Algumas semanas após sua chegada a casa de praia da família, Christine já se sentia em casa e, decerto, estava aproveitando muito seus dias ali, tocando e cantando, passando suas tardes livros com Lion e percebendo o quão interessante ele era. Apesar de nunca ir até a praia, ironicamente. Era uma aventura para quem quase nunca ia para lugar algum. Eram novas emoções o tempo inteiro.
Ela até adotou uma gata que estava zanzando por ali, descobrindo mais tarde que era uma fêmea que estava prenha, sem contar que tinha parido seus filhotes dentro da cômoda da sala, talvez o lugar que ela julgara ser mais seguro. Christine, caída de amores, decidiu ficar com todos os filhotes e a mãe. Eram apenas dois no fim das contas.
Todos eram belos gatinhos com um diferencial alarmante: ambos possuíam partes da pelagem diferentes, tinham algumas deformidades no rosto e um dedo faltando em um dos recém-nascidos. Ela amou eles e a mãe assim que percebeu que aqueles animais eram muito parecidos com ela, diferentes e, talvez, excomungados.
— Vou chamar você de Porcelana. — Ironicamente a gatinha era preta e tinha manchas laranjas e brancas em seu pelo.
No dia seguinte ao nascimento dos gatinhos, a mascarada saiu bem cedo de casa, chamando a atenção de Lionnel, que estava cuidando do jardim. Christine voltou cerca de três horas mais tarde, cheia de caixas e sacolas que pareciam pesadas, foi depositando as coisas que comprou na entrada da casa lentamente. Eram coisas para gatos. Brinquedos, camas, roupas, coleiras, vasilhas de comida, caixotes de latas de ração para filhotes e também ração para a mãe. Remédios para vermes, vitaminas para a gata que estava amamentando. Todo um aparato para que nada mais lhes faltasse. Aqueles bichinhos ganharam tudo do bom e do melhor, incluindo uma dona cheia de amor para dar.
Lion, vendo a movimentação, saiu de sua casa e foi ajudar Christine. Eram só uns trinta metros de distância de uma casa à outra. Era fácil perceber o que estava acontecendo. Ele começou a levar as caixas para dentro. Ao todo eram quinze caixas e vinte sacolas grandes.
— Meu Deus... — Exclamou ao deixar a última sacola dentro da casa — Você vai fazer um gatil?! — Levantou-se com as mãos nas costas, alongando-se.
— Ha, ha, ha! — Gargalhou deliciosamente, acabando por assustar os filhotes, logo percebendo e se calando — Não... É que não vou voltar lá por mais de um ano, então decidi trazer bastante comida, vermífugos, remédios para algumas situações inconvenientes — parou, abaixando-se para verificar se tudo estava de acordo —, vitaminas, camas, mantas — enquanto listava as coisas que haviam comprado, ia tirando as mesmas de dentro das caixas e sacolas, mostrando a real quantidade do que havia comprado —, roupinhas para o frio, coleiras de identificação, shampoo, condicionador, toalhas, perfume, lacinhos! — Levantou-se, enfim, ficando cara a cara com Lion, que estava abestalhado com a situação — Tinha umas coisinhas tão lindas! — Riu, passando as mãos pelos cabelos — Caminhas, playgrounds... — Fechou o sorriso, com medo que sua máscara estivesse fora do lugar e logo checou, utilizando de suas mãos — Quis trazer tudo! Mas não tinha espaço no carro... — Olhou nos olhos de Lion e viu como ele estava surpreso.
— Nossa... — Ele simplesmente não tinha palavras — São quantos gatos?! — Olhou por cima dos ombros de Christine, abrindo-lhe um sorriso de gracejo — Vinte?! — Voltou-se para ela e encarou seus olhos. Podia ver uma pequena parte do que ela queria esconder e sentiu um calafrio percorrer a espinha.
— Só uma mãe e dois filhotes. — Respondeu com mais seriedade, olhando para as caixas e sacolas — Não sei se são machos ou fêmeas ainda. — Hesitou — Mas vou descobrir! — Exclamou alegremente — A moça da loja me instruiu. — Apertou as próprias mãos, erguendo os olhos para Lionnel, que a olhava deslumbrado,
— Meu Deus... — Sussurrou, despertando logo depois — Onde vai guardar tudo isso? — Coçou o topo de sua cabeça, como se isso fosse lhe estimular o pensamento.
— Bom — hesitou em responder, porém seguiu adiante —, Lion, Eu moro em uma mansão... — Deu de ombros, olhando a reação dele.
— Tudo bem... — Ainda naquela mesma posição de coçar a cabeça, encarava Christine — Quer ajuda? — Indagou.
