Capítulo 23

65 37 0
                                    

Chegando em casa, Marcos olhou tudo. Não era a casa de seus avós. Era outro lugar. Um apartamento barato onde ele guardava algumas coisas que não queria que ninguém visse.

Marcos tinha muitos segredos e muitos fatos sobre sua vida que ele não queria que os outros soubessem. Que melhor maneira de guardar um segredo do que escondendo tudo que diz respeito a ele em um lugar onde nem baratas querem ir por terem nojo? Pois é...

Ele estava com a boca sangrando, um corte na bochecha e algumas partes de sua cara estavam roxas. Havia levado belos socos. Tirou o moletom que estava usando, estava sujo de sangue. Jogou ele no sofá velho.

Marcos tinha uma composição física mortalmente admirável. Apesar de ter trinta e poucos, tinha músculos de um rapaz de vinte. Algumas tatuagens em suas costas e peitoral eram bastante sugestivas quanto ao seu passado obscuro. Uma delas e talvez a mais cara, era uma que estava em suas costas. Eram asas de demônio, queimadas. Na parte da frente estava outra, uma escritura abaixo de seu umbigo. "Geist". No ombro, ainda próximo ao peitoral, um dragão envolvendo uma rosa em chamas e abaixo "Kruster Versprechen". Ninguém sabia o que significava a não ser o próprio Marcos. Provavelmente o nome de alguma seita que talvez ele tenha feito parte.

Marcos era O Geist. Em seu apartamento velho haviam diversas armas, facas, espadas e tantos outros artigos em todo lugar. Dinheiro espalhado pelos móveis. Envelopes com nomes, cartas de seus fornecedores e chefes. Havia feito muitos mais trabalhos do que Diogo imaginava.

Geist era o nome que usava para "trabalhar". Era um mundo onde qualquer um pode entrar, mas quase ninguém consegue sair. É viciante e alucinante.

Marcos foi contratado pela primeira vez por um homem chamado "Diogo". E ele servia a um monastério. Era tudo o que sabia sobre o misterioso homem que só se comunicava por cartas e por celulares descartáveis e sempre números diferentes.

Quando Marcos estava perdido em sua vida, sem dinheiro algum, envolvido com pessoas que estavam lhe desgastando e lhe deixando doente esse tal misterioso lhe deu tudo que precisava para recomeçar. Voltou a trabalhar na velha mansão como jardineiro e recomeçou do zero mais uma vez.

Era jovem e nem imaginava que o que estava fazendo era errado. Ele só precisava vigiar uma moça que ele conhecia. Já tinha vinte anos e nada na vida. Era uma oportunidade única.

Então começaram a surgir os trabalhos nada convencionais. Matar quem fizesse mal a menina de algum jeito seja lá qual fosse. Proteger e zelar por ela. Ele sequer sabia os nomes daquelas pessoas, via somente fotos.

Ao mesmo tempo, ele começou a explorar a enorme mansão. Redescobriu o porão. Descobriu a verdade. Se apaixonou pela pessoa que conheceu somente através de um diário e de algumas outras coisas que haviam no quarto. Ele nunca imaginaria que era a mulher que causaria a sua desgraça e decadência naquele mercado em que exercia seus afazeres.

Literalmente estava sendo pago para se apaixonar e matar qualquer um que se aproximasse de seu amor.

Confuso, começando a enlouquecer com aquela dúvida cruel... Fugir ou ficar? Se fugisse, ela seria assassinada brutalmente. Se ficasse, seria obrigado a matar ela, porém usaria meios indolores e que não lhe causasse mais sofrimento do que ela já havia experimentado pelo mundo em si. Ele não tinha coragem para machucar a mulher por quem se apaixonou de verdade.

Marcos... O que você fez?!

Ele olhava todos os contratos que assinou. Havia matado muita gente nos últimos quinze anos de sua vida. Sempre seguindo a risca o seu dever para com seus clientes. Era bem pago. Sequer conhecia suas vítimas. Não tinha sentimento por elas. Com o dinheiro que ganhou, fez faculdade e seguiu sua vida. Quis parar, porém não conseguiu.

E agora... Era tarde demais.

Ele andava de um lado para o outro. Não conseguia pensar. Em sua mente só vinha ela, Christine. A doce, delicada, misteriosa, talentosa, inteligente, interessante e mística Christine. A mulher que roubou seu coração sem sequer saber seu nome ou existência. Sequer imaginava que estava sendo vigiada por Marcos. Que dirá a 15 anos.

Ele foi no banheiro. Lavou seu rosto e se olhou no espelho. Respirou fundo e passou a mão nos cabelos.

— O que eu fiz!? Eu não posso! Não consigo! Ela simplesmente não merece isso... Não merece... — Ele saiu e foi ao quarto. Pegou uma camisa e colocou curativos nos ferimentos. Saiu com a chave do carro em mãos.

Contaria a verdade.

Diria tudo que sabia.

Aceitaria o fato de que ela nunca o perdoaria por isso.


Diria que a ama.

Sempre amou.

Sempre irá amar.


Ele foi até a casa dela. Sabia que estava na cidade. Ele sabia seu endereço apesar de nunca ter recebido essa informação dela. Sabia quase tudo sobre ela, talvez mais do que a própria Christine pudesse contar.

Quase...

Ele saiu do carro. Caminhou até a porta. Viu pela janela que ela estava com alguém. Ele não conhecia aquele homem. Via o carinho que ela tinha. Sentiu ciúme. Tristeza. Vazio. Lágrimas escorreram.

Um barulho.

Outro carro chegou...

Dele desceu o homem que havia dado-lhe um soco mais cedo. Correu e entrou no carro, era de vidro fumê e não tinha como descobrirem que era ele, pois era um carro novo que ainda não tinha placa.

O homem estava parado em frente à porta.

Não podia permitir que Diogo tocasse em Christine. Não podia...

Ele a machucaria mais uma vez.

Sua ordem era não deixar ninguém machucá-la.

Seja lá quem fosse ou como fosse.

Ele honraria o contrato até o fim...


...Até o fim...

Christine - Ela É A Fera [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora