Jairo procurou Eli preocupado.
- Você sabe onde está Mirtes?
- Não estava com você?
- Não. Ela disse que ia ficar alguns dias perto do marido para evitar que ele voltasse àquele centro espírita. Como tenho novidades, fui procurá-la. Mas, assim que entrei na casa, encontrei uma mulher que me mandou sair.
- E você obedeceu?
- Não tive outro jeito. Ela trabalha para a luz. Não quero nada com eles. Têm poder para acabar com nossa liberdade.
- Vai ver que Mirtes fez como você.
- Não sei, não. Ela é novata e briguenta. Pode bem ter discutido com eles.
- Nesse caso...
- Eles a levaram. Sei como é isso.
- E agora, como ficamos? Ela estava nos ajudando.
- Vamos esperar. Poso estar enganada. Ma tenho novidades: meu trabalho com Sobral está dando certo.
- Que bom!
- Conforme combinamos, trabalhei duro e consegui afastar todos os clientes dele. Ele ficou desesperado.
- Ele ganhou muito dinheiro.
- Mas gastou tudo. Claro que eu o ajudei - disse ele rindo.
- E então?
- Está sem nada, devendo, sendo cobrado. Se não pagar o aluguel, será despejado.
- Então você o inspirou a chantagear meu marido. Ele está muito nervoso com essa história. Quando ele dorme, sai do corpo e eu estou por perto para cobrar o que me deve.
- Isso mesmo. Sobral ameaça dizendo que é Dinho que está pedindo dinheiro. É mentira, claro.
- Você vai voltar para o lado dele, vigiá-lo e me contar tudo que acontecer. Nossa vingança está chegando. Eles vão pagar.
Eli concordou e voltou para a casa do marido.Naquela mesma noite Sobral foi procurar Alberto. Este o conduziu ao escritório, fechando a porta em seguida.
- Você está facilitando. Não deveria me procurar em casa.
- É urgente. Dinho não quer esperar mais. Diz que precisa sumir do país. Tenho medo do que ele possa fazer.
Alberto pensou um pouco, depois disse:
- Como eu lhe disse, minha situação financeira não é boa. Para ser mais exato, estou arruinado.
- Nesse caso, não vou poder fazer nada por você. Ele já fala que vai apagar quem se recusar a ajudá-lo.
- Eu tenho uma solução. Se você toparem, tudo dará certo.
- Fale.
- Bem, talvez você não saiba, mas o dinheiro que tenho era de minha mulher. Ela era muito rica. Mas o irmão dela entrou na justiça alegando que nos casamos com separação parcial de bens e que eu não tenho direito a nada, uma vez qe ela já possuía esses bens antes do casamento. Eu ignorava essa lei, mas, desde que o processo foi abeto, tudo foi bloqueado. Não posso vender nada e ainda estou arriscado a perder tudo que tenho.
- E seu advogado, o que diz?
- Que vou perder. Mas esse meu cunhado é o único parente vivo de Eli. Se ele for vítima de um assalto ou sofrer um acidente, tudo se resolverá.
- É muito perigoso. A polícia vai desconfiar de você. Será preso com certeza.
- Sei como fazer. Não corro esse risco. Se Dinho acabar com ele, logo terei muito dinheiro e os recompensarei regiamente.
Sobral pensou um pouco e perguntou:
- Tenho certeza de que não desconfiarão de você?
- Absoluta. Eu não iria fazer isso se houvesse risco. Fique tranqüilo.
- Nesse caso, vou falar com ele. Preciso pelo menos de dinheiro para a viagem.
- Isso posso arrumar.
Tudo combinado, Sobral foi embora.
Eli imediatamente procurou Jairo e contou-lhe tudo. Ele ouviu com interesse e, quando ela terminou, perguntou:
- O que Alberto disse é verdade?
- Qual nada! Eu tenho mesmo um irmão, mas ele nunca entrou na justiça contra Alberto. É golpe dele. Está armando uma para se livrar dos dois.
- Ele vai trabalhar para nós sem querer. Vamos acompanhar tudo e agiremos na hora certa.
-Soube alguma coisa de Mirtes?
- Sim. Ela sumiu de circulação. Foi mesmo levada pelos seres de luz.
- Nesse caso, não podemos mais contar com ela.
- É melhor voltar para lá e continuar vigiando Alberto. Não podemos perder nenhum detalhe.
Ela obedeceu imediatamente. Quando chegou ao lado do marido, esforçou-se para ligar-se com o pensamento dele.
- Aqueles safados não perdem por esperar. Vou me livrar deles de uma vez! Quando for a hora, a polícia vai entrar em ação.
Três dias depois, Sobral voltou à casa de Alberto. Uma vez no escritório, informou:
- Dinho topou. Mas desta vez quer quinhentos mil.
- Se ele conseguir, terei mais do que isso.
- Eu também quero mais. Estou precisando.
- Duzentos mil. É mais do que você espera.
Os olhos de Sobral brilharam satisfeitos.
- Está bem.
- Pata quando será?
- Ele virá amanhã. Como sempre, ficará de campana algum tempo para estudar os passos do homem. Quando achar que é o momento, fará o serviço. Você sabe como ele trabalha.
- Está bem. Espero que ele faça tudo certo.
- Trabalho garantido.
Depois que Sobral foi embora, Alberto pegou o telefone. Eli observava atenta.
- Alô, quero falar com o detetive Roque.
- Roque falando.
- Aqui é Alberto Camargo Lira. O senhor não me conhece pessoalmente, mas talvez já tenha ouvido falar de mim. Preciso muito conversar com o senhor.
- Pode vir até aqui?
- O assunto é urgente, sigilo e muito perigoso. Gostaria de encontrá-lo em um lugar discreto.
- Onde, então?
Alberto deu-lhe o endereço de sua casa. Pediu que ele tomasse cuidado para não ser seguido e entrasse pela porta dos fundos.
- Irei imediatamente.
Quinze minutos depois, Alberto estava à espera no portão dos fundos. O carro parou e desceram dois homens, um de meia-idade e outro mais jovem. Alberto fê-los entrar imediatamente. Levou-os a seu escritório e fechou a porta. Depois dos cumprimentos, Roque, o mais velho, perguntou:
- E então? Do que se trata?
- De chantagem. Estou sendo ameaçado de morte e não sei a quem recorrer. Lembrei-me do senhor porque já ouvi dos meus amigos referências elogiosas a seu respeito. Estou apavorado.
- Conte-me tudo. Quem o está chantageando?
- Um detetive particular chamado Sobral.
Os dois policiais entreolharam-se curiosos. Havia muito tempo suspeitavam que Sobral estivesse envolvido em coisa ilícitas.
- Continue - pediu Roque.
- Bem, minha adorada esposa morreu em um acidente de carro. Depois que fiquei viúvo, tive um caso com uma senhora casada. O marido desconfiou e contratou Sobral para nos seguir. Ele logo descobriu nosso caso, mas, ao invés de revelar tudo ao marido que o contratou, procurou-me dizendo que , se eu estivesse mesmo apaixonado por ela, ele poderia livrar-me dele. Sobral tinha um amigo que morava no estado do Mato Grosso e que por bom dinheiro poderia "apagar" meu rival, e assim nosso caminho estaria livre. Se eu recusasse essa proposta, ele iria ao marido e contaria tudo. Fiquei apavorado. Na ocasião eu deveria ter procurado a polícia, mas tive medo.
- Sei. E por que nos procurou agora?
- Bem, eu procurei ganhar tempo. Paguei o que ele me pediu para manter silêncio sobre o caso e fiquei de dar uma resposta quando ao restante. Claro que eu não ia aceitar. Sou um homem de sociedade, muito conhecido. Tive medo do escândalo e também da ameaça de morte. Mas há um segredo que preciso contar-lhes.
- Fale.
- É que a mulher com a qual eu mantinha relações era minha cunhada. O marido é o irmão da minha falecida esposa.
O policial coçou a cabeça e comentou:
- O senhor conseguiu se enrolar.
- Sabe como é: eu estava muito triste depois da morte de minha mulher, muito sozinho, ela tentou me consolar e aconteceu. Hoje à tarde Sobral veio aqui e deu-me um ultimato. Disse que amanhã Dinho, o tal assassino, chegará a São Paulo. Quer o dinheiro de qualquer maneira. Se eu der, ele acaba com meu cunhado; se recusar, acaba comigo. Preciso de ajuda. Por isso liguei para o senhor.
Roque pensou um pouco, depois disse:
- O senhor fará o seguinte: liguei para Sobral e diga que dará o dinheiro para ele acabar com seu cunhado. Nós tomaremos conta do caso. Deixarei dois homens aqui para protegê-lo. Preciso do endereço de seu cunhado.
- Ele não pode saber. É muito ciumento. Será uma tragédia. Depois, apesar de tudo, eu o estimo e não desejo que nada de mau lhe aconteça. Estou muito arrependido do que fiz. Eu e ela decidimos nunca mais nos encontrar. O caso acabou.
- Não se preocupe. Diremos a ele que recebemos uma denúncia anônima. Vamos prender esse matador. Aja normalmente e fique atento. Avise-nos se souber de qualquer coisa.
- O senhor nunca viu esse matador? - indagou o outro policial.
- Não. Sobral disse-me que ele não se mostra para ninguém. É contratado, vem, faz o serviço e volta sem ser visto.
- Como Sobral faz o contato? - indagou Roque.
- Ele vai até o Mato Grosso, onde ele mora. É só o que sei.
- Eu vou embora e Lopes ficará aqui enquanto providencio sua segurança. O senhor teve a atitude mais acertada. Se todos agissem assim, esses bandidos não lesariam tanta gente.
Roque voltou à sede da polícia, reuniu dois colegas e juntos traçaram um plano de ação.
- Vamos trabalhar na surdina. Ninguém pode saber nossos planos. Cuidado com os jornalistas.
- Pode deixar. Sei como driblá-los - disse um deles.
- Vamos vigiar Sobral. Ele poderá nos levar ao homem - sugeriu o outro. Roque pensou um pouco e respondeu:
- Eles combinaram tudo e certamente o matador já tem todas as informações de que necessita. Vai agir e ir embora. Eles não vão se encontrar. Não iriam se expor assim. Tenho uma idéia melhor. Esta noite vamos visitar o escritório de Sobral. Algo me diz que será revelador.
O espírito de Jairo, que os ouvia e fazia sugestões AIS ouvidos de Roque, sorriu satisfeito. Era isso que ele queria.
- Isso não irá alertá-lo? Os pássaros poderão voar.
- Se encontrarmos o que espero, ele não terá tempo para mais nada.
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