Capítulo 7

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        Mirtes levantou-se de sua cama e atirou a revista de lado. Estava aborrecida. A tarde já ia findando e nada de interessante havia  para fazer. Entediada, ela se olhou no espelho. Precisava arrumar-se, sair, ver se arranjava um namorado novo.

        Nos últimos tempos não havia tido muita sorte. Nada dava certo. Como sair daquela apatia? Pensou em Marcelo. Fazia dois meses que não o via. O que estaria fazendo? Nunca ficara tanto tempo sem a procurar. Teria arranjado outra? Ele era bonito e fácil de manejar. Se fosse rico, não hesitaria em casar-se com ele. Ele ganhava bem, mas ela desejava mais. Queria ter muito dinheiro, comprar jóais,  viajar pelo mundo,  desfrutar de luxo e conforto, gastar à vontade.

        Olhou-se no espelho e deu uma volta, observando seu corpo bem-feito. Seus olhos brilharam de satisfação. Era bonita! Podia desejar tudo. Atraía a atenção onde passava, gostava de aventuras, mas nada que pudesse ferir sua reputação.

        Pretendia um marido rico. Se ao menos tivesse dinheiro para frequentar altas rodas! Seu pai era contador de uma empresa de porte médio. Ganhava o suficiente para manter a família com conforto mas sem luxo. Havia comprado o sobradinho em que morava e sentia-se satisfeito com a vida modesta que levavam.

        Várias vezes Mirtes tentara induzi-lo a procurar um melhor, sem resultado. Por fim ela entendeu que, se quisesse ser rica, deveria agir por conta própria.

        Gostava de Marcelo. Era bonito e fazia boa figura. Era boa companhia também. Notava os olhares de inveja das garotas quando saíam. Mas para casar ele não lhe servia.

        "Se ele aparecesse hoje, eu até sairia", pensou:

        Abriu a bolsa e procurou a carteira. Estava vazia. Sentou-se na cama irritada.

        Alzira entrou no quarto ela aproveitou para dizer:

        - Preciso de dinheiro. Quanto você tem?

        - Nada - respondeu a irmã.

        Ela sabia que Mirtes gastava tudo e nunca devolvia. Alzira estava economizando para um curso que pretendia fazer.

        - Não acredito. Você não costuma gastar nada. Guarda até os centavos. Estou precisando.

        - Lamento, mas não tenho nada. Mamãe disse para você tomar banho logo porque papai está para chegar e não gosta de esperar pelo jantar.

        - Ele tem mania de andar com o relógio na mão. Nunca vi ninguém tão metódico.

        - Cada um é do jeito que é.

        - Não sei como mamãe aguenta. Se fosse comigo...

        Alzira não respondeu. Sentiu vontade de dizer que ela, sim, andava insuportável, mas preferiu calar-se. Não gostava de discutir.

        Mirtes foi tomar banho e demorou o mais que pôde. Precisava cuidar de sua beleza.

        Quando desceu, uma hora depois, recendendo o perfume e muito bem maquiada, foi à sala de jantar esperando as reclamações costumeiras. Não encontrou ninguém.

        Ouviu vozes na sala de estar, mas as portas estavam fechadas. Alzira apareceu na porta da cozinha e Mirtes indagou:

        - Aconteceu alguma coisa? Eles estão fechados na sala.

        - Não sei. Papai chegou, chamou mamãe e fecharam-se lá. Faz meia hora que estão conversando.

        - E você não quis saber o que aconteceu?

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