Capítulo 3

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        Marcelo deu uma última olhada no espelho e constatou que estava mesmo muito elegante. Era sábado e ele havia combinado de passar na casa de Mirtes para irem ao cinema.

        Já não pensava mais em acabar com o namoro. Estivera decidido, mas Mirtes tratara-o com atenção naquela semana e ele mudara de idéia.

        Olhou o relógio e saiu apressado. Uma vez na casa dela, tocou a campainha, esperando. Foi Alzira quem abriu a porta.

        - Oi, Marcelo. Como vai?

        - Bem, Alzira. E você?

        - Bem. Veio procurar Mirtes?

        - É. Combinamos ir ao cinema hoje.

       Ela hesitou, depois disse:

        - Sinto muito, Marcelo, mas ela mandou dizer que não poderá ir.

        - Aconteceu alguma coisa?

        - Ela está com tremenda dor de cabeça. Foi se deitar. Pediu que a desculpasse. Amanhã ela lhe telefona.

        Marcelo sentiu raiva, mas controlou-se. Seu rosto cobriu-se de rubor. Alzira apressou-se em dizer:

        - Sinto muito, Marcelo.

        - Ela poderia pelo menos ter me ligado, assim me pouparia de vir até aqui.

        - Tem razão. Mas sabe como Mirtes é: decide na última hora.

        - Decide o quê? Ficar doente?

        - Não é isso que eu quis dizer. Ela ficou mal de repente. Não dava para telefonar. Você já devia ter saído...

        - Está bem. Diga-lhe  que desejo melhoras. Boa Noite.

        - Boa noite.

        Alzira fechou a porta e subiu. Mirtes, diante do espelho, retocava a maquiagem.

        - Nunca mais me peça para fazer esse papel com Marcelo. Se não gosta dele, por que não acaba esse namoro de uma vez? Você o faz de bobo. Ele não merece.

        - Você deu agora para defender os mocinhos desamparados? Fique sabendo que não tenho pena de homem nenhum. Eles, quando podem, passam por cima de nossos sentimentos com facilidade.

        - Marcelo é um rapaz bom.

        - Parece. Garanto que qualquer dia vai mostrar as garras. Eu é que não vou nessa. Onde já se viu?

        - O que você está fazendo não está certo. Por que combinou com ele se não pretendia ir?

        - Eu pretendia. Mas depois apareceu aquele moreno fantástico e eu não ia perdê-lo por causa de Marcelo.

        Lembra-se de Valdo? Pode acontecer o mesmo.  Você se ilude com rapazes finos, de classe. Eles não se interessam por moças de bairro, como nós.

        - Bobagem. Um homem, quando se apaixona, casa-se com qualquer uma. Eu pretendo um casamento rico. Não quero acabar como mamãe, frustada e pobre.

        - Que exagero. Não nos falta nada.

        - Para você, que se contenta com pouco. Não eu.

        - Já pensou se Marcelo desconfia e fica vigiando a casa? Ele não ficou nada satisfeito com seu recado.

        Mirtess deu de ombros.

Tudo tem seu preçoOnde histórias criam vida. Descubra agora