segurava a carta de suicídio de sua mulher. Ele não entendia. Tudo estava indo bem, as coisas estavam melhorando.

— Ela... — soluçou — ela se matou. — Passou a mão pelo rosto, em agonia — Frigor, ela... — fechou seus olhos, sentia um remorso tremendo — Ela morreu! Oh, meu Deus! Ela se matou, Frigor! — Ele ainda soluçava, querendo não acreditar em tudo que acontecia.

— COMO ISSO ACONTECEU? — Balançou seus braços — QUANDO ISSO ACONTECEU? — Sacudiu Jargas, querendo que ele parasse com aquele show. Sua fúria era mais importante do que a tristeza dele.

— Durante a minha viagem para a Escócia, ela entrou em trabalho de parto e... — parou, não ligando para as investidas do duque — e eu não sei.

Frigor pegou a carta da destra de Jargas com força, quase rasgando-a e começou a lê-la em voz alta, para entender o que acontecera.

— "Querido Jargas. Eu amo você, lembre-se disso. Em toda nossa vida juntos, te amei. Mas algo nesse caminho aconteceu fora de nossos planos... Com pesar eu digo que nosso filho tão esperado e amado morrera no dia do parto, pois estava só em casa e não pude ajudá-lo. Não tive amparo. Tentei acorda-lo, mas era tarde demais. Estava morto. E com ele minha felicidade também morreu. Não aguentaria tamanha tristeza... Adeus, meu amor... Merina." — Frigor se calou, mas não por estar triste, estava analisando o que acabara de ler.

A caligrafia trêmula indicava realmente tamanha tristeza, porém algo estava muito errado ali. A morte de Merina era algo que estava completamente fora de cogitação, fora de seus trâmites desejados, fora de sua teia de conspirações.

Merina sabia de muitas coisas que sempre se recusou a contar para qualquer um, a não ser seu irmão, Diogo, mas ele jamais quis saber realmente do conhecimento de Merina, não queria ter esperanças.

Frigor queria por suas garras imundas nos maiores segredos da família Novazk. Queria saber as fraquezas das feras. Queria ter em mãos o elixir de tanto caos que eles conseguiam causar com um único falar.

Começando a fervilhar de ódio, bateu com o punho fechado na parede, que fez um barulho latente. Frigor ergueu o rosto, sua face sombria começava a ficar ainda pior. Trazia do âmago de sua alma a mais alta das nequícias que um ser humano podia ter em si. Apontou a bengala para Jargas e ele, pobre coitado, ergueu o olhar vermelho e seu rosto estava inchado.

— Chame-o aqui! — Ordenou — Se vocês, inúteis, imbecis, não conseguem fazer um trabalho tão simples, ele consegue. — Mal sabia Frigor que Marcos não faria aquele trabalho — Uma única bala é o que precisamos. Uma gota de veneno — moveu a mão, como quem não se importava —, que seja. Diogo nos traiu, aquele desgraçado; Desonrou o código dos Krusters... — Fechou o punho, virando-se para os demais — Pisou em nosso orgulho. Destruiu nossas famílias e Marcos, outro traidor! Sumiu, sem deixar rastros... Covarde!

— Mas... — Jargas queria argumentar. Ele queria viver o luto em paz.

— AGORA, JARGAS! — Ernesto bateu com a bengala no chão, causando um estrondo ensurdecedor.

Jargas levantou, limpando o rosto. Iria obedecer, todavia não queria mais se envolver naquilo. Ele prometera a sua vida, mas aquela vida estava sendo destruída por algo superficial. Estavam cobrando dele mais do que ele podia pagar. A idiota promessa o fez perder a mulher de sua vida e seu filho. Não tinha mais nada para perder...

Ao menos era o que sua mente estarrecida queria pensar.

Christine - Ela É A Fera [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora