Capítulo 24

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     Jairo procurou Eli preocupado.
     - Você sabe onde está Mirtes?
     - Não estava com você?
     - Não. Ela disse que ia ficar alguns dias perto do marido para evitar que ele voltasse àquele centro espírita. Como tenho novidades, fui procurá-la. Mas, assim que entrei na casa, encontrei uma mulher que me mandou sair.
     - E você obedeceu?
     - Não tive outro jeito. Ela trabalha para a luz. Não quero nada com eles. Têm poder para acabar com nossa liberdade.
     - Vai ver que Mirtes fez como você.
      - Não sei, não. Ela é novata e briguenta. Pode bem ter discutido com eles.
     - Nesse caso...
     - Eles a levaram. Sei como é isso.
     - E agora, como ficamos? Ela estava nos ajudando.
     - Vamos esperar. Poso estar enganada. Ma tenho novidades: meu trabalho com Sobral está dando certo.
     - Que bom!
     - Conforme combinamos, trabalhei duro e consegui afastar todos os clientes dele. Ele ficou desesperado.
     - Ele ganhou muito dinheiro.
     - Mas gastou tudo. Claro que eu o ajudei - disse ele rindo.
     - E então?
     - Está sem nada, devendo, sendo cobrado. Se não  pagar o aluguel, será despejado.
     - Então você o inspirou a chantagear meu marido. Ele está muito nervoso com essa história. Quando ele dorme, sai do corpo e eu estou por perto para cobrar o que me deve.
     - Isso mesmo. Sobral ameaça dizendo que é Dinho que está pedindo dinheiro. É mentira, claro.
     - Você vai voltar para o lado dele, vigiá-lo e me contar tudo que acontecer. Nossa vingança está chegando. Eles vão pagar.
     Eli concordou e voltou para a casa do marido.

     Naquela mesma noite Sobral foi procurar Alberto. Este o conduziu ao escritório, fechando a porta em seguida.
     - Você está facilitando. Não deveria me procurar em casa.
     - É urgente. Dinho não quer esperar mais. Diz que precisa sumir do país. Tenho medo do que ele possa fazer.
     Alberto pensou um pouco, depois disse:
     - Como eu lhe disse, minha situação financeira não é boa. Para ser mais exato, estou arruinado.
     - Nesse caso, não vou poder fazer nada por você. Ele já fala que vai apagar quem se recusar a ajudá-lo.
     - Eu tenho uma solução. Se você toparem, tudo dará certo.
     - Fale.
     - Bem, talvez você não saiba, mas o dinheiro que tenho era de minha mulher. Ela era muito rica. Mas o irmão dela entrou na justiça alegando que nos casamos com separação parcial de bens e que eu não tenho direito a nada, uma vez qe ela já possuía esses bens antes do casamento. Eu ignorava essa lei, mas, desde que o processo foi abeto, tudo foi bloqueado. Não posso vender nada e ainda estou arriscado a perder tudo que tenho.
     - E seu advogado, o que diz?
     - Que vou perder. Mas esse meu cunhado é o único parente vivo de Eli. Se ele for vítima de um assalto ou sofrer um acidente, tudo se resolverá.
     - É muito perigoso. A polícia vai desconfiar de você. Será preso com certeza.
     - Sei como fazer. Não corro esse risco. Se Dinho acabar com ele, logo terei muito dinheiro e os recompensarei regiamente.
     Sobral pensou um pouco e perguntou:
     - Tenho certeza de que não desconfiarão de você?
     - Absoluta. Eu não iria fazer isso se houvesse risco. Fique tranqüilo.
     - Nesse caso, vou falar com ele. Preciso pelo menos de dinheiro para a viagem.
     - Isso posso arrumar.
     Tudo combinado, Sobral foi embora.
     Eli imediatamente procurou Jairo e contou-lhe tudo. Ele ouviu com interesse e, quando ela terminou, perguntou:
     - O que Alberto disse é verdade?
     - Qual nada! Eu tenho mesmo um irmão, mas ele nunca entrou na justiça contra Alberto. É golpe dele. Está armando uma para se livrar dos dois.
     - Ele vai trabalhar para nós sem querer. Vamos acompanhar tudo e agiremos na hora certa.
     -Soube alguma coisa de Mirtes?
     - Sim. Ela sumiu de circulação. Foi mesmo levada pelos seres de luz.
     - Nesse caso, não podemos mais contar com ela.
     - É melhor voltar para lá e continuar vigiando Alberto. Não podemos perder nenhum detalhe.
     Ela obedeceu imediatamente. Quando chegou ao lado do marido, esforçou-se para ligar-se com o pensamento dele.
     - Aqueles safados não perdem por esperar. Vou me livrar deles de uma vez! Quando for a hora, a polícia vai entrar em ação.
     Três dias depois, Sobral voltou à casa de Alberto. Uma vez no escritório, informou:
     - Dinho topou. Mas desta vez quer quinhentos mil.
     - Se ele conseguir, terei mais do que isso.
     - Eu também quero mais. Estou precisando.
     - Duzentos mil. É mais do que você espera.
     Os olhos de Sobral brilharam satisfeitos.
     - Está bem.
     - Pata quando será?
     - Ele virá amanhã. Como sempre, ficará de campana algum tempo para estudar os passos do homem. Quando achar que é o momento, fará o serviço. Você sabe como ele trabalha.
     - Está bem. Espero que ele faça tudo certo.
     - Trabalho garantido.
    Depois que Sobral foi embora, Alberto pegou o telefone. Eli observava atenta.
     - Alô, quero falar com o detetive Roque.
     - Roque falando.
     - Aqui é Alberto Camargo Lira. O senhor não me conhece pessoalmente, mas talvez já tenha ouvido falar de mim. Preciso muito conversar com o senhor.
     - Pode vir até aqui?
     - O assunto é urgente, sigilo e muito perigoso. Gostaria de encontrá-lo em um lugar discreto.
     - Onde, então?
     Alberto deu-lhe o endereço de sua casa. Pediu que ele tomasse cuidado para não ser seguido e entrasse pela porta dos fundos.
     - Irei imediatamente.
     Quinze minutos depois, Alberto estava à espera no portão dos fundos. O carro parou e desceram dois homens, um de meia-idade e outro mais jovem. Alberto fê-los  entrar imediatamente. Levou-os a seu escritório e fechou a porta. Depois dos cumprimentos, Roque, o mais velho, perguntou:
     - E então? Do que se trata?
     - De chantagem. Estou sendo ameaçado de morte e não sei a quem recorrer. Lembrei-me do senhor porque já ouvi dos meus amigos referências elogiosas a seu respeito. Estou apavorado.
     - Conte-me tudo. Quem o está chantageando?
     - Um detetive particular chamado Sobral.
     Os dois policiais entreolharam-se curiosos. Havia muito tempo suspeitavam que Sobral estivesse envolvido em coisa ilícitas.
     - Continue - pediu Roque.
     - Bem, minha adorada esposa morreu em um acidente de carro. Depois que fiquei viúvo, tive um caso com uma senhora casada. O marido desconfiou e contratou Sobral para nos seguir. Ele logo descobriu nosso caso, mas, ao invés de revelar tudo ao marido que o contratou, procurou-me dizendo que , se eu estivesse mesmo apaixonado por ela, ele poderia livrar-me dele. Sobral tinha um amigo que morava no estado do Mato Grosso e que por bom dinheiro poderia "apagar" meu rival, e assim nosso caminho estaria livre. Se eu recusasse essa proposta, ele iria ao marido e contaria tudo. Fiquei apavorado. Na ocasião eu deveria ter procurado a polícia, mas tive medo.
     - Sei. E por que nos procurou agora?
     - Bem, eu procurei ganhar tempo. Paguei o que ele me pediu para manter silêncio sobre o caso e fiquei de dar uma resposta quando ao restante. Claro que eu não ia aceitar. Sou um homem de sociedade, muito conhecido. Tive medo do escândalo e também da ameaça de morte. Mas há um segredo que preciso contar-lhes.
     - Fale.
     - É que a mulher com a qual eu mantinha relações era minha cunhada. O marido é o irmão da minha falecida esposa.
     O policial coçou a cabeça e comentou:
     - O senhor conseguiu se enrolar.
     - Sabe como é: eu estava muito triste depois da morte  de minha mulher, muito sozinho, ela tentou me consolar e aconteceu. Hoje à tarde Sobral veio aqui e deu-me um ultimato. Disse que amanhã Dinho, o tal assassino, chegará a São Paulo. Quer o dinheiro de qualquer maneira. Se eu der, ele acaba com meu cunhado; se recusar, acaba comigo. Preciso de ajuda. Por isso liguei para o senhor.
     Roque pensou um pouco, depois disse:
     - O senhor fará o seguinte: liguei para Sobral e diga que dará o dinheiro para ele acabar com seu cunhado. Nós tomaremos conta do caso. Deixarei dois homens aqui para protegê-lo. Preciso do endereço de seu cunhado.
     - Ele não pode saber. É muito ciumento. Será uma tragédia. Depois, apesar de tudo, eu o estimo e não desejo que nada de mau lhe aconteça. Estou muito arrependido do que fiz. Eu e ela decidimos nunca mais nos encontrar. O caso acabou.
     - Não se preocupe. Diremos a ele que recebemos uma denúncia anônima. Vamos prender esse matador. Aja normalmente e fique atento. Avise-nos se souber de qualquer coisa.
     - O senhor nunca viu esse matador? - indagou o outro policial.
     - Não. Sobral disse-me que ele não se mostra para ninguém. É contratado, vem, faz o serviço e volta sem ser visto.
     - Como Sobral faz o contato?  - indagou Roque.
     - Ele vai até o Mato Grosso, onde ele mora. É só o que sei.
     - Eu vou embora e Lopes ficará aqui enquanto providencio sua segurança. O senhor teve a atitude mais acertada. Se todos agissem assim, esses bandidos não lesariam tanta gente.
     Roque voltou à sede da polícia, reuniu dois colegas e juntos traçaram um plano de ação.
     - Vamos trabalhar na surdina. Ninguém pode saber nossos planos. Cuidado com os jornalistas.
     - Pode deixar. Sei como driblá-los - disse um deles.
     - Vamos vigiar Sobral. Ele poderá nos levar ao homem - sugeriu o outro. Roque pensou um pouco e respondeu:
     - Eles combinaram tudo e certamente o matador  já tem todas as informações de que necessita. Vai agir e ir embora. Eles não vão se encontrar. Não iriam se expor assim. Tenho uma idéia melhor. Esta noite vamos visitar o escritório de Sobral. Algo me diz que será revelador.
     O espírito de Jairo, que os ouvia e fazia sugestões AIS ouvidos de Roque, sorriu satisfeito. Era isso que ele queria.
     - Isso não irá alertá-lo? Os pássaros poderão voar.
     - Se encontrarmos o que espero, ele não terá tempo para mais nada.

Tudo tem seu preçoOnde histórias criam vida. Descubra agora