Estela entrou no centro espírita com o coração batendo forte. Apesar do medo que sentia, estava disposta a permanecer lá. Segurou no braço de Alzira com força.
- Calma, mãe! Não precisa ter medo.
- Essa coisa de falar com os mortos me deixa nervosa.
- Pois eu quando entrei aqui senti uma grande alegria.
- Por quê? Não aconteceu nada.
- Não sei, mas estou me sentindo igual a quando Dona Isaltina rezou lá em casa.
Uma senhora atendeu-as e Alzira explicou:
- Dona Isaltina nos pediu para vir.
Foram encaminhadas a uma sala onde havia algumas pessoas.
- Sentem-se e esperem. Logo serão chamadas pelo número.
A mulher entregou-lhes um cartão numerado e saiu.
Estela olhou com curiosidade para as pessoas que estavam à sua volta. Pareciam pessoas de bem.
Uma senhora de meia-idade que estava a seu lado sorriu e perguntou:
- É a primeira vez que vocês vêm aqui?
- É - respondeu Estela.
- Pois eu, faz mais de um ano.
- Tanto tempo assim?
- Meu caso era muito grave. Eu estava a ponto de enlouquecer. Bendita a hora que meu filho me trouxe. No começo eu não queria vir, mas ele me trazia à força. Depois fui melhorando e agora venho sozinha. Estou muito melhor, mas ainda estou em tratamento. Nunca mais precisei ser internada. O médico já me liberou, mas eu quero continuar vindo aqui.
A porta abriu-se e uma moça chamou um número. Era o daquela senhora. Sorrindo contente, ela atendeu prontamente. A porta fechou-se novamente e Estela comentou baixinho:
- Ela não disse qual sua doença.
- Acho que sofria dos nervos.
- Ela me pareceu bem calma.
- Agora. Não a conhecemos antes.
Quando chegou a vez delas, entraram na sala. Uma moça atendeu-as, fazendo-as sentar em frente à sua mesa.
- Meu nome é Anita. Sejam bem-vindas.
Preencheu uma ficha com nome e endereço de ambas, depois perguntou o motivo da visita.
Alzira relatou o que havia acontecido. Anita ouviu com atenção. Quando terminou, ficou alguns instantes pensativa. Depois começou a falar:
- Vocês estão atravessando um período difícil. Vão precisar de firmeza e otimismo. As queixas contribuem para piorar um situação que está conturbada.
Estela remexeu-se na cadeira e não se conteve:
- Você diz isso porque não está em meu lugar. Como posso ser otimista se meu marido está desempregado, o dinheiro está acabando? Nem sei se a amanhã teremos como comprar o que comer.
As lágrimas desciam pelo seu rosto e ela, embora tentasse, não conseguia controlar-se.
- Chorara é um direito seu. Ponha para fora toda a sua angústia. Desabafe. Você vem engolindo a raiva há anos. Sua insatisfação é antiga. O fato de seu marido estar desempregado foi a gota d'água. Você nunca se sentiu feliz.