Capítulo 11

865 26 2
                                    

Estela entrou no centro espírita com o coração batendo forte. Apesar do medo que sentia, estava disposta a permanecer lá. Segurou no braço de Alzira com força.

        - Calma, mãe! Não precisa ter medo.

        - Essa coisa de falar com os mortos me deixa nervosa.

        - Pois eu quando entrei aqui senti uma grande alegria.

        - Por quê? Não aconteceu nada.

        - Não sei, mas estou me sentindo igual a quando Dona Isaltina rezou lá em casa.

        Uma senhora atendeu-as e Alzira explicou:

        - Dona Isaltina nos pediu para vir.

        Foram encaminhadas a uma sala onde havia algumas pessoas.

        - Sentem-se e esperem. Logo serão chamadas pelo número.

        A mulher entregou-lhes um cartão numerado e saiu.

        Estela olhou com curiosidade para as pessoas que estavam à sua volta. Pareciam pessoas de bem.

        Uma senhora de meia-idade que estava a seu lado sorriu e perguntou:

        - É a primeira vez que vocês vêm aqui?

        - É - respondeu Estela.

        - Pois eu, faz mais de um ano.

        - Tanto tempo assim?

        - Meu caso era muito grave. Eu estava a ponto de enlouquecer. Bendita a hora que meu filho me trouxe. No começo eu  não queria vir, mas ele me trazia à força. Depois fui melhorando e agora venho sozinha. Estou muito melhor, mas ainda estou em tratamento. Nunca mais precisei ser internada. O médico já me liberou, mas eu quero continuar vindo aqui.

        A porta abriu-se e uma moça chamou um número. Era o daquela senhora. Sorrindo contente, ela atendeu prontamente. A porta fechou-se novamente e Estela comentou baixinho:

        - Ela não disse qual sua doença.

        - Acho que sofria dos nervos.

        - Ela me pareceu bem calma.

        - Agora. Não a conhecemos antes.

        Quando chegou a vez delas, entraram na sala. Uma moça atendeu-as, fazendo-as sentar em frente à sua mesa.

        - Meu nome é Anita. Sejam bem-vindas.

     Preencheu uma ficha com nome e endereço de ambas, depois perguntou o motivo da visita.

        Alzira relatou o que havia acontecido. Anita ouviu com atenção. Quando terminou, ficou alguns instantes pensativa. Depois começou a falar:

        - Vocês estão atravessando um período difícil. Vão precisar de firmeza e otimismo. As queixas contribuem para piorar um situação que está conturbada.

        Estela remexeu-se na cadeira e não se conteve:

        - Você diz isso porque não está em meu lugar. Como posso ser otimista se meu marido está desempregado, o dinheiro está acabando? Nem sei se a amanhã teremos como comprar  o que comer.

        As lágrimas desciam pelo seu rosto e ela, embora tentasse, não conseguia controlar-se.

        - Chorara é um direito seu. Ponha para fora toda a sua angústia. Desabafe. Você vem engolindo a raiva há anos. Sua insatisfação é antiga. O fato de seu marido estar desempregado foi a gota d'água. Você nunca se sentiu feliz.

Tudo tem seu preçoOnde histórias criam vida. Descubra agora