Ela riu e ele parou para pensar. Percebeu o quão idiota era aquela pergunta e começou a rir também. Ele a ajudou a estocar as latas de ração dos gatos e arrumar os remédios. Tudo em uma parte da dispensa.
— Eu aproveitei o embalo e fiz supermercado também... Então trouxe bastante coisa... — Ela falou enquanto dobrava as caixas para que as guardasse dentro de um armário grande que ficava próximo do porão.
— Vai ficar morando aqui?! — Alegre, os olhos de Lionnel brilharam como os de uma criança que vê um pote de doces à sua disposição.
— Durante um ano mais ou menos... — Respondeu-lhe com simplicidade.
— Entendi porque trouxe tanta coisa. — Ele tentou disfarçar a felicidade, mas por dentro queria gritar e rolar de alegria — Posso ver os bichinhos?! — Mudou de assunto.
— Claro... — Ergueu-se de onde estava e virou-se para Lion — Vem comigo. — Segurou a mão dele e o puxou na direção da sala de estar — Ela deu a luz na cômoda da sala e foi bem difícil de achar o choro. — Comentava enquanto caminhavam lado a lado. Lion só conseguia olhar para os olhos de Christine, tão lindos — E mais difícil ainda vai ser tentar levar ela lá para a cozinha. — Finalmente parou, já estavam na sala de estar.
— Vai deixar eles na cozinha? — O homem mais velho olhou ao redor, parecia notar que a sala tinha, em si, mais dinheiro em móveis do que ele em três contas diferentes. Christine tinha bom gosto.
— Sim. — Soltou-lhe a mão — Tem uma antessala lá, fica perto da lavanderia. — Christine se afastou um pouco do homem, com um sorriso estampando sua face — Da pra colocar uma caminha confortável e a vasilha de comida. Mas só farei isso daqui uns dias, quando eles abrirem os olhos. — Constatou.
Ao chegarem mais próximos do móvel de onde estavam vindo alguns barulhinhos, ela abriu a porta do armário em que eles estavam. Ela havia posto um pano e agasalhado os três ali. A gatinha era manhosa e também bastante protetora. Estavam todos dormindo naquele momento, fazendo barulhinhos adoráveis. Lion olhou e notou as deformidades dos recém-nascidos, imaginou que fosse pelo fato de ser uma gata de rua.
— Já deu o nome? — Lion tocou na costa de Christine, fazendo-a levantar e virar-se.
— Porcelana. Os dois filhotes ainda não tem nome. — Disse-lhe, tocando o peito dele para se apoiar.
— Posso perguntar uma coisa? — Aproximou-se mais.
Ele encarou Christine. Olhou para ela dos pés à cabeça. Christine balançou a cabeça em sinal positivo. Ele tocou no rosto dela e ao invés de perguntar alguma coisa, se aproximou e a beijou, antes mesmo que ela pudesse fugir da situação, com medo do que poderia acontecer. Lion segurou sua cintura e a envolveu com seus braços. Ele desejava ela, precisamente aquilo, aquele beijo, desde o dia que se conheceram.
Ela arregalou os olhos. Iria afastá-lo antes que, por algum impulso, ele tirasse sua máscara, porém amoleceu ao sentir as mãos firmes em sua cintura e costa. Ela passou os braços por cima dos ombros de Lion e acabou retribuindo o beijo. Suas mãos enluvadas acariciavam as costas, ombros e braços do homem que a segurava e a beijava.
O desejo de Lion ela deitá-la no sofá e ficar sobre ela, prosseguir sem pausa em um dia e tarde inteira de sexo, porém foi parado por ela, que sabia que não seria nada daquilo que ele esperava, e ela também tinha certeza que ele não estava preparado para vê-la. Sabia que ele não suportaria olhá-la nua.
— Desculpe Lion... — Baixou a fronte, escondendo a vergonha que sentia.
— Não se preocupe com isso, não me importo se acontecer hoje ou só daqui um tempo. — Lion ergueu o rosto dela a partir de seu queixo, abrindo-lhe um encantador sorriso. Ela sorriu. Tocou o rosto dele e agradeceu mentalmente.
Lionnel iria retirar a máscara dela, estava com as mãos em seu rosto. Iria finalmente ver de verdade o rosto inteiro de Christine, então não teria mais o que esconder e finalmente tudo começaria a acontecer.
Felizmente, para a felicidade de Christine e sanidade de Lion, o celular dela tocou.
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Christine - Ela É A Fera [COMPLETO]
Chick-Lit"A mais bela não é aquela que tem beleza, Christine. A mais bela é a que possui essência, aquela que têm uma alma que vibra, que espalha a luz da simplicidade e da humildade por onde quer que vá. Você, meu amor, é a pessoa mais bela que já pude conh...