Marcelo deu uma última olhada no espelho e constatou que estava mesmo muito elegante. Era sábado e ele havia combinado de passar na casa de Mirtes para irem ao cinema.
Já não pensava mais em acabar com o namoro. Estivera decidido, mas Mirtes tratara-o com atenção naquela semana e ele mudara de idéia.
Olhou o relógio e saiu apressado. Uma vez na casa dela, tocou a campainha, esperando. Foi Alzira quem abriu a porta.
- Oi, Marcelo. Como vai?
- Bem, Alzira. E você?
- Bem. Veio procurar Mirtes?
- É. Combinamos ir ao cinema hoje.
Ela hesitou, depois disse:
- Sinto muito, Marcelo, mas ela mandou dizer que não poderá ir.
- Aconteceu alguma coisa?
- Ela está com tremenda dor de cabeça. Foi se deitar. Pediu que a desculpasse. Amanhã ela lhe telefona.
Marcelo sentiu raiva, mas controlou-se. Seu rosto cobriu-se de rubor. Alzira apressou-se em dizer:
- Sinto muito, Marcelo.
- Ela poderia pelo menos ter me ligado, assim me pouparia de vir até aqui.
- Tem razão. Mas sabe como Mirtes é: decide na última hora.
- Decide o quê? Ficar doente?
- Não é isso que eu quis dizer. Ela ficou mal de repente. Não dava para telefonar. Você já devia ter saído...
- Está bem. Diga-lhe que desejo melhoras. Boa Noite.
- Boa noite.
Alzira fechou a porta e subiu. Mirtes, diante do espelho, retocava a maquiagem.
- Nunca mais me peça para fazer esse papel com Marcelo. Se não gosta dele, por que não acaba esse namoro de uma vez? Você o faz de bobo. Ele não merece.
- Você deu agora para defender os mocinhos desamparados? Fique sabendo que não tenho pena de homem nenhum. Eles, quando podem, passam por cima de nossos sentimentos com facilidade.
- Marcelo é um rapaz bom.
- Parece. Garanto que qualquer dia vai mostrar as garras. Eu é que não vou nessa. Onde já se viu?
- O que você está fazendo não está certo. Por que combinou com ele se não pretendia ir?
- Eu pretendia. Mas depois apareceu aquele moreno fantástico e eu não ia perdê-lo por causa de Marcelo.
Lembra-se de Valdo? Pode acontecer o mesmo. Você se ilude com rapazes finos, de classe. Eles não se interessam por moças de bairro, como nós.
- Bobagem. Um homem, quando se apaixona, casa-se com qualquer uma. Eu pretendo um casamento rico. Não quero acabar como mamãe, frustada e pobre.
- Que exagero. Não nos falta nada.
- Para você, que se contenta com pouco. Não eu.
- Já pensou se Marcelo desconfia e fica vigiando a casa? Ele não ficou nada satisfeito com seu recado.
Mirtess deu de ombros